Suspeita de vender restos dos abates de animais e até pênis de boi, uma fábrica clandestina na Zona Rural de Guarapari foi interditada nessa quarta-feira (6), em uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério da Agricultura. Investigações iniciais apontam que esses resíduos seriam vendidos a terceiros para a fabricação ilegal de embutidos, colocando em risco a saúde dos consumidores.
De acordo com informações divulgadas na manhã desta quinta-feira (7), cerca de 50 toneladas de subprodutos de origem animal foram apreendidos, como glote, traqueia, aorta, vergalho (pênis), osso e sebo – todos armazenados de forma irregular, muitos em sacos plásticos sem identificação.
À frente da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), o delegado Eduardo Passamani explicou que a operação teve início depois de uma fiscalização feita em um abatedouro clandestino na Grande Vitória, que apontou que partes dos animais eram encaminhadas à empresa em Guarapari.
"A preocupação inicial era tirar esse material de circulação. Agora, vamos levantar dados sobre a empresa, investigar para onde esse material estava indo e os estabelecimentos que estavam fornecendo os subprodutos, incluindo açougues na Grande Vitória, porque teriam que exigir certificados", disse.
Ainda segundo o delegado, os responsáveis podem responder por três crimes: fornecimento e comércio de produto irregular, exercício ilegal de atividade econômica, e exercício de atividade econômica sem licença ambiental. "As penas somadas podem passar de cinco anos", afirmou.
De acordo com a Polícia Civil, há também indícios de que esses restos de animais fossem até exportados clandestinamente, uma vez que "têm alto valor e procura em países orientais". Uma administradora da empresa chegou a prestar depoimento, mas foi liberada, por se tratar de uma ação fiscalizatória.
Na coletiva desta quinta-feira (7), a auditora fiscal federal Paula Matos Garcia esclareceu que, no caso de destinação à alimentação humana, essas partes dos animais são retiradas e tratadas dentro do próprio abatedouro, como outras carnes comuns, permitindo uma série de controles sanitários.
"A grande maioria dos subprodutos estavam sem rotulagem, o que pode significar que foi obtido em condições sanitárias inadequadas e sem as inspeções veterinárias exigidas por lei federal. Alguns que estavam rotulados vinham como 'produto não comestível'", relatou a especialista.
"A forma como eles estavam armazenados (congelados) indica que poderiam estar sendo destinados à alimentação humana. Se fosse para a produção de farinha, existe uma norma de que o resíduo precisa sair do abatedouro para a empresa, sem necessidade de resfriamento, em até 24 horas", continuou.
De acordo com a auditora, os riscos desse tipo de atividade clandestina são muito altos. "Sem a inspeção, o animal pode ter uma condição que traz risco de doenças como a tuberculose e infecções alimentares, como a salmonela. Não havendo condição higiênica também pode gerar atividade microbiológica", afirmou.
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