Pais de 44 alunos de uma escola estadual, furados com a mesma agulha por um professor de Química durante um experimento de tipagem sanguínea em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, relataram nesta terça-feira (18) o sentimento de revolta e preocupação com o caso, que passou a ser investigado pela Polícia Civil. O professor foi demitido e a corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu) disse que abriu procedimento para apurar o ocorrido.
Em entrevista ao repórter Enzo Teixeira, da TV Gazeta, uma das mães contou como soube do caso. “A gente ficou sabendo através da minha menina, que ligou e falou que eles estavam indo para o hospital para fazer o exame porque o professor tinha furado eles com uma agulha, todos eles com a mesma agulha. Ele (o professor) levou (os alunos) para fazer uma aula de Química no laboratório, só que não passou para a diretora a aula que ia dar. E aconteceu isso aí, dele furar o dedo de todos com a mesma agulha, uma lanceta”, disse.
O nome da escola, do professor e dos entrevistados não estão sendo divulgados para não expor os estudantes.
"A escola levou os alunos para fazer um exame. Fizeram teste rápido, deu todos eles negativo, mas a preocupação da gente, como pai e mãe, é: e no futuro? O que vai acontecer? Porque algumas doenças não aparecem do dia para o outro, né? Demora anos para poder aparecer. Que garantia eles vão dar pra gente de que um filho da gente não vai pegar alguma coisa e ficar doente daqui um ano, dois anos?", disse.
"Querendo ou não, o professor violou o direito do pai, né? São todos menores, e ele quis passar por cima da autoridade dos pais", completou a mãe durante a entrevista.
O pai de outra aluna disse que, apesar de a escola ter feito exames nos alunos, e estes indicarem que todos passam bem, ele fará um exame particular. "A gente se preocupa, porque a gente acompanha nossos filhos desde pequenos, com as vacinações certas, e a gente tem que se preocupar. Eu vou fazer um exame particular na minha filha para ter uma segurança maior."
Nesta quinta-feira (20), em nota, a defesa do professor declarou que “a única preocupação dele é o bem-estar dos alunos e da comunidade escolar envolvida nesta situação”.
O advogado Enoc Joaquim da Silva disse que “nos últimos dias fora divulgada a informação de que o professor não teria sido localizado pela autoridade policial", o que segundo a defesa não procede, "vez que desde a última terça-feira a defesa do professor fez contato com a assessoria do Ministério Público e com a Autoridade Policial de Laranja da Terra, se colocando à disposição para qualquer esclarecimento necessário".
“Imperioso destacar que o professor sempre desenvolveu seu trabalho com zelo e ética, buscando sempre o melhor caminho para o aprimoramento educacional de seus alunos, sendo profissional da área há pelo menos 13 anos”, disse o advogado, na nota.
A defesa informou que o professor prestou depoimento na quarta-feira (19) à polícia em Laranja da Terra, apresentando o que chamou de “verdadeira narrativa dos fatos”. O advogado confirmou que a demissão do professor se deu de forma unilateral pela Secretaria de Estado de Educação (Sedu).
Segundo a defesa, não será detalhado o teor do que o professor demitido disse à polícia “a fim de não trazer prejuízo ao trabalho investigatório”.
“A aula prática com os alunos não se tratou de realização de exame para identificação do tipo sanguíneo dos alunos e sim de visualização de células em microscópio, tendo o professor se cercado de todos os cuidados necessários (de acordo com os materiais que tinha a sua disposição) para evitar qualquer tipo de prejuízo ou risco aos alunos", informou a defesa do professor.
Por fim a defesa disse que a participação dos alunos no experimento “se deu de forma voluntária, não havendo qualquer imposição ou constrangimento para a participação dos mesmos nas atividades desenvolvidas", que as "atividades se deram em Laboratório de Ciência existente na própria instituição educacional”, e que o professor está à disposição para “qualquer esclarecimento”.
Mais de 40 alunos de uma escola de Laranja da Terra chegaram a ser hospitalizados após o professor realizar testes de tipagem sanguínea reutilizando a mesma agulha na última sexta-feira (14).
De acordo com a Secretaria da Educação (Sedu), os alunos fazem parte das turmas de 2ª e 3ª série do Ensino Médio e têm idades entre 16 e 17 anos. Eles participavam da aula de Práticas Experimentais em Ciências, ministrada por um professor de Química que demonstrou como realizar um teste para descobrir o tipo sanguíneo de cada um.
A Sedu informou ainda que os alunos estão bem e frequentando as aulas normalmente. Todos os 44 estudantes foram submetidos a teste rápido de diagnóstico de infecção, que deu negativo para todas as doenças testadas. Quanto ao professor, que não teve identidade divulgada, o contrato foi encerrado e o caso foi encaminhado para a corregedoria da Sedu.
Na segunda-feira (17), ocorreu uma reunião entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde para alinhar o protocolo a ser adotado no acompanhamento dos estudantes, que vão refazer os testes em 30 dias. Ainda na segunda-feira, a escola se reuniu com pais e alunos. Eles informaram à TV Gazeta que a reunião teve o objetivo de "acalmar" os pais e orientá-los sobre como proceder com os filhos.
Segundo a Polícia Civil, o caso seguirá sob investigação da Delegacia de Polícia de Laranja da Terra e detalhes da investigação não serão divulgados no momento. Procurada pela reportagem de A Gazeta, a Secretaria Municipal de Saúde respondeu que se prontificou rapidamente a atender os adolescentes no dia do ocorrido e que segue acompanhando o caso.
"A Secretaria Municipal de Saúde de Laranja da Terra recebeu a informação de que alunos de uma escola necessitavam de atendimento urgente.
Vale ressaltar que cabe à Secretaria Estadual de Educação, juntamente com outros órgãos estaduais, esclarecer os detalhes sobre o ocorrido dentro da unidade escolar.
Diante da demanda, a Secretaria acionou o médico plantonista do hospital e a Vigilância Epidemiológica do município, estruturando uma linha de ação imediata. Além disso, foi feito contato com a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo, que orientou sobre os protocolos e medidas a serem adotadas na ocasião.
Foram prestados 44 atendimentos, pelas equipes do Hospital Municipal de Laranja da Terra e da Unidade Básica de Saúde da sede. Todos os atendidos estavam em boas condições de saúde, sem apresentar sintomas incomuns ou agravantes.
A Secretaria Municipal de Saúde segue acompanhando o caso de perto prestando apoio aos alunos e familiares."
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