Imagine ficar refém de criminosos por mais de 24 horas, trancado dentro de um porta-malas enquanto o veículo roda pela Grande Vitória? Um motorista de aplicativo de 40 anos viveu esse terror da noite de terça-feira (4) até a madrugada desta quinta-feira (6), quando finalmente foi liberado, na Rodovia do Contorno, em Cariacica. Para a família dele, que ficou sem notícias, esse período foi de muita angústia e desespero.
A repórter Priciele Venturini, da TV Gazeta, conversou com a esposa da vítima. Ela contou que o marido trabalha como motorista de aplicativo há dois anos, mas tinha parado há dois meses justamente por medo de assaltos. Ele ficou trabalhando com entregas mas, após ficar internado, resolveu voltar com as corridas.
Por volta das 15h de terça-feira (4) ele saiu. Às 18h, pegou três passageiros em São Pedro, Vitória, com destino a Cariacica. Chegando perto da região de Vila Capixaba, o trio anunciou o assalto.
Nesse período, os bandidos foram fazendo transferências bancárias, "limpando a conta" da vítima.
Em casa, a esposa foi ficando preocupada, já que o motorista não costumava chegar muito tarde. Por volta das 21h ela começou a ligar para o telefone dele, que já estava desligado. "Ali eu já achei estranho, porque se ele estivesse trabalhando no aplicativo o telefone estaria ligado, e se ele não estivesse trabalhando ele já teria voltado para casa, não era costume dele ficar na rua sem estar trabalhando", detalhou.
Ela foi procurar ajuda da Polícia Militar, que conseguiu localizar o veículo pelo cerco eletrônico. "Informaram que o carro estava indo de Vitória para Cariacica pela Segunda Ponte, já era depois das 22h, só que disseram que não podiam fazer nada porque ainda não tinha dado as 24 horas de desaparecido", disse.
A mulher foi a duas delegacias regionais, mas, segundo ela, também não conseguiu registrar o boletim, por ainda não ter completado as 24 horas.
Questionada sobre isso, a Polícia Civil afirmou que "não é necessário aguardar 24 horas para efetuar o registro, sendo fundamental a atenção às mudanças na rotina do desaparecido para orientar a decisão dos familiares quanto ao registro do desaparecimento". Disse, ainda, que "todos os policiais passam por treinamento para que a orientação seja a melhor possível. Porém, equívocos podem ocorrer. Para isso, o cidadão que se sentir prejudicado em qualquer atendimento tem à disposição a Corregedoria da Instituição. Um registro pode ser feito, para que o fato seja devidamente apurado".
A esposa da vítima só conseguiu registrar o boletim de ocorrência na manhã de quarta-feira (5), e passou todo o dia aguardando por notícias. "Aquela agonia de você estar em casa, impotente. Ver sua filha chorando, saber que seu marido saiu de casa doente para trabalhar para trazer o sustento e acontecer isso. Foi a pior sensação da minha vida", desabafou.
Por volta de 1h50 da madrugada de quinta-feira (6), a ligação mais esperada por ela chegou: era o marido, dizendo que estava na Delegacia Regional de Cariacica. Ele contou que foi liberado pelos bandidos na Rodovia do Contorno e foi andando até a unidade policial, onde pediu ajuda.
Ele estava com alguns ferimentos, já que levou coronhadas dos criminosos. "Cheguei lá e ele estava muito nervoso, com a camisa rasgada porque na hora que tiraram ele do porta-malas jogaram ele no chão, e aí ele só pensou em correr, porque ele achou que iam matar ele. Ele estava muito nervoso."
O carro ainda não foi localizado, mas agora, o sentimento da família é de alívio por ter o motorista em casa. Em nota, a Polícia Civil ressaltou que "as investigações relacionadas ao caso seguem em andamento. A PCES ressalta que, em casos de desaparecimento, é essencial realizar o registro por meio de um Boletim de Ocorrência, seja em qualquer delegacia ou utilizando a plataforma da Delegacia Online".
De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), em 2024, até o final do mês de maio, foram registradas 155 ocorrências envolvendo furto e roubo a motoristas de aplicativo. Em todo o ano de 2023, foram 413 casos.
*Com informações da repórter Priciele Venturini, da TV Gazeta
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