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Motoristas de aplicativos relatam até 7 assaltos por dia no ES

Motoristas de aplicativos relatam até 7 assaltos por dia no ES

O assassinato de Amarildo Freire em Guarapari nesta semana é parte da estatística diária que os profissionais da categoria lidam no Estado. Associação cobra ações das empresas que dificultem o cadastro de perfis falsos de passageiros

Publicado em 26 de março de 2021 às 08:54- Atualizado há 3 anos

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Motoristas de aplicativos fazem protesto pedindo reajuste nas tarifas, em Vitória
Nos últimos dias, motoristas de aplicativos protestaram com uma carreata pelas ruas da Grande Vitória em busca de mais segurança para trabalhar. (Ricardo Medeiros)

Nesta semana o Espírito Santo contou com mais um assassinato brutal de motorista de aplicativo enquanto trabalhava. Amarildo Amaro Freire, de 57 anos, foi morto na última segunda-feira (22), em Guarapari, após receber um pedido de corrida feito por um criminoso que se passava por cliente. Ele foi morto com um tiro na cabeça após ser torturado e espancado pelo trio de criminosos, que já foi preso pela polícia.

A morte trágica dele faz parte da média diária que os profissionais da categoria lidam no dia a dia no Estado, mais especificamente na Grande Vitória, região que concentra o maior número de trabalhadores. Segundo o presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo, Luis Fernando Muller, diariamente são entre 5 a 7 assaltos ocorridos. Os números deixam preocupados todos que precisam trabalhar nessa função.

"Infelizmente perdemos mais um companheiro, o Amarildo, que foi morto de uma maneira tão pesada. Ele é mais uma vítima da insegurança que envolve nossa profissão aqui na Grande Vitória. Todos os dias, nos grupos dos próprios motoristas, nós registramos até 7 assaltos a motoristas. Dificilmente passamos um dia sem algum trabalhador relatar ter sido assaltado. E geralmente, sempre por passageiros com perfis falsos", explicou Luis Fernando Muller.

INSEGURANÇA

De acordo com o presidente da Associação, o maior questionamento da categoria é em relação à facilidade com que criminosos conseguem realizar cadastros para se passarem por passageiros. Somente no Espírito santo são cerca de 19 mil motoristas de aplicativos cadastrados nas empresas que atuam no Estado.

Guarapari
Amarildo Amaro Freire era motorista de aplicativo. Ele foi morto e espancado após ser assaltado em Guarapari. (Arquivo pessoal)

"Para a gente se cadastrar, as operadoras puxam nossa ficha de antecedentes criminais, se temos infrações de trânsito, além de toda uma verificação de dados pessoais. Isso é excelente, pois evita que golpistas atuem e coloquem em risco as pessoas transportadas. Só que não ocorre do outro lado da ponta. Qualquer pessoa pode colocar dados falsos no cadastro feito no aplicativo e vai ser aceito. O que nós pedimos para as empresas é que melhorem neste sentido. Não é garantia de que não seremos assaltados, mas é uma forma de reforçar nossa segurança e consequentemente melhorar o serviço", explicou.

Segundo Muller, no final de 2019, em uma pesquisa feita por eles próprios com cerca de 400 profissionais e que serviu para embasar a reivindicação da categoria junto à frente parlamentar em defesa dos motoristas de aplicativos na Assembleia Legislativa e na Delegacia de Crimes Cibernéticos, dos 69% dos trabalhadores que responderam já terem sido assaltados, 74% foram assaltos praticados por passageiros utilizando um perfil falso. Ou seja, a pessoa que chama a corrida não condiz com a que embarca, e geralmente chamam para pagar em dinheiro.

Esse cenário, segundo ele, representa o comportamento padrão do criminoso que pratica este tipo de crime. Por conta disto, os próprios motoristas agem por conta própria em busca de mais segurança. O resultado disso, afirma Luiz Fernando, é que muitos usuários de bem não conseguem uma corrida.

"O que a gente faz é conversar nos nossos grupos e alertar sobre os bairros mais perigosos, evitamos aceitar corrida em dinheiro e evitamos circular em horários de menos movimento. Mas é uma situação delicada, pois o criminoso é está sempre à frente. Eles colocam foto de mulheres, pessoas idosas, com filhos para se passarem por um passageiro normal, aí quando o motorista chega ao local se depara com uma pessoa armada e não pode reagir. Para não correr este risco, deixamos de pegar corrida onde achamos ser mais perigoso e quem sai mais prejudicado é aquela pessoa que de fato precisa do nosso serviço", ponderou.

19 mil
Esse é o número aproximado de motoristas de aplicativos no Espírito Santo

A reportagem de A Gazeta entrou em contato com a Uber e a 99, principais empresas de transporte por aplicativos atuantes na Região Metropolitana do Estado, em busca de respostas relacionadas ao cenário da categoria no Espírito Santo e para saber o que é feito para melhorar a segurança dos colaboradores. 

O QUE DIZEM AS EMPRESAS

Em resposta à demanda, a 99, por meio da assessoria de imprensa informou que a segurança é uma prioridade. No ano passado, a empresa reduziu em 29% as ocorrências graves, como roubos e sequestros por milhão de corridas em todo o país. No Espírito Santo, a queda foi de 5%. Esse resultado foi obtido após investimento de R$35 milhões em segurança, com foco em tecnologia de prevenção e proteção, além de uma central de segurança que funciona 24 horas e sete dias por semana, oferecendo suporte e atendimento humanizado.

A operadora informou ainda que o aplicativo faz um mapeamento de áreas de risco e envia notificações aos motoristas quando começa ou termina essas áreas. O levantamento é feito utilizando estatísticas internas e dados externos das Secretarias de Segurança Pública. Motoristas podem escolher correr ou não nessas regiões sem penalização. Além disso, todas as corridas da 99 são monitoradas via GPS. O monitoramento da empresa funciona via inteligência artificial e detecta comportamentos anormais durante viagens. Em situações de risco –  como paradas muito longas ou tempo de viagem acima do normal –, são enviados alertas à central de segurança da empresa, que verifica o que está acontecendo e pode até acionar diretamente a polícia.

Sobre o cadastro de usuários, a 99 disse que exige que todos os passageiros incluam documentos como CPF ou cartão de crédito no momento do cadastro. O aplicativo também mostra ao motorista destino, nota do usuário e se ele é frequente. O condutor ainda pode escolher receber pagamentos em dinheiro ou não. A empresa informou ainda a contar com uma central telefônica de emergência 24h, sete dias por semana, que responde prontamente em caso de necessidade e oferece auxílio sobre o que fazer. O telefone é o 0800-888-8999.

Por fim, a 99 comunicou oferecer para motoristas e passageiros um seguro de vida e contra acidentes no valor de até R$ 100 mil, que é válido do momento que aceita uma corrida até a finalização da mesma.

UBER

Da mesma forma que a concorrente, a Uber salientou, em nota, que segurança é prioridade e a empresa está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da plataforma a mais segura possível, de uma forma escalável. Hoje, uma viagem pelo aplicativo já inclui ferramentas de segurança antes, durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros.

Foi anunciada recentemente a introdução da checagem de documentos de usuários - algo inédito nas alternativas de mobilidade urbana. Com isso, usuários que optarem por pagar sua primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados do meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito), precisarão fornecer um documento de identidade, como RG ou CNH. A tecnologia já é utilizada pela Uber em países como Chile, México, Argentina, Costa Rica, Colômbia e República Dominicana.

A medida vem se somar ao que o aplicativo já exige hoje do usuário que quiser pagar somente em dinheiro: que insira o CPF e data de nascimento, dados que são checados na base de dados do Serasa. A ferramenta que faz essa verificação, denominada U-Check, foi anunciada em 2019, como primeiro projeto entregue pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico instalado pela Uber em São Paulo – o primeiro do gênero instalado pela empresa na América Latina, com foco em segurança.

A Uber ressalta que a informação sobre essa opção de pagamento também é exibida na tela do aplicativo de quem está atrás do volante antes que o usuário entre no carro, assim como a região do destino e a nota do usuário no aplicativo.

A Uber informou ainda que também utiliza um recurso de 'machine learning' para impedir que viagens potencialmente arriscadas aconteçam. Esta ferramenta usa algoritmos que aprendem de forma automatizada a partir dos dados históricos de viagem e solicita detalhes adicionais de identificação do usuário. O aplicativo permite ainda que solicitações de viagens sejam canceladas por motoristas parceiros sinalizando motivo de segurança sempre que não se sentirem confortáveis. Além dos recursos já mencionados para segurança do motorista antes mesmo dele pegar o usuário, hoje uma viagem pelo aplicativo já inclui outras ferramentas de segurança durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros.

A empresa de transporte de passageiros disse que, caso aconteça uma parada longa e não prevista na rota ou se a viagem terminar fora do destino planejado, a Uber pode iniciar uma checagem e enviar uma mensagem para o motorista parceiro e o usuário perguntando se é necessário algum suporte e direcionando-o às ferramentas de segurança.

Em fevereiro de 2021, a empresa informou que começou a testar o recurso de gravação de vídeo utilizando a câmera do celular do motorista parceiro. O usuário é avisado previamente que a viagem poderá ser gravada e tem a opção de cancelar sem cobrança caso se sinta desconfortável com isso. A gravação fica criptografada e só pode ser acessada pela Uber ou por autoridades policiais em investigações formais de ocorrências reportadas na plataforma.

POSICIONAMENTO DAS POLÍCIAS

Em nota, a Polícia Militar disse que realiza policiamento ostensivo com o objetivo de combater todo tipo de crime e que diariamente são desenvolvidas operações com foco em abordagens a todo tipo de veículo, em todo o Estado. As ações são realizadas tanto em veículos que tenham passageiros quanto naqueles que tenham somente o condutor. Por vezes os policiais possuem dificuldade em identificar que se trata de um motorista de aplicativo, visto que a maioria dos carros não possui nenhum tipo de identificação. Embora o empenho do efetivo policial seja constante na prevenção e combate aos diversos tipos de crimes, a PM necessita da participação social com denúncias, que podem ser feitas por meio do número 181 ou pelo site www.disquedenuncia181.es.gov.br. O Ciodes (190) também é opção.

Além disto, a PM orienta que os motoristas esperem em locais movimentados, e ao serem solicitados para uma viagem, percorram o trajeto mais seguro, além de não realizarem corridas fora do aplicativo. Outra dica é equipar o veículo com sistema de segurança anti-furto e nunca reagir em caso de assalto. Para qualquer emergência a orientação é acionar a polícia pelo 190.

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Polícia Civil, por sua vez, orienta que as vítimas desse tipo de caso registrem a ocorrência em qualquer delegacia, para que a PC tome conhecimento dos fatos e inicie as investigações. O fornecimento de fotos, vídeos e documentos, no momento do registro do Boletim, é importante e auxilia a polícia no trabalho de investigação. A Polícia Civil informa, ainda, que investiga todos os casos formalizados por meio do registro do Boletim, e a Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) monitora e mapeia os registros, de modo a direcionar as ações relacionadas a este tipo de crime.

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