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O uso de drones como novos 'olheiros' do crime na guerra do tráfico no ES

O uso de drones como novos 'olheiros' do crime na guerra do tráfico no ES

Comandante da PM diz que já identifica compradores e operadores dos equipamentos, e dispara: "Digo até que é uma burrice porque traz a polícia para cada vez mais perto"

Publicado em 19 de setembro de 2022 às 15:12

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

Apreensões cada vez mais frequentes na Grande Vitória mostram que criminosos têm apostado no uso de drones como "olheiros" na guerra do tráfico. Seja para avistar grupos rivais ou a chegada da polícia, os equipamentos fazem parte do "kit do crime", aliados aos conhecidos radiocomunicadores.

Materiais apreendidos com adolescentes em Planalto Serrano, na Serra
Materiais apreendidos com adolescentes em Planalto Serrano, na Serra. (Polícia Militar)

Neste mês, por exemplo, veículos aéreos não-tripulados foram apreendidos pela polícia em dois dias consecutivos. O primeiro em Planalto Serrano, na Serra. O equipamento era usado para monitorar a movimentação de viaturas na comunidade. Dois adolescentes foram detidos na ação.

A segunda apreensão ocorreu em Vitória, durante a tentativa de invasão de traficantes do Morro do Cabral ao Morro da Piedade. Houve confronto e intensa troca de tiros. O líder do tráfico do Cabral acabou morto. Com um comparsa dele, que também acabou baleado, a polícia encontrou outro drone com duas baterias reservas.

 PM detém três homens, apreende armas de fogo, colete balístico e drone utilizados no por criminosos no Morro da Piedade
Materiais apreendidos após confronto no Morro da Piedade, entre eles, um drone com duas baterias. Na foto menor, o traficante Rogério Mello Chagas, líder do tráfico do Morro do Cabral, que morreu baleado. (Polícia Militar)

Apesar de não serem apreensões inéditas, a frequência chama a atenção para a dimensão do uso de tecnologias pelas facções criminosas: antes, apenas radiocomunicadores serviam para avisar sobre a presença da polícia e de rivais. Agora, os drones funcionam como verdadeiros olheiros do tráfico.

"É um olheiro só que com autonomia maior. Tem câmera que pode ir até 5 quilômetros, por exemplo, também pode sobrevoar mata. É o traficante na proteção e controle de seu próprio território usando essa tecnologia que dá a ele uma visão geral do bairro", ponderou o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus.

'Olheiros do tráfico'

São pessoas que, geralmente, ficam posicionadas em pontos estratégicos próximos a locais onde há venda de drogas, portando radiocomunicadores e/ou fogos de artifício. A missão deles dentro do tráfico é avisar a facção para a qual trabalha sobre a chegada da polícia e/ou de grupos rivais.

POLÍCIA INVESTIGA QUEM COMPRA E OPERA O APARELHO

Segundo o comandante da PM, as facções utilizam de duas pessoas distintas, dentro das próprias organizações, para o abastecimento de drones usados no tráfico de drogas: um que exclusivamente faz a compra e outro que é designado para a operação do aparelho. "Todos já estão sendo identificados", disparou.

"Já temos uma estratégia para isso. Primeiro já temos informação de quem é que está comprando esse drone. Vamos atuar com serviço de inteligência e tropas especializadas para prender também esse traficante que está operando o aparelho", afirmou.

"É BURRICE"

Para Caus, apesar dos benefícios dos drones, o uso deles por criminosos não é um ato muito inteligente. Ele destaca que a utilização do equipamento acaba indicando para a polícia o local onde o traficante operador está.

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Digo eu até que é uma burrice do traficante que usa porque vai trazer a polícia para cada vez mais perto dele

Coronel Douglas Caus
Comandante-geral da Polícia Militar
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Ainda segundo o comandante da PM, os drones são utilizados por várias facções. "Está chegando aqui no Estado com um volume pequeno, mas em outros, onde atuam facções maiores, o uso do drone é mais frequente principalmente para vigiar o trajeto da Polícia Militar para eles se protegerem", disse.

PM TEM 33 DRONES E PREVISÃO DE ADQUIRIR MAIS

Apesar dos criminosos estarem se atualizando no uso de tecnologias, a polícia já há um bom tempo opera drones. O uso do equipamento foi normatizado pela Polícia Militar do Espírito Santo em junho de 2018. De acordo com a corporação, atualmente há 33 aparelhos em uso, e 145 pilotos cadastrados para operá-los. Ainda há previsão de que 38 novos drones apropriados para o serviço policial sejam adquiridos pela instituição neste ano.

Em julho de 2019, a Polícia Civil anunciou que iria passar a utilizar drones na caça aos bandidos. Na ocasião, oito aparelhos foram adquiridos e 15 policiais participaram de um treinamento para aprender a operar o equipamento.

"Os drones serão usados de diversas formas e situações. Algumas das situações primordiais e mais importantes são em casos em que nós temos a necessidade de dar apoio ao cumprimento de mandados de busca e apreensão em locais de risco e em locais em que é necessário termos uma visão privilegiada do ambiente", disse o delegado Rafael Correa, à época coordenador do Curso Básico de Pilotagem de Drones. 

Polícia Civil e Militar recebem drones
Superdrones recebidos pelas polícias em novembro de 2019. (Isaac Ribeiro)

Em novembro de 2019, as polícias Civil e Militar divulgaram a entrega de superdrones equipados com câmera térmica, holofotes e um sistema de som que permitiam a emissão de comandos de voz diretamente do rádio. Por meio de acesso à internet, as operações policiais poderiam até ser transmitidas ao vivo pelas redes sociais.

"O drone pode ser usado para observação e prender criminosos em diversos cenários operacionais. Drones com câmera de calor e com essa precisão, é o melhor que as polícias têm até hoje. A ideia é ter isso em todo o Estado", disse Roberto Sá, que à época era secretário estadual de Segurança Pública.

Questionada pela reportagem sobre a quantidade de drones a serviço da Polícia Civil atualmente, a corporação respondeu que não informa a quantidade de drones, mas sinalizou que estão previstas novas aquisições.

"Os equipamentos são utilizados durante as operações policiais, investigações e análises periciais, sendo, principalmente, utilizados pelas unidades da Superintendência de Polícia Especializada (SPE), como o Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc), Departamento Especializado de Investigações Criminais (DEIC) e pelo Departamento Especializado de Homicídio e Proteção à Pessoa (DEHPP)", finalizou.

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