A organização criminosa que atuava promovendo migração ilegal do Espírito Santo para os Estados Unidos alugava crianças para criar "falsas famílias". Isso era feito, segundo o delegado Ivo Roberto Costa, da Polícia Federal, por que o procedimento de deportação de famílias no país da América do Norte é mais complicado, o que garantiria, em tese, um tempo maior de permanência dos migrantes em solo americano.
Em entrevista à reportagem da TV Gazeta, o delegado, que faz parte da equipe de combate ao Crime Organizado da Polícia Federal do Espírito Santo, explicou que os "coiotes", como são chamados os criminosos que organizam a entrada ilegal de pessoas nos EUA pela fronteira com o México, faziam uma espécie de aluguel de crianças. Para isso, os verdadeiros pais eram pagos e os documentos eram fraudados.
"Os coiotes têm essa informação de que, para famílias, o procedimento legal nos Estados Unidos para deportação é um pouco mais complicado, o que, a princípio, daria a eles uma oportunidade de permanecer em solo americano. Em razão disso, eles tentam criar famílias fraudulentas. Eles emprestam crianças para pessoas que, na verdade, não são os verdadeiros genitores, falsificam a documentação e fazem com que essas pessoas viajem juntas e ingressem em território americano como uma verdadeira família", disse.
Na operação desta sexta-feira (24), que teve como alvo uma casa no município de Fundão, que era utilizada como ponto de espera, onde as pessoas que entrariam ilegalmente nos EUA esperassem a emissão de documentos e passagens, foram encontrados indícios de que a prática do aluguel de crianças era feita no Espírito Santo. Segundo o delegado Ivo Roberto, no local estavam quatro menores de idade, de 3, 9, 14 e 17 anos.
"De fato, na data de hoje (24), durante as entrevistas realizadas pela equipe da Polícia Federal, um dos adultos colocou em dúvida a paternidade de uma das crianças que constavam na reserva da sua viagem. É um indicativo de que a gente possa estar diante de um desses casos", acrescentou.
Ivo Roberto explicou que a casa está alugada desde o começo do mês de julho deste ano e que, por isso, mais pessoas podem ter passado pela residência. Ainda conforme o delegado, a Polícia Federal chegou até o local por meio de uma denúncia e encontrou as dez pessoas em condições precárias.
"A Polícia Federal recebeu uma denúncia sobre essa residência que vinha sendo utilizada para abrigar pessoas que viriam ao estado do Espírito Santo aguardar o momento adequado para iniciar sua viagem na tentativa de ingressar ilegalmente nos Estados Unidos. A casa já vinha sendo utilizada por essa organização criminosa há cerca de dois a três meses. Em julho eles iniciaram o contrato de locação e, por lá, passaram pessoas que desejavam realizar essa viagem na tentativa de ingressar ilegalmente nos Estados Unidos", detalhou.
O delegado Ivo Roberto Costa explicou que o Espírito Santo possui altos índices de migração ilegal para os Estado Unidos, ocupando inclusive altas colocações no ranking de estados brasileiros com o maior número de pessoas que procuram os "coiotes". Ivo Roberto explicou que isso pode ter relação com a proximidade com o estado de Minas Gerais, que, segundo ele, também possui altos números de migração ilegal.
"Hoje, a estatística demonstra que o Espírito Santo ocupa o terceiro lugar da origem dos brasileiros que tentam ingressar ilegalmente nos Estados Unidos. O que a gente acredita é que, em razão da proximidade com o estado de Minas Gerais, que é um estado que concentra o grande volume de brasileiros que busca ingressar ilegalmente nos EUA, isso tenha feito com que essa logística chegasse ao Espírito Santo e fosse oferecida aos cidadãos que vivem no Estado", argumentou.
No início deste mês, o caso da enfermeira Lenilda dos Santos, de 49 anos, veio à tona. Ela morreu tentando cruzar a fronteira do México com os Estado Unidos de forma ilegal. De acordo com familiares de Lenilda, ela teria sido abandonada pelo grupo depois de passar mal durante a caminhada.
O jornal Folha de São Paulo teve acesso a mensagens de voz enviadas por Lenilda a familiares durante a travessia. “Eu dormi aqui, eu não aguentei, eu tô sozinha. Mas eles estão vindo me buscar. Eu tô chegando, falta um pouquinho só para eu chegar. Eu não aguentei”, disse a enfermeira nos áudios.
Lenilda decidiu tentar cruzar a fronteira de forma ilegal depois de adquirir uma dívida e não conseguir pagar as mensalidades das faculdades das filhas. Ela já havia morado nos EUA no início dos anos 2000 e decidiu voltar ao país à procura de melhores condições de vida.
*Com informações da Folha de São Paulo
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta