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O desabafo de médico que atendeu menina com sinais de estupro em Guarapari

O desabafo de médico que atendeu menina com sinais de estupro em Guarapari

Jean Lang realizou exames em Ana Clara da Silva Soares, de dois anos, e disse que a menina apresentava lesões graves; ele também teve contato com o pai da criança

Publicado em 4 de maio de 2023 às 10:45

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O médico que atendeu a menina Ana Clara da Silva Soares, de dois anos e seis meses, no Hospital Materno Infantil Francisco de Assis (Hifa), em Guarapari, disse que ela chegou à unidade com lesões graves nas regiões íntimas e que o comportamento do pai era de indiferença – o que levantou a suspeita de estupro. A criança morreu na madrugada do último 29 de abril. O pai e a mãe dela estão presos, suspeitos do crime.

"O número de lesões não era compatível com a história que era relatada para a gente. O pai estava ao meu lado, pertinho, mas com uma completa ausência de sentimentos. Estava preocupado com o celular, olhando para o aparelho, e pouco preocupado com a filha, que estava em estado gravíssimo", disse Jean Lang.

Ana Clara deu entrada no hospital no dia 26 de abril em estado gravíssimo. De acordo com a Polícia Civil, o pai dela, identificado como Manoel Messias de Jesus Soares, de 44 anos, foi preso em flagrante por estupro de vulnerável. A mãe da criança, Catiucia Vila Nova da Silva, de 33 anos, também foi presa como coautora do crime.

Ana clara da Silva Soares
Ana Clara da Silva Soares, de dois anos. (Reprodução)

Após saber da morte da menina, o médico publicou um vídeo nas redes sociais no qual fez um desabafo, ao descobrir que Ana Clara havia morrido. "Vi no jornal que ela faleceu. Olha, é difícil este caso. Talvez seja porque nesse final de semana minha filha faz três anos e a gente acaba ficando mais emotivo."

Atuação da equipe médica

O médico disse ainda que a atenção de toda a equipe médica que atendeu a criança foi fundamental para acionar a polícia sobre a suspeita de estupro de Ana Clara.

"O médico que está no pronto-socorro, principalmente os recém-formados, deve ficar muito atento quando tem um número de lesões muito maior do que a história que é contada, quando existem informações que não se conectam", explicou.

O médico Jean Lang atendeu a menina que morreu com sinais de violência sexual no ES
O médico Jean Lang atendeu a menina que morreu com sinais de violência sexual no ES. (Reprodução | Redes Sociais)

O médico destacou ainda que alterações no comportamento das crianças devem ser observadas pelos profissionais da saúde, que devem acionar a polícia ou o Conselho Tutelar caso percebam que os menores estão em situação de perigo.

"Crianças muito acuadas, com medo, que mudam o comportamento, que iam à escola e não gostam mais, urinando na roupa, defecando na roupa... A gente tem que atuar mesmo como detetive e aí entra nosso trabalho com o Conselho Tutelar e com a polícia", disse.

Caso causou comoção

Segundo a Polícia Militar, a corporação foi acionada durante a tarde de sexta-feira (28) para verificar um suposto estupro de vulnerável no Hospital Infantil de Guarapari. No local, a equipe foi recebida pela coordenadora que relatou que havia a criança na unidade com quadro de infecção generalizada e que, após exames, foram identificadas lesões no ânus.

No entanto, segundo consta no boletim de ocorrência, com a insistência da polícia e do Conselho Tutelar, a mulher disse que o marido já tinha abusado sexualmente da filha mais velha dela, de 15 anos, e acreditava que o homem seria capaz de fazer o mesmo com a mais nova.

Questionada pelos militares, a mãe da criança disse que tinha cinco filhos e não tinha desconfiança sobre o suspeito.

Consta no documento que a mãe disse, inclusive, que outros parentes sabiam do abuso da menina mais velha, que é enteada dele, mas disse que nunca o denunciou por medo.

Ainda de acordo com a polícia, o hospital entrou em contato com Manoel e solicitou que ele comparecesse ao local. No hospital, e na presença dos militares, o indivíduo não se mostrou surpreso com a situação da criança e não confessou o crime.

O casal foi encaminhado para a Delegacia Regional de Guarapari, e as outras crianças foram resgatadas pelo Conselho Tutelar.

Questionada sobre a autuação do pai e da mãe de Ana Clara, a Polícia Civil informou que o Manoel Messias foi autuado por estupro de vulnerável qualificado e encaminhado ao Centro de Triagem de Viana (CTV).

Na manhã de sábado (29), Polícia Civil disse que a mãe de Ana Clara foi ouvida e liberada após a autoridade policial entender que não havia elementos suficientes para lavrar auto de prisão em flagrante naquele momento, como foi feito como o pai da menina na sexta-feira.

No entanto, na tarde do mesmo dia, a corporação informou que realizou novas diligências e ouviu testemunhas, solicitando a prisão preventiva de Catiucia, também pelo crime de estupro de vulnerável qualificado seguido de morte, como coautora. Segundo a PC, a Justiça aceitou o pedido e a prisão foi realizada na tarde desse sábado (29).

De acordo com a Polícia Civil, Catiúcia está presa no Centro Prisional Feminino de Cariacica.

A Polícia Civil disse ainda que o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Proteção à Criança, ao Adolescente e ao Idoso (Dpcai) de Guarapari, onde serão feitas outras diligências para averiguar se há mais vítimas e participação de outras pessoas. Mais informações não foram divulgadas para não atrapalhar as investigações.

O corpo da vítima foi encaminhado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para ser necropsiado e, posteriormente, liberado para os familiares. O laudo de necropsia será juntado aos autos e o autor irá responder também pelo resultado morte.

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