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"Não há dúvidas de crime militar", diz juiz que manteve PMs presos

"Não há dúvidas de crime militar", diz juiz que manteve PMs presos

Os policiais passaram por audiência de custódia nesta quinta-feira (2) e o juiz decidiu por converter a prisão em flagrante para preventiva

Publicado em 2 de março de 2023 às 16:44

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Ao decidir por manter preso os cinco policiais envolvidos na morte de um adolescente, de 17 anos, em Pedro Canário, Norte do Espírito Santo, nessa quarta-feira (1), o juiz Getúlio Marcos Pereira Neves, disse que não havia dúvidas de se tratar de um crime militar. Além disso, considerou que os fatos da ocorrência merecem uma rigorosa apuração. 

  1. Leonardo Jordão da Silva
  2. Samuel Barbosa da Silva Souza
  3. Thafny Da Silva Fernandes
  4. Tallisson Santos Teixeira
  5. Wanderson Gonçalves Coutinho

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Trata-se de uma guarnição em serviço, portanto, não há dúvida se tratar de crime militar (...). Ademais, a surpresa geral e também no seio do efetivo com o resultado dessa diligência contribui para se colocar em dúvida os preceitos de hierarquia e disciplina que devem nortear a ação policial militar

Getúlio Marcos Pereira Neves
Juiz
Aspas de citação

De acordo com o magistrado, cabe aos policiais militares assegurar com sua atuação e que há pontos que precisam ser esclarecidos por meio de investigação, como requereu o Ministério Público Militar.

"Neste momento não se tem certeza, por exemplo, sobre quem efetuou os disparos, cabendo aos mais antigo da guarnição a obrigação legal de evitar o dano. Assim, considero que a segregação dos indiciados neste passo é necessária e favorecerá a elucidação dos fatos", escreveu o juiz. 

Não há dúvidas de crime militar, diz juiz que manteve PMs presos

Policiais podem responder por outro crime

Além do homicídio, os policiais militares que participaram da ocorrência que resultou na morte de um adolescente de 17 anos em Pedro Canário, na Região Norte do Espírito Santo, podem responder por terem arrastado o corpo de Carlos Eduardo Rebouças Barros para um terreno. 

Em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (2), o comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo, coronel Douglas Caus, afirmou que os cinco militares detidos permaneceram calados, na presença de advogados, durante o primeiro depoimento, em um batalhão de São Mateus. Os cinco irão passar por uma audiência de custódia às 13h desta quinta-feira (2).

Em entrevista ao repórter Paulo Ricardo Sobral, da TV Gazeta, Caus afirmou que as medidas tomadas pelos militares que não constam na técnica da corporação serão apuradas. O comandante também falou sobre o fato de o relato dos policiais ser diferente do que mostram as imagens: o vídeo exibe um adolescente com as mãos para trás e rendido, em vez de tentando sacar uma arma da cintura.

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Se eles colocaram uma versão diferente no boletim de ocorrência, também serão responsabilizados. É crime militar. Todas as medidas que não constam na técnica da PM serão apuradas, inclusive o fato de terem arrastado o corpo

Douglas Caus
Comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo
Aspas de citação

O vídeo recebido por A Gazeta se encerra pouco após o corpo do adolescente começar a ser arrastado, portanto, não mostra até onde ele foi levado e se houve algum novo disparo depois que o jovem foi retirado do local inicial, perto do muro de uma residência.

Na manhã desta quinta-feira (2), em entrevista ao repórter Paulo Ricardo Sobral, da TV Gazeta, o comandante-geral da PM capixaba informou que são cinco envolvidos no caso: dois cabos e três soldados. Todos com menos de dez anos de corporação. O nome deles não foi divulgado.

Douglas Caus, comandante Geral da PM
Douglas Caus, comandante-geral da PM, não informou os nomes dos envolvidos. (Carlos Alberto Silva )

O coronel Douglas Caus foi questionado pela reportagem sobre a identidade dos policiais, mas respondeu não lembrar. "Podemos divulgar os nomes de todos eles posteriormente, não sei o nome de todos eles de cabeça", afirmou.

Ele ainda afirmou que, apesar de o vídeo mostrar o adolescente de 17 anos rendido, ainda será verificado se ele estava algemado. Na avaliação do comandante, em casos como este, após ser imobilizado, o suspeito deveria ser levado para a delegacia.

OAB aponta 'discrepância' entre boletim e vídeo

O secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES), Alberto Nemer Neto, afirmou haver uma "discrepância" entre o narrado pelos policiais militares no boletim de ocorrência e o vídeo. Ele ainda declarou que colocará duas comissões à disposição para tratar do caso.

"No boletim de ocorrência há uma narrativa de que houve resistência, tentativa de puxar uma arma da cintura, e pelas câmeras nada disso ocorreu, então, é de forma bem pontual que a gente verifica uma discrepância entre o que o vídeo nos mostra e o que foi narrado pelos policiais", declarou em entrevista para o repórter Caíque Verli, da TV Gazeta, na manhã desta quinta-feira (2).

Conselho de Direitos Humanos pede afastamento de PMs

O Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo (CEDH) pediu o afastamento dos policiais militares que estavam na ação que resultou na morte do adolescente. Por nota, o CEDH afirmou que as imagens “mostram claramente a execução do jovem pelos policiais militares, sem qualquer justificativa ou motivo que pudesse justificar tal violência". "É inaceitável que agentes do Estado, responsáveis pela proteção da sociedade, ajam de forma tão desumana e arbitrária, violando os direitos mais fundamentais da pessoa humana”.

“Diante desses fatos, o Conselho Estadual de Direitos Humanos exige a instauração imediata de inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido, bem como o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais", completou a nota.

Quem era o adolescente morto pela polícia?

O rapaz morto foi identificado como Carlos Eduardo Rebouças Barros, de 17 anos. De acordo com a corporação, ele tinha passagens criminais e estaria com uma arma antes de aparecer no vídeo. Depois de ferido, ele foi levado ao Hospital Menino Jesus, em Pedro Canário, mas morreu no caminho. O corpo dele foi encaminhado para o Serviço Médico Legal (SML) de Linhares.

Segundo a Polícia Militar, o adolescente tem passagens por crimes análogos à tentativa de homicídio, tráfico de drogas, ameaça e posse/porte ilegal de arma de fogo.

Como tudo começou?

De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Douglas Caus, a ocorrência foi iniciada após uma denúncia de que suspeitos em disputa por pontos do tráfico estariam no local, armados, intimidando a população. Cinco policiais em duas viaturas foram até a região.

Ainda segundo o comandante, os suspeitos seriam conhecidos na localidade como "gêmeos". "Naquela região já havia sido cometida uma tentativa de homicídio recente contra um adolescente, e há cerca de duas semanas um homicídio", completou Caus.

Governador se pronuncia sobre o caso

Nas redes sociais, o governador Renato Casagrande se pronunciou sobre as imagens e disse que elas não condizem com o dever da PM. Ele ainda afirmou que determinou que sejam tomadas providências imediatas para que o caso seja apurado, classificando o fato como uma "aparente execução".

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