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Pau-Brasil extraído ilegalmente no ES virava instrumento musical na Europa e nos EUA

Pau-Brasil extraído ilegalmente no ES virava instrumento musical na Europa e nos EUA

Investigações estimam que quadrilha tenha lucrado ilegalmente cerca de R$ 370 milhões. O superintendente da Polícia Federa do Espírito Santo, Eugêncio Ricas, explica como esquema funcionava

Publicado em 8 de novembro de 2022 às 12:29

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Madeira ilegal apreendida durante a Operação Ibirapitanga II, da Polícia Federal e do Ibama
Madeira ilegal apreendida durante a Operação Ibirapitanga II, da Polícia Federal e do Ibama. (Divulgação | Polícia Federal)

A madeira de Pau-Brasil extraída ilegalmente na flora brasileira virava instrumentos musicais nos Estados Unidos e em países da Europa. É o que apontam as investigações da Polícia Federal (PF) na 2ª fase da Operação Ibirapitanga, deflagrada nesta terça-feira (8) junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A ação visa o cumprimento de 37 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Vara Federal Criminal Linhares, para reprimir a ação de um grupo especializado na exploração ilegal de espécies ameaçadas de extinção, como o Pau-Brasil. São 31 mandados cumpridos em cidades do Espírito Santo, a maioria em Aracruz, na Região Norte capixaba, e seis em outros três Estados do Brasil.

  • Onde estão sendo cumpridos mandados no ES
  • Dois em Domingos Martins
  • Um em Santa Teresa
  • Dois em Linhares
  • Cinco em João Neiva
  • 21 (vinte e um) em Aracruz

Também estão sendo cumpridos um mandado de busca e apreensão na cidade de São Gonçalo (RJ), três em Camacan (BA) e dois em Coruripe (AL). Além dos policiais federais lotados na Delegacia de Repressão aos Crimes contra o Meio Ambiente (Delemadph), a operação conta com 50 policiais do Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas, ainda 32 servidores do Ibama.

O superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, explicou que a associação criminosa tem ramificação internacional, com interesse na indústria de acessórios de instrumentos musicais de corda, como arcos de violino e arcos de contrabaixo. O grupo atua no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas.

Segundo Ricas, a madeira era extraída do Parque Nacional do Pau-Brasil, em Porto Seguro, na Bahia. Para dar um ar de legalidade, os suspeitos falsificavam documentos indicando que a matéria-prima usada era retirada de mourões e cercas.

Tendo como referência somente as 74.000 unidades de varetas/arcos já apreendidas no curso da investigação até a deflagração da primeira fase e considerando um valor final de mercado médio de US$ 1 mil por cada arco de violino comercializado no exterior, estima-se que os valores finais poderiam alcançar cerca de R$ 370.000.000 (trezentos e setenta milhões de reais).

“O mundo musical considera que o Pau-Brasil é a melhor madeira para se fazer esse tipo de instrumento. E a organização criminosa se valia desses aspectos da madeira para exportar para Europa e Estados Unidos. As investigações apontam que essa organização lucrou, no mínimo, R$ 370 milhões”, explicou o superintendente.

Segundo a Polícia Federal, trata-se de avaliação módica, já que esses instrumentos podem alcançar valores de mercado muito maiores como os verificados em algumas lojas americanas que negociam o arco de violino feito de Pau-Brasil por até US$ 2,6 mil, ou seja, mais de R$ 14 mil.

Madeira ilegal apreendida durante a Operação Ibirapitanga II, da Polícia Federal e do Ibama(Divulgação | Polícia Federal)

PF JÁ APREENDEU MAIS DE 70 MIL VARETAS DE PAU-BRASIL

As investigações começaram após fiscalizações realizadas pelo IBAMA no âmbito da Operação “DÓ RÉ MI” que resultaram em apreensões de mais de 42 mil varetas de Pau-Brasil, além de mais de 150 toretes. No ano de 2021, na primeira fase da operação, foram apreendidas outras 32 mil varetas e 85 toretes.

Naquele momento, foram descobertos indícios que apontavam para a existência de uma associação criminosa envolvendo extratores, transportadores, intermediários, atravessadores, arqueiros e empresas de produção e exportação de acessórios de instrumentos musicais de corda.

A atuação criminosa consistia em beneficiar o Pau-Brasil extraído clandestinamente de Unidades de Conservação Federal, especialmente do Parque Nacional do Pau-Brasil, visando a comercialização do produto acabado em formato de arcos de violino/contrabaixo, ou mesmo na forma de varetas para o exterior, sem qualquer controle das autoridades brasileiras.

O arco é o produto final produzido a partir da vareta. No Brasil as varetas são adquiridas por valores que giram entre R$ 20 e R$ 40, ao passo que os arcos podem ser comercializados no exterior por até U$ 2.600 (R$ 14.600).

Aspas de citação

Não tem ninguém preso. Hoje não houve mandado de prisão, apenas mandados de busca e apreensão. Arrecadamos objetos de prova, telefone celular e madeiras que por ventura foram encontradas

Eugênio Ricas
Superintendente da PF no Espírito Santo
Aspas de citação

CRIMES SÃO INVESTIGADOS

Os investigados poderão responder pela prática de Associação Criminosa, Contrabando, Crimes Contra à Flora, por Outros Crimes Ambientais e Contra à Administração Ambiental, com penas combinadas que podem ultrapassar 15 (quinze) anos de prisão.

A pena poderá ser agravada, uma vez que o produto do crime foi enviado ao exterior e se trata de espécie em extinção. A Polícia Federal não divulgou nomes de suspeitos dos crimes.

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