"Tenho 10 anos e meio de DHPP e esse crime foi o que mais me chamou a atenção pela sucessão de covardia e crueldade que foi feita com esse menino." Foi assim que o delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, começou a descrever a morte de Caíque Conceição Moreira, de 16 anos, encontrado com marcas de tortura em abril deste ano, na Avenida Audifax Barcelos Neves. Cinco suspeitos envolvidos no caso foram identificados — um deles está foragido.
O crime aconteceu entre a noite do dia 30 e a madrugada de 31 de março deste ano, no bairro Jardim Bela Vista. Caíque estava em um baile quando foi abordado por criminosos. Ele ficou desaparecido até que o corpo foi localizado em 4 de abril. Afinal, o que aconteceu? Entenda, abaixo, ponto a ponto do que as investigações mostraram.
Segundo o delegado, Caíque já foi envolvido com o tráfico de drogas em Jacaraípe, no passado. "Além disso, andava com amizades envolvidas com o tráfico e costumava ostentar arma de fogo em redes sociais", detalhou Sandi Mori. No dia 30 de março, ele resolveu ir, com dois amigos, para um baile em Jardim Bela Vista, bairro dominado por uma facção rival àquela que um dia o adolescente já fez parte.
Caíque chegou ao local sem camisa e com uma réplica de fuzil. Isso chamou a atenção dos traficantes locais. "Eles procuraram saber quem ele era e acabaram descobrindo que o Caíque era da facção contrária", explicou o delegado.
Conforme as investigações, um grupo local pediu autorização ao chefe do tráfico, identificado como Jhonatan Ricardo Souza do Carmo, para a execução, o que foi autorizado. Sendo assim, na hora em que estava indo embora do baile, Caíque foi abordado por duas pessoas: um adolescente de 16 anos e por Tiago dos Santos, conhecido como TH. Os dois estavam armados com revólveres.
"Após rendida, a vítima foi levada pelo Tiago, por Davi de Oliveira Santos e por dois adolescentes até um pasto no bairro, local da execução. Durante o trajeto, a vítima começou a ser agredida pelos quatro. O adolescente de 16 anos deu até coronhada na boca da vítima, que perdeu um dente", destacou o delegado.
No pasto, segundo as investigações, Tiago entregou as armas para os adolescentes. O de 16 anos atirou pela primeira vez e Caíque caiu no chão. O outro menor de idade disparou mais três vezes. "Um dos revólveres acabou a munição e o outro quebrou, mas a vítima ainda estava viva. Davi pegou uma enxada na casa de um morador e deu três golpes na cabeça da vítima", disse Sandi Mori.
Os quatro deixaram o local. Horas depois, a mando de Jhonatan (que não queria a atenção da polícia na região), eles retornaram, atearam fogo no corpo e enterraram.
Com o desaparecimento de Caíque, a polícia começou a fazer diligências na região. Isso não agradou o tráfico. Mais um vez, Jhonatan ordenou que os adolescentes desenterrassem e desovassem o corpo em outro lugar. Foi quando eles jogaram o cadáver na Avenida Audifax Barcelos Neves.
O laudo cadavérico de Caíque deu como resultado traumatismo cranioencefálico por causa dos golpes de enxada e também carbonização. Com isso, não é possível afirmar se o adolescente estava vivo no momento em que foi queimado.
Durante as investigações, os cinco envolvidos foram identificados. Um deles era João Vitor Cirilo de Souza, de 16 anos, que acabou morto durante um confronto com a polícia no dia 13 de maio, no bairro Jardim Bela Vista.
No dia 30 de agosto, durante uma operação da DHPP Serra, Tiago e Davi foram presos. O delegado explicou que pediu pela internação do outro adolescente envolvido, um rapaz de 15 anos, mas que ela ainda não foi decretada pela Justiça.
Já Jhonatan segue foragido. Ele, Tiago e Davi foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima, associação criminosa, ocultação de cadáver e corrupção de menores.
O adolescente foi indiciado pela prática de ato infracional semelhante ao homicídio qualificado, associação criminosa e ocultação de cadáver.
Segundo o delegado, a família de Caíque não sabia do envolvimento dele com o tráfico de drogas no passado. Na época que o corpo foi encontrado, eles estavam desesperados, sem entender o que poderia ter motivado o crime. Na ocasião, um familiar conversou com a TV Gazeta: "O que foi feito com ele, um menino de 16 anos, a família vai levar muito tempo para conseguir tirar essa dor do peito. A gente fica sem entender por que foi feito isso com um menino".
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