Apreensões cada vez mais frequentes na Grande Vitória mostram que criminosos têm apostado no uso de drones como "olheiros" na guerra do tráfico. Seja para avistar grupos rivais ou a chegada da polícia, os equipamentos fazem parte do "kit do crime", aliados aos conhecidos radiocomunicadores.
Neste mês, por exemplo, veículos aéreos não-tripulados foram apreendidos pela polícia em dois dias consecutivos. O primeiro em Planalto Serrano, na Serra. O equipamento era usado para monitorar a movimentação de viaturas na comunidade. Dois adolescentes foram detidos na ação.
A segunda apreensão ocorreu em Vitória, durante a tentativa de invasão de traficantes do Morro do Cabral ao Morro da Piedade. Houve confronto e intensa troca de tiros. O líder do tráfico do Cabral acabou morto. Com um comparsa dele, que também acabou baleado, a polícia encontrou outro drone com duas baterias reservas.
Apesar de não serem apreensões inéditas, a frequência chama a atenção para a dimensão do uso de tecnologias pelas facções criminosas: antes, apenas radiocomunicadores serviam para avisar sobre a presença da polícia e de rivais. Agora, os drones funcionam como verdadeiros olheiros do tráfico.
"É um olheiro só que com autonomia maior. Tem câmera que pode ir até 5 quilômetros, por exemplo, também pode sobrevoar mata. É o traficante na proteção e controle de seu próprio território usando essa tecnologia que dá a ele uma visão geral do bairro", ponderou o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus.
São pessoas que, geralmente, ficam posicionadas em pontos estratégicos próximos a locais onde há venda de drogas, portando radiocomunicadores e/ou fogos de artifício. A missão deles dentro do tráfico é avisar a facção para a qual trabalha sobre a chegada da polícia e/ou de grupos rivais.
Segundo o comandante da PM, as facções utilizam de duas pessoas distintas, dentro das próprias organizações, para o abastecimento de drones usados no tráfico de drogas: um que exclusivamente faz a compra e outro que é designado para a operação do aparelho. "Todos já estão sendo identificados", disparou.
"Já temos uma estratégia para isso. Primeiro já temos informação de quem é que está comprando esse drone. Vamos atuar com serviço de inteligência e tropas especializadas para prender também esse traficante que está operando o aparelho", afirmou.
Para Caus, apesar dos benefícios dos drones, o uso deles por criminosos não é um ato muito inteligente. Ele destaca que a utilização do equipamento acaba indicando para a polícia o local onde o traficante operador está.
Ainda segundo o comandante da PM, os drones são utilizados por várias facções. "Está chegando aqui no Estado com um volume pequeno, mas em outros, onde atuam facções maiores, o uso do drone é mais frequente principalmente para vigiar o trajeto da Polícia Militar para eles se protegerem", disse.
Apesar dos criminosos estarem se atualizando no uso de tecnologias, a polícia já há um bom tempo opera drones. O uso do equipamento foi normatizado pela Polícia Militar do Espírito Santo em junho de 2018. De acordo com a corporação, atualmente há 33 aparelhos em uso, e 145 pilotos cadastrados para operá-los. Ainda há previsão de que 38 novos drones apropriados para o serviço policial sejam adquiridos pela instituição neste ano.
Em julho de 2019, a Polícia Civil anunciou que iria passar a utilizar drones na caça aos bandidos. Na ocasião, oito aparelhos foram adquiridos e 15 policiais participaram de um treinamento para aprender a operar o equipamento.
"Os drones serão usados de diversas formas e situações. Algumas das situações primordiais e mais importantes são em casos em que nós temos a necessidade de dar apoio ao cumprimento de mandados de busca e apreensão em locais de risco e em locais em que é necessário termos uma visão privilegiada do ambiente", disse o delegado Rafael Correa, à época coordenador do Curso Básico de Pilotagem de Drones.
Em novembro de 2019, as polícias Civil e Militar divulgaram a entrega de superdrones equipados com câmera térmica, holofotes e um sistema de som que permitiam a emissão de comandos de voz diretamente do rádio. Por meio de acesso à internet, as operações policiais poderiam até ser transmitidas ao vivo pelas redes sociais.
"O drone pode ser usado para observação e prender criminosos em diversos cenários operacionais. Drones com câmera de calor e com essa precisão, é o melhor que as polícias têm até hoje. A ideia é ter isso em todo o Estado", disse Roberto Sá, que à época era secretário estadual de Segurança Pública.
Questionada pela reportagem sobre a quantidade de drones a serviço da Polícia Civil atualmente, a corporação respondeu que não informa a quantidade de drones, mas sinalizou que estão previstas novas aquisições.
"Os equipamentos são utilizados durante as operações policiais, investigações e análises periciais, sendo, principalmente, utilizados pelas unidades da Superintendência de Polícia Especializada (SPE), como o Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc), Departamento Especializado de Investigações Criminais (DEIC) e pelo Departamento Especializado de Homicídio e Proteção à Pessoa (DEHPP)", finalizou.
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