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"Não é castigo nenhum", diz mãe de jovem morto sobre afastamento de PMs no ES

"Não é castigo nenhum", diz mãe de jovem morto sobre afastamento de PMs no ES

Weliton da Silva Dias foi morto a tiros no último sábado (2), no bairro São José, na Grande São Pedro, em Vitória, por um policial militar

Publicado em 5 de abril de 2022 às 06:57

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Weliton da Silva Dias, de 24 anos, é morto a tiros por um policial militar.
Weliton da Silva Dias, de 24 anos, é morto a tiros por um policial militar. (Reprodução)

"Achei que não valeu de nada". Foi o que disse a mãe do jovem Weliton da Silva Dias, de 24 anos, que morreu após ser baleado por um policial militar em Vitória, sobre o afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência. Um vídeo registrou o momento dos tiros.

"Pelo que eles fizeram, não valeu nada. Vão continuar recebendo, estão vivos. Já são de idade, vão continuar a viver, e o meu filho está morto. Isso para mim não é castigo nenhum. Eu esperava que pelo menos fossem presos. Pelo menos isso. Não preso debaixo da terra como está o meu filho com 24 anos", contou a mãe, que preferiu não se identificar.

O caso aconteceu no bairro São José, na região da Grande São Pedro, na noite de sábado (2). Em um vídeo registrado por uma câmera de segurança é possível ver que o jovem levantou os braços em um movimento de rendição. Mesmo assim, ele foi baleado.

Weliton foi enterrado nesta segunda-feira (4). Os policiais foram temporariamente afastados de suas funções nas ruas. Durante o afastamento cautelar, eles podem realizar somente serviços administrativos.

"Todo tipo de violência deve ser repudiado. Determinei ao comando da PM a investigação sumária do fato ocorrido na Grande São Pedro. Ressalto minha confiança nas nossas forças policiais, entretanto, qualquer tipo de excesso não ficará impune", escreveu o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), em uma rede social.

VERSÃO DO PM NO BOLETIM DE OCORRÊNCIA

No boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil sobre o caso, consta a informação de que a vítima estava armada e de que uma submetralhadora foi apreendida.

De acordo com a descrição do boletim, o policial militar que atirou no rapaz relatou que avistou Weliton portando um armamento em bandoleira, ou seja, uma arma presa por uma espécie de correia. Ao ser visto, ele teria corrido em direção a um beco e foi perseguido pelos policiais.

"O cabo visualizou o indivíduo fazendo movimento que levava a crer que atiraria contra o militar, colocando a vida do policial em perigo iminente, que dado as circunstâncias, em respeito às normas vigentes, e para assegurar a sua vida, o cabo efetuou dois disparos contra o indivíduo, conforme doutrina praticada na PMES, que caiu ao chão, sendo assim possível aproximar-se do agressor, a fim de recolher o armamento que estava em sua posse, quando percebeu que a arma estava em bandoleira, sendo necessário cortar a bandoleira para retirar o armamento", diz o boletim de ocorrência.

A mãe afirmou que o jovem não estava armado. "Ele não estava armado, estava aqui em casa o dia todo, com criança. Ele toma conta do menino no sábado. Ele me falou 'mãe, vou tomar conta dele, tomar banho e dormir'. Mas não sei qual infeliz chamou ele. Ele foi para o beco. E com cinco minutos que ele saiu, escutei o tiro", disse.

Na mesma ocorrência, um barbeiro de 23 anos foi baleado na perna ao tentar socorrer Weliton. O homem, que preferiu não ser identificado, deu sua versão dos fatos.

"Fui em direção ao acontecido e não cheguei nem perto do local. Foi quando um policial botou a mão no meu peito, tentou me dar uma coronhada e eu tirei a mão dele e perguntei se ele estava doido, ele pegou e atirou na minha perna. Chegando do serviço e trabalhando a semana toda pra chegar em casa e tomar um tiro de graça", disse a vítima.

CASO SERÁ INVESTIGADO

O secretário estadual de Segurança Pública do Espírito Santo, Márcio Celante Weolffel, informou que as diferentes versões contadas sobre o caso serão apuradas em um inquérito aberto pela Corregedoria da Polícia Militar. O inquérito deve ser concluído em 60 dias. Depois, será encaminhado à Justiça Militar. A morte também é investigada pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Segundo a Polícia Militar, Weliton já havia sido preso oito vezes por crimes como tráfico de drogas, posse ilegal de arma e desacato a autoridade. A mãe dele confirmou que o filho já se envolveu com o tráfico de drogas, mas disse que ele não estava mais atuando no crime.

"Quando ele era menor, com 16 anos, era envolvido. Mas quando a mulher dele engravidou, ele largou. Foi fazer bico, até arrumar esse serviço [auxiliar de pedreiro]. Aí ele estava perto de um cara foragido e daí prenderam ele. Aí depois de nove meses provamos que ele era inocente, e esse processo foi arquivado. Desde que ele saiu da prisão, ele está com esse patrão. Inclusive foi o patrão que pagou o enterro. O patrão e os colegas de serviço vieram aqui. O patrão dele disse que nunca iria mandar ele embora e que iria promover ele. Desde 2019 ele não mexe com drogas. A única coisa que ele faz é beber muito", explicou a mãe do jovem.

SECRETÁRIO FALA COMO DEVE SER AÇÃO DE PMs

"Se ele está correndo risco, sua atuação é disparar para cessar a injusta agressão. Se a injusta agressão cessar, encerra-se ação. O correto seria atirar na parte superior ou nas pernas. Mas ele tem que decidir e para isso ele é treinado sim. O policial tem que entrar numa ocorrência pra preservar a vida dele e das pessoas que estão no local", explicou.

ASSOCIAÇÃO PRESTA APOIO A POLICIAIS

Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".

A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".

Errata Atualização
5 de abril de 2022 às 09:01

A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.

*Com informações de João Brito, do g1 ES, e de Priciele Venturini, da TV Gazeta

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