Em um desabafo durante uma entrevista ao programa Encontro com Patrícia Poeta, da TV Globo, o médico-cirurgião Samir Sagi El-Aouar, pai da médica Juliana Ruas El-Aouar, que foi encontrada morta em um quarto de hotel em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, fez um apelo para que casos de feminicídio acabem no Brasil e no mundo.
Ex-prefeito de uma cidade de Minas Gerais, Fuvio Luziano Serafim, de 44 anos, marido de Juliana, é suspeito da morte da esposa na madrugada do último sábado (2). Robson Gonçalves dos Santos, de 52 anos, motorista do casal, estava em um quarto ao lado no dia do crime e também foi preso.
“Ele bateu tanto nela que quebrou o crânio em dois lugares, massacrou o estômago dela, asfixiou a minha filha. Ela, com 50 quilos, e ele corpulento, machucou minha filha”, afirmou o pai de Juliana ao se referir ao genro.
Em entrevista ao repórter Jerry Santos, da InterTV, afiliada da Rede Globo em Teófilo Otoni (MG) no último domingo (3), Samir Sagi El-Aouar já havia dito que a família tinha conhecimento de agressões recentes do marido contra a esposa e acredita que o crime tenha sido planejado pelo ex-prefeito.
“Se minha filha tivesse morrido de forma natural, eu sentiria, mas não da forma que ele fez. Ele torturou, bateu, machucou. Imagina o pavor que ela sentiu a noite, dentro do quarto sem ninguém para defender”, disse o homem no programa Encontro, da TV Globo.
Samir agradeceu e elogiou o trabalho da Polícia Civil do Espírito Santo, que prendeu e autuou o marido da vítima e o motorista do casal pela morte de Juliana.
Ainda durante a entrevista, o médico-cirurgião disse que os vizinhos ouviram ruídos no quarto onde a filha estava hospedada e que poderiam ter averiguado o que estava acontecendo.
No atestado emitido no último sábado (2) pelo Departamento Médico Legal de Colatina, ao qual a reportagem de A Gazeta teve acesso, as causas da morte apontadas são:
"Um sujeito violento, tirou a vida da minha filha, não tem volta, mas as pessoas que me ouvem: vamos lutar para que não aconteça outros feminicídios, vamos lutar para que esses homens parem de matar as mulheres nesse país, respeitem o ser humano mulher.
Juliana Pimenta Ruas El-Aouar, de 39 anos, era médica em Teófilo Otoni (MG) e foi encontrada morta dentro do quarto de um hotel no bairro Benjamim Carlos dos Santos, em Colatina, na manhã do último sábado (2).
Em nota divulgada à reportagem no mesmo dia, a Polícia Militar havia informado que uma equipe foi acionada para verificar a informação de que teria acontecido um homicídio nas dependências de um hotel da cidade. Quando os policiais chegaram ao local, o gerente do estabelecimento disse aos militares que havia uma hóspede em um quarto com o marido e, em outro quarto, estava o motorista do casal.
Ainda em relato aos policiais, o gerente do hotel disse que, durante a madrugada, outros hóspedes reclamaram de barulho e bagunça no quarto do casal. Já pela manhã, o marido da mulher compareceu à recepção do estabelecimento, bastante alterado, querendo pagar a conta, alegando que a esposa estava passando mal e teria desmaiado. Nesse momento, foi feito contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou o óbito no local.
Conforme consta no boletim de ocorrência da PM, um agente da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Colatina compareceu ao local do fato para realizar as diligências. Ao questionar o ex-prefeito sobre o que teria acontecido dentro do quarto, o homem relatou que a esposa teria passado por um procedimento cirúrgico em um hospital particular da cidade na última sexta-feira (1º), e que, após isso, os dois teriam ido a uma churrascaria. Segundo ele, a mulher estava feliz e ambos foram dormir às 20h.
O homem ainda relatou que ao acordar por volta de 8h de sábado, encontrou a esposa desmaiada na cama, possivelmente já morta, e foi orientado pelo Samu a colocá-la no chão do quarto para tentar reanimá-la.
Em contrapartida, segundo o boletim de ocorrência da PM, o motorista do casal relatou ao agente da DHPP que foi chamado pelo marido da vítima para ir ao quarto onde os dois estavam hospedados, pois a esposa havia caído no banheiro e precisava de ajuda.
Como ambos apresentaram informações diferentes do cenário encontrado pela perícia, foram encaminhados à Delegacia Regional do município.
Segundo o boletim de ocorrência, o quarto onde o casal estava hospedado havia garrafas de cerveja, sangue nas roupas de cama e a vítima foi encontrada machucada.
Fuvio Luziano Serafim era casado com a vítima desde novembro de 2018. Ele foi prefeito de Catuji, no Vale do Mucuri (MG) por dois mandatos, tendo sido eleito em 2012 e reeleito em 2016. Fuvio também é administrador de uma empresa de laticínios em Minas Gerais.
O casamento com Juliana foi o segundo do ex-prefeito de Catuji. Sua primeira mulher, Zeliane Rodrigues Soares, morreu em outubro de 2016, aos 29 anos, após sofrer acidente de trânsito na MG 342.
Na segunda-feira (5), Fuvio Luziano Serafim (esposo da vítima) e o motorista do casal Robson Golçalves dos Santos passaram por audiência de custódia e tiveram a prisão em flagrante convertida por preventiva.
Após depoimentos na Polícia Civil, os dois foram autuados por homicídio qualificado por motivo torpe, sem que a vítima tivesse direito à defesa e por ela ser mulher, configurando o feminicídio. Na audiência, o juiz entendeu que existem indícios que provam que Fuvio cometeu o crime.
"Trata-se de crime de homicídio (feminicídio), perpetrado de maneira fria e desprezível, imputado ao marido da vítima e ao outro custudiado. Conforme laudo apresentado pelo SML, a vítima sofreu diversas (graves) lesões, sendo as causas da morte hipoxemia, asfixia mecânica, broncoaspiração e traumatismo cranioencefálico. [...] Em razão da reprovabilidade das condutas em tese praticadas pelos autuados e para a garantia da ordem pública, entendo que a segregação cautelar é medida que se impõe no presente caso", expõe.
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