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O esquema de empresário de Vitória para financiar o tráfico em Tabuazeiro

O esquema de empresário de Vitória para financiar o tráfico em Tabuazeiro

Daud Martins Nasser dos Santos, vulgo "Abel", de 29 anos, atuava como uma espécie de "agiota" do crime; ele vai responder por falsificação de documentos, adulteração de veículos automotores, entre outros

Publicado em 22 de maio de 2023 às 19:02- Atualizado há 2 anos

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Daud Martins Nasser dos Santos, vulgo
Daud Martins Nasser dos Santos, vulgo "Abel", de 29 anos, ficou foragido por mais de seis meses. (Divulgação | Polícia Civil)
Maria Fernanda Conti
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Apontado como um dos principais financiadores do tráfico de drogas de Tabuzeiro, em Vitória, Daud Martins Nasser dos Santos, de 29 anos, foi preso pela Polícia Civil na última sexta-feira (19). O suspeito, também conhecido como "Abel", estava foragido desde novembro de 2022, quando foi alvo da Operação Kreator. Na ocasião, ele conseguiu fugir das forças de segurança. 

O superintendente de Polícia Especializada, Romauldo Gianordolli Neto, explicou durante uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (22) que o homem foi encontrado no bairro Jardim Bela Vista, na Serra. Segundo o delegado, ele entrou na mira da corporação após fazer empréstimos para criminosos, que buscavam dinheiro em espécie a fim de realizar a compra de drogas. 

"Falavam para o Daud que tinha uma maconha de boa qualidade no Rio de Janeiro, por exemplo, com um preço bom, e ele dava o valor, pois os criminosos não tinham dinheiro em espécie para pagar. Financiava e depois recebia esse dinheiro com juros, ou recebendo parte dos lucros da venda. Ao mesmo tempo, por causa disso, ficava bem com o tráfico local e podia fazer os esquemas dele passarem incólumes", pontuou Romualdo. 

Fontes de renda

Para conseguir todo esse dinheiro, o suspeito atuava como "cabeça" de diversos esquemas fraudulentos, cuja atuação se estendia a outros estados do País. O principal deles era o de falsificação de documentos, com a qual conseguia abrir contas bancárias, solicitar empréstimos e fazer o pedido de cartões de crédito. 

Aspas de citação

O Daud fazia adulteração em veículos automotores: trazia veículos roubados – principalmente de Minas Gerais – e aqui (Espírito Santo) fazia clones. Conseguia fazer documentos quentes e colocava eles em circulação. Mas a principal atividade era a abertura de contas bancárias com documentos falsos. E é interessante porque ele nunca se expunha nessas atividades. Normalmente contratava, por R$ 6 mil, algum indivíduo ligado ao crime

Romauldo Gianordolli Neto
Superintendente de Polícia Especializada
Aspas de citação

Após receberem o pagamento, os criminosos iam até às instituições financeiras com identidades falsas. Em seguida, todo o controle das contas era passado para as mãos de Daud. Há relatos ainda de vítimas que perderam o documento de identificação e tiveram os dados utilizados pelo homem.

Documentos falsos apreendidos com suspeito em Jardim Bela Vista, na Serra
Documentos falsos apreendidos com suspeito em Jardim Bela Vista, na Serra. (Polícia Civil do Espírito Santo)

"As contas eram abertas só para ele, e tudo era feito de forma fracionada, para passar pelo sistema de fraude dos bancos. Era algo complexo. Identificamos pelo menos seis pessoas que perderam a identidade e sofreram o estelionato, sendo elas do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo", frisou Romualdo. 

Ocupação "lícita"

Com o intuito de despistar a polícia, "Abel" mantinha uma empresa fantasma, chamada Nasser Comércio e Serviços Ltda, para simular uma ocupação lícita. "Ele tinha uma empresa que não tinha nenhum empregado, não tinha sede, então era simplesmente para movimentar dinheiro ilícito", destacou o delegado.

Aspas de citação

Uma prisão dessas é importante, porque você tira uma espécie de conexão do dinheiro com o tráfico local. O tráfico desses morros de Vitória movimenta pouco dinheiro em si. Os criminosos tiram muito [do caixa] para pagar advogados,  comprar armas de fogo, entre outros. Então eles mesmo conseguem pouca verba para investir. Precisam desses financiadores

Romauldo Gianordolli Neto
Superintendente de Polícia Especializada
Aspas de citação

Prisão e ostentação

Durante as diligências da operação Kreator, em 2022, Daud conseguiu fugir para uma área de mata que ficava atrás da casa onde morava, também no bairro Tabuazeiro. No local, foram apreendidos pela polícia dois carros, entre eles uma BMW, avaliados em meio milhão de reais. 

"Infelizmente quando adentramos a residência tinha um fundo que não dava para cercar, dava numa área de mata. O empresário pulou para a área de mata. A gente ainda tentou persegui-lo. Ele tinha uma gama de negócios, ele mexia com roubo, desmanche de veículos, clonagem então ele realmente tinha que ter algum esquema especial para lavar esse dinheiro", explicou à época o delegado. 

Operação pertence à Sicário
BMW apreendida na Operação Kreator, da Polícia Civil. (Divulgação | Polícia Civil)

Na última sexta-feira (19), ele voltou a tentar fugir do mesmo modo, mas os policiais conseguiram detê-lo. Segundo a corporação, Daud tinha chegado há poucos dias no Espírito Santo, após se refugiar por um tempo, possivelmente, em Goiás. "A equipe do delegado Júlio César Oliveira Silva descobriu que ele tinha voltado e estava em Jardim Bela Vista. Ele tentou fugir também por um matagal atrás, mas a equipe se preparou e conseguiu capturá-lo”, ressaltou.

"No momento em que ele se evadiu em novembro, apreendemos uma BMW vermelha e um veículo Ford Fusion, dois veículos de alto valor. Vimos que ele já teve Land Rover, Volvo – só andava com carros de luxo. Nessa última vez, ele não estava com carro nenhum, mas sempre fez a sua ostentação, principalmente com automotores", completou Romualdo. 

O suspeito, de acordo com a Polícia Civil, vai responder por tráfico de drogas, falsificação de documentos públicos, adulteração de veículos automotores, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O outro lado

A defesa de Daud Martins Nasser dos Santos entrou em contato com o jornal A Gazeta e afirmou que "o acusado nunca sequer fora investigado e tampouco denunciado por tráfico de drogas, nunca integrou organizações criminosas (e também nunca foi acusado por isso), além de nunca ter sido acusado de promover adulteração em veículos".

Aspas de citação

Há que se ressaltar que todo trabalho de investigação já se encerrou há alguns meses e os fatos já foram apresentados à justiça (tramitam na 8ª Vara Criminal de Vitória) e grande parte das informações prestadas destoam até mesmo do relatório final apresentado pelo próprio delegado responsável (Sr. Romualdo)

Pedro Souza Moraes de Jesus
Advogado
Aspas de citação

"Cabe também a seguinte complementação: a tese acusatória acerca do famigerado 'financiamento do tráfico' cinge-se à um único 'print' obtido ao longo da investigação, em que o Daud teria "dado" R$ 150 para um traficante local. E aqui cabe a seguinte retórica: juridicamente, é sustentável a acusação de financiar o tráfico de todo aquele que já comprou algum material ilícito na vida? Por fim, enfatizo que todo o patrimônio de Daud é lastreado e constituído de forma lícita e está em seu nome, o que denota perplexidade na acusação de lavagem de dinheiro", destacou.

Diante das declarações, a reportagem procurou a assessoria da Polícia Civil para mais esclarecimentos. A PC disse que todo o processo de investigação da Operação Kreator, realizada pelo Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa, correu dentro da legalidade, com a anuência do Ministério Público Estadual.

Destacou ainda que o detido foi indiciado pela Polícia Civil, denunciado pelo Ministério Público e a denúncia foi recebida e aceita pelo Poder Judiciário. E por essa razão foi expedido o mandado de prisão preventiva por tráfico de drogas, falsificação de documento público, adulteração de veículos automotores, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O mandado de prisão foi cumprido na última quinta-feira (19) e o homem permanece detido no sistema prisional capixaba.

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