O terror provocado por um grupo armado que invadiu Santa Leopoldina, na Região Serrana do Espírito Santo, fez motoristas reféns, atirou contra viaturas e saqueou bancos na madrugada desta sexta-feira (30), se assemelha a outros casos já registrados no Estado e no país em anos anteriores, ligados ao "novo cangaço" – como são classificados crimes desse tipo em cidades do interior.
O termo "novo cangaço" tem relação com a história do Brasil e costuma ser utilizado em casos de ataque com as seguintes características: cidades pequenas como alvo, explosão de caixas eletrônicos, divisão do grupo em mais de um carro e fuga organizada, ações que resultam no pânico de moradores.
O cangaço foi um fenômeno do banditismo envolvendo violência entre os séculos XIX e XX. A expressão "novo cangaço" surgiu após a década de 1990 para classificar crimes com ações agressivas que cercavam pequenas cidades. A denominação tem sido usada quando há roubo a bancos, como foi em Santa Leopoldina.
Em entrevista ao repórter Kaique Dias, da TV Gazeta, o secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, Coronel Márcio Celante Weolffel, afirmou que a madrugada de sexta-feira (30) em Santa Leopoldina se assemelha ao "novo cangaço". O secretário citou outros Estados ao dizer que casos como esse no Espírito Santo são pontuais e não acontecem desde 2018.
Em anos anteriores, porém, os casos não eram pontuais e aconteceram em várias cidades do Espírito Santo. De Norte a Sul, grupos armados invadiam e explodiam agências. Em alguns casos, pessoas foram feitas refém.
Em junho de 2012, a pequena cidade de Irupi, com pouco mais de 10 mil habitantes e localizada na Região do Caparaó capixaba, foi alvo de bandidos. Uma agência bancária do Bradesco foi explodida por volta das 3h da manhã. Com a explosão, todos os equipamentos do local foram destruídos.
Homens armados também explodiram caixas eletrônicos em abril de 2013, em Ponto Belo, no Norte do Estado. Na época a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) confirmou que os criminosos usaram dinamite para explodir os equipamentos. O valor em dinheiro levado pelos bandidos não foi revelado.
Em maio de 2016, durante a madrugada, uma agência do Bradesco foi alvo de explosão. Quatro suspeitos armados arrombaram a unidade e levaram cerca de R$ 50 mil de um caixa eletrônico. O grupo colocou duas bananas de dinamite para explodir os equipamentos.
Em junho de 2016, bandidos explodiram um caixa eletrônico do Banco do Brasil que fica dentro do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Itapina, distrito de Colatina, na Região Noroeste. O crime aconteceu durante a madrugada e durou cerca de 15 minutos. Na época, a Polícia Militar informou que três homens armados renderam o segurança da instituição de ensino e, após explodir o equipamento, levaram em dinheiro – valores não foram revelados.
No dia 10 de fevereiro de 2017, cinco homens encapuzados tentaram roubar uma agência bancária em Pancas, no Noroeste. Durante a ação, pessoas foram feitas reféns e houve troca de tiros com a polícia. Os bandidos chegaram em um carro e renderam um grupo de pessoas que estavam em um bar próximo à agência. Para entrar no banco, os ladrões atiraram na porta de vidro. Os bandidos atiraram contra a polícia e fugiram em direção a Colatina. No caminho, atearam fogo no carro usado no crime.
No dia 21 de fevereiro de 2018, homens mascarados e armados explodiram a agência do Banco do Brasil em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha, na Região Metropolitana. Duas explosões foram ouvidas. Em seguida, os bandidos saíram da agência com caixas cinzas, colocadas no porta-malas de um Volkswagen Gol prata, e fugiram.
Em 24 de outubro de 2018, a agência do Sicoob Credirochas, em Atílio Vivácqua, no Sul do Estado, foi arrombada por um homem. Segundo a PM, por volta das 5h30 o alarme disparou e a central de policiamento avisou para o gerente. Ao chegar no local foi constatado que o bandido entrou em uma báscula que fica nos fundos da agência. Ele chegou a quebrar um cadeado, mas não conseguiu ter acesso ao cofre.
Sequestro, tiros e pânico numa tentativa de assalto a banco. Esse foi o cenário no Centro de Barra de São Francisco, na região Noroeste do Estado, entre a noite do dia 23 e a manhã de 24 de dezembro de 2018. A família de um funcionário do Sicoob foi sequestrada durante a noite por sete criminosos.
Pela manhã, o bancário foi levado por dois dos criminosos até a agência. Eles queriam abrir o cofre do banco, mas foram surpreendidos pela Polícia Militar, após acionamento do sistema de segurança do local. Disparos de arma de fogo foram ouvidos e os moradores da cidade ficaram em pânico.
O dia 30 de novembro de 2020 foi marcado pelo que atualmente é classificado como o "maior roubo da história do Estado" de Santa Catarina. Por volta das 23h50 daquela data, cerca de 30 homens com armas de grosso calibre cercaram a área central da cidade, bloquearam ruas e atiraram. Um policial foi baleado. Um ano depois do crime, dez pessoas estavam presas e duas eram consideradas foragidas.
Criminosos envolvidos em um mega-assalto a uma agência bancária aos moldes do chamado "novo cangaço" em Lagoa Nova (RN), a 167 km da capital Natal, fizeram moradores reféns e destruíram completamente uma agência bancária na madrugada de 3 de agosto de 2022, com o uso de explosivos.
O período até 2018 foi classificado pelo secretário de Segurança Pública. Não significa, no entanto, que não haja mais assalto a bancos no Espírito Santo. A diferença é a forma como o crime era cometido: em cidades pequenas e com uso de violência.
Antes disso, em 1991, uma outra cidade do Espírito Santo foi alvo de um grupo armado. Em abril daquele ano, o município de Barra de São Francisco assistiu a uma tentativa de assalto a uma agência do Banco do Brasil. A ação resultou em nove mortes, pelo menos três delas de pessoas que não participavam do crime. O crime foi tema de uma Capixapédia, editoria de A Gazeta que trata da história do Espírito Santo.
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