Mesmo sem a confissão do acusado, a polícia conseguiu reunir provas através de laudos periciais que levaram à prisão de Jerllington Oliveira Lopes, de 37 anos, pela morte da namorada Iara, de 17 anos, dentro de um carro na Serra. No dia do crime, em 7 de janeiro de 2023, o suspeito se apresentou como vítima e disse que ele e a moça teriam sofrido um ataque. No entanto, logo nas primeiras horas, os investigadores já começaram a desconfiar da história.
Tudo começou na noite de um sábado, quando Jerllington chegou de carro ao Hospital Jayme Santos Neves levando a namorada Iara — que não teve o nome completo divulgado pela polícia — com 10 marcas de tiros pelo corpo. Ela já deu entrada morta na unidade. Neste momento, a Polícia Civil foi acionada.
Os investigadores que estavam de plantão no Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP) foram até o hospital. Lá, Jerllington, que estava com uma marca de tiro na mão esquerda, disse ter sido vítima de dois suspeitos.
Na versão dele aos investigadores, o casal seguia em direção ao bairro Feu Rosa quando foi fechado por dois homens em uma motocicleta vermelha.
Ele disse que parou o veículo e um dos criminosos, ainda na moto, teria disparado contra o carro. Neste momento, Jerllington alegou que abriu a porta do veículo e correu para um matagal, sendo atingido apenas na mão.
Logo nessa primeira versão, os policiais passaram a desconfiar. Como o homem teria saído ileso de um ataque fugindo pela porta onde, supostamente, os atiradores estavam?
Além disso, na hora de prestar novamente o depoimento, dessa vez na delegacia, Jerllington deu uma informação diferente sobre o local onde teria ocorrido o ataque.
Os policiais chegaram a ir aos dois locais informados, e nenhum deles tinha matagal, como Jerllington havia dito.
"Durante a investigação, a gente conseguiu obter vídeos do autor manuseando e portando arma de fogo; imagens dele em festas na companhia da vítima com arma de fogo que aparentemente é de calibre compatível com o que a vítima foi executada", disse a delegada Raffaella Aguiar, da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).
A reportagem de A Gazeta questionou se Jerllington era envolvido com tráfico de drogas. A delegada respondeu que não há essa confirmação, mas que o homem atuava com serviços de agiotagem.
Durante a perícia do carro e necrópsia do corpo, mais pistas. "Percebemos que todos os disparos foram efetuados do lado do motorista para o do carona: as marcas de tiros na vítima estavam todas do lado esquerdo, do dorso. Havia marcas de disparos de arma de fogo na mão dela, que caracterizam lesão de defesa", detalhou a delegada.
Segundo ela, esse momento da defesa pode ter sido quando Jerllington feriu a mão. "Ou quando ela tentou se defender e ele efetuou um disparo acidental na mão fraca dele, a esquerda, ou depois, para dar maior veracidade à versão implementada por ele, ele efetuou um disparo na mão fraca, porque ele é destro."
Outro ponto identificado pelos peritos no carro foi a presença de quatro cápsulas no interior do veículo. "Ele ainda disse que o autor entrou no carro. Isso porque, quando a gente fez a perícia veicular, foram encontradas quatro cápsulas ejetadas no interior do veículo, isso caracteriza que o autor estava dentro do veículo. Então ele tinha que dar uma solução do porquê aquelas cápsulas estavam ali", ressaltou a delegada.
Conforme as investigações, o crime não teria sido algo "do nada". "A gente conseguiu obter informações de que na verdade esse crime já vinha sendo premeditado desde meados de outubro do ano passado. Entretanto, o meio que ele pensou em outubro foi por meio de envenenamento, ele tinha comprado chumbinho. Depois ele desistiu e aí, quando foi em janeiro, ele saiu da fase da cogitação e executou o crime", afirmou Aguiar.
Jerllington não confessou o crime, por isso, não houve a confirmação, por parte dele, da motivação para o feminicídio. No entanto, a polícia levantou algumas possibilidades.
"Alguns relatos nos induzem a crer que ele tinha um interesse em terminar o relacionamento, contudo a vítima o pressionava e fazia chantagem emocional no sentido de que ela tiraria a própria vida. De outro modo, você percebe durante toda a investigação que ele tinha um relacionamento anterior, tinha um filho, e a ex-esposa mantinha uma pressão em cima dele pois ela queria reestabelecer a família. Aliado a isso, também tivemos ciência de que a vítima não estava permitindo que ele tivesse acesso e convivesse com o filho", declarou a delegada.
Com as provas em mãos, a polícia pediu pela prisão temporária de Jerllington, que foi detido no bairro Jose de Anchieta, 20 dias após o crime. Ele já foi denunciado no processo e segue preso por feminicídio, impossibilidade de defesa da vítima e fraude processual.
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