Grávida de oito meses, a engenheira Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, foi brutalmente assassinada após levar cinco tiros em Campos dos Goytacazes, no Norte do Rio de Janeiro, no último dia 2. O bebê que ela esperava também morreu. Dias depois, o pai da criança foi preso, acusado de ser mandante do crime. Diogo Viola de Nadai é capixaba e trabalhava como professor; apesar de ter um relacionamento com a vítima, ele era casado com outra mulher.
O caso, com muitos detalhes, tem gerado grande repercussão nacionalmente. A Gazeta preparou um ponto a ponto de todo o crime, desde o início até o emocionante relato dos familiares da vítima. Veja:
Na noite de quinta-feira (2), Letycia estava no bairro Parque Aurora, em Campos dos Goytacazes. Assim que ela estacionou o carro, dois homens chegaram em uma motocicleta. A ação foi gravada por câmeras.
Ambos usavam capacetes; o da garupa realiza os disparos e acerta a engenheira com cinco tiros. A mãe de Letycia, que estava no banco do carona e já havia descido do veículo, tenta evitar que o homem continue a realizar os tiros e vai na direção dele. Ele cai da moto, mas atira contra ela, que acaba atingida na perna.
Letycia foi levada ao hospital, passou por uma cesárea de emergência e não sobreviveu. A mãe dela também foi socorrida, com estado de saúde estável.
Após a cesária, o bebê, um menino, chegou a nascer, mas morreu horas depois na sexta-feira (3).
No sábado (4), o piloto da moto usada no crime foi detido e confessou participação na execução.
Na segunda-feira (6), a Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou que apreendeu o passaporte do capixaba Diogo Viola de Nadai, pai da criança morta junto com a mãe.
Segundo a delegada Natália Patrão, a apreensão ocorreu como forma de resguardo do andamento do processo. Diogo também foi ouvido na segunda-feira (6) na delegacia, acompanhado de dois advogados.
Ainda na segunda-feira (6), um segundo suspeito de atirar contra Letycia foi preso.
"O atirador permaneceu em silêncio aqui na delegacia e não confessou. O crime foi premeditado com certeza. As pessoas saíram para a execução daquela mulher. Não sabemos se tem relação de ódio. Eles vão responder por homicídio consumado, tentado e um aborto, já que a intenção eram matar o feto também", afirmou a delegada Natália Patrão em entrevista ao O Globo.
Na noite de terça-feira (7), o capixaba Diogo Viola de Nadai foi preso em Campos dos Goytacazes. Ele, que é professor de Química do Instituto Federal Fluminense (IFF), foi apontado como suspeito de ser mandante do assassinato de Letycia.
A prisão temporária do professor foi pedida na terça pela delegada Natália Patrão, titular da 134ª DP (Campos) após a prisão dos dois suspeitos de serem os executores do crime.
Em depoimento na 134ª Delegacia de Polícia de Campos, o professor de Química do Instituto Federal Fluminense (IFF) negou conhecer os dois homens acusados de fazerem a emboscada contra a vítima. Também disse não saber quem poderia ter cometido o crime.
Dayson dos Santos Nascimento, que admitiu à Polícia Civil ter pilotado moto usada para matar a tiros a grávida Letycia, disse em depoimento à 134° Delegacia de Polícia (DP), de Campos, que o crime aconteceria um dia antes. O relato foi obtido pelo jornal Extra.
No entanto, problemas com a corrente do veículo fizeram com que a "fita" — gíria usada por ele para definir o serviço para o qual foi contratado — fosse adiada. Em vídeo anexado ao inquérito, o piloto admite que aguardava a chegada do carro da vítima, mas imaginou que seria um assalto, não um homicídio.
Ainda segundo informações do Extra, em depoimento prestado dois dias depois do crime, no dia 4, Dayson conta que foi contratado por um homem identificado como Gabriel, de apelido Polar, que avisou que "um menino dele" passaria para buscá-lo na BR 101, na altura da Igreja Universal de Ururaí, em Campos. No dia 1º, um dia antes do crime, a corrente da moto soltou durante o deslocamento e o serviço precisou ser cancelado, segundo Dayson.
Em casa, Dayson teria recebido uma mensagem de Gabriel, que dizia "não era pra ser hoje mesmo não", e marcaram para o dia seguinte.
A Polícia Civil de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, confirmou que o atirador e o piloto da moto usada no assassinato de Letycia cometeram o crime em troca da quantia de R$ 5 mil, dividida entre eles. A informação foi divulgada pelo g1 Norte Fluminense. A delegada Nathalia Patrão confirmou que o valor chegou a ser pago.
Ao jornal O Globo, o tio de Letycia, Célio Peixoto, se mostrou aliviado com a prisão do professor capixaba. "A gente recebeu a notícia com algum alívio, havia a suspeita, mas a gente tinha que deixar a polícia trabalhar e o trabalho foi feito. Agora tudo que a gente espera é que haja Justiça."
Célio afirmou que a família estranhava o comportamento de Diogo, que se mostrava uma pessoa reservada, só aparecia em algumas ocasiões como Natal e réveillon, além de evitar tirar fotos e não conversar muito.
Segundo o jornal O Globo, Diogo é casado com outra mulher, mas mantinha união estável com a vítima e seria pai do bebê.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro ouviu a esposa do professor e não a considera suspeita de envolvimento no crime. Apesar do casamento jurídico, ele morava com a vítima e tinha uma união estável com ela, segundo a delegada Natália Patrão. A investigação até o momento concluiu que elas não tinham contato entre si, nem se conheciam.
Natália Patrão afirmou a O Globo que a polícia tem informações de que a relação entre Diogo e Letycia era complicada e atípica.
Conforme apuração do jornal O Globo, Diogo mantinha um relacionamento com ela e outro com a esposa há oito anos. Ele estava com Letycia desde 2015, mas era casado oficialmente com outra mulher desde 2010. O capixaba e a esposa são do Espírito Santo e moravam em Campos dos Goytacazes, onde ele conheceu Letycia e iniciou um relacionamento com ela.
O jornal O Globo apurou que, na representação pela prisão temporária do capixaba, a delegada Natália Brito Patrão, titular da 134ª Delegacia de Polícia de Campos dos Goytacazes, afirma que com a aproximação do nascimento da filha de Letycia com o suspeito, “chegou um momento crucial” para que o professor decidisse o que fazer. Ela estava grávida de oito meses.
A delegada declarou que Diogo decidiu matar uma das duas mulheres e escolheu Letycia, “eliminando o seu grande problema”. Ainda segundo Natália, não tendo mais as duas mulheres, o relacionamento com a outra estaria solucionado.
Nos depoimentos dados à polícia, Diogo e a esposa alegaram que não estavam mais juntos há cerca de três anos, apesar de não terem se separado formalmente. Eles afirmaram que são apenas amigos. No entanto, para a polícia, as trocas de mensagens entre os dois comprovam que ainda havia relacionamento amoroso entre o casal.
Diogo teria pedido que Letycia fizesse um empréstimo de R$ 16 mil para pagar dívidas da loja dele. De acordo com o site Extra, a informação foi dada na delegacia por Cintia Pessanha Peixoto Fonseca, mãe da vítima, e foi utilizada pelo Tribunal de Justiça para decretar a prisão temporária do professor.
"A declarante (mãe de Letycia) se recorda que no dia do crime, ou seja, dia 2 de março, na hora do almoço, a Letycia comentou que o Diogo pediu para que ela fizesse um empréstimo no valor de R$ 16 mil em nome dela, para que ele pudesse pagar as dívidas, mas ela negou, então ele disse que iria conseguir com um amigo. (...) Que a declarante sempre achou que o Diogo agia com falsidade nas atitudes relacionas à gravidez", diz trecho da decisão do juiz Adones Henrique Silva Ambrosio Vieira, divulgado pelo site Extra.
Segundo o Extra, Diogo também teria tentado apagar o histórico dele no celular e na nuvem no dia do crime. "Sendo, supostamente, o autor intelectual e mandante do homicídio, Diogo demonstra elevado grau de periculosidade, além de ostentar poder de interferência direta nas investigações, inclusive pelo poder aquisitivo e posição como empresário nesta Comarca (Campos)", escreveu o magistrado.
Em um relato emocionante publicado no site de O Globo, a mãe de Letycia, Cintia Fonseca, contou os últimos momentos com a filha.
O depoimento foi feito ao repórter João Vitor Costa. Cintia inicia seu relato dizendo que sonhou que tudo iria acontecer com a sua filha.
“Dois dias antes, sonhei que ela tomaria um tiro na barriga e outro na cabeça. Ela agonizava no chão e me pedia ajuda. Parece que era Deus me preparando”, escreveu.
Ela diz que Letycia era o bebê dos pais. Grávida de oito meses, Hugo — o bebê que Letycia esperava — seria o complemento dela e o primeiro neto de Cintia.
“Na semana passada, ela estava de mudança. Naquele dia, marcamos com o montador para tirar um painel do apartamento antigo e levar para o atual. Ela me buscaria às 18h. Fomos eu e minha tia Simone, que tem Síndrome de Down. Na volta, ao passar em frente à minha casa, vimos dois homens do outro lado da rua e falei para ela tomar cuidado. Eu estava com medo de assalto.”
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta