A morte de um rapaz durante uma abordagem policial desencadeou momentos de tensão em Cidade de Pomar, na Serra, por volta de meio-dia desta sexta-feira (7). Houve confronto entre manifestantes e policiais militares. Pouco tempo depois, um coletivo foi incendiado no bairro vizinho, Nova Carapina II.
Apesar de serem bairros distintos, a Polícia Militar diz que há chances dos eventos terem relação, mas orienta aguardar as apurações da Polícia Civil, responsável pelas investigações de crimes.
"Informações que chegaram à Polícia Militar dão conta que o incêndio ao ônibus tem relação com a situação do bairro Cidade Pomar. Agora, buscamos localizar o veículo usado por quatro homens para abordar o coletivo e atear fogo. Possivelmente se trata de moradores de Cidade Pomar que possuem relação com o crime, pois chegaram armados para atear fogo em um veículo do transporte público de forma criminosa e devem ser levados à Justiça", observou o Capitão Talhes, comandante da 3ª Companhia do 6º Batalhão.
O protesto de um grupo de moradores de Cidade Pomar começou por volta das 11 horas desta sexta-feira (7). Os manifestantes exibiram cartazes em protesto contra a morte de Wanderson de Araújo Soares, 18 anos, e também fizeram barricadas, o que fechou a rua principal do bairro.
A indignação do grupo era porque Wanderson morreu durante uma abordagem policial, ao buscar a namorada de moto no trabalho dela, por volta de 1 hora da madrugada. A Polícia Militar disse que Wanderson estaria armado e carregando droga, por isso ele não teria parado com o veículo quando os militares deram ordem de parada.
"Minha irmã contou que eles iam para casa quando a polícia os viu e jogou o carro em cima da moto, sem ligar sirene. Ela caiu sobre a viatura e o PM atirou contra o Wanderson. Meu cunhado não estava armado, era um menino trabalhador, que ajudava todo mundo na comunidade, querido, e estava construindo uma casa para realizar o sonho de morar com a minha irmã. Infelizmente, agora é mais uma família que eles deixaram abalados. Esperamos por Justiça agora", pontuou o cunhado de Wanderson, que não quis ser identificado.
O familiar também revidou ao fato de Wanderson ter supostamente fugido dos militares.
"Ele não fugiria se a polícia tivesse dado voz de parada, pois o Wanderson não deixaria a vida dele e da minha irmã em risco. Ele já teve passagem sim, mas depois que conheceu minha irmã ele passou a trabalhar com ela e viviam bem. O que fizeram com ele foi uma bruta covardia", desabafou o cunhado.
O comandante da 3ª Companhia do 6º Batalhão da Polícia Militar, Capitão Thales, disse que equipes policiais foram acionadas para o local do protesto devido à imposição de um toque de recolher que obrigou comerciantes a fecharem as portas e pelo fato da manifestação estar impedindo o ir e vir dos demais moradores.
"O objetivo era levar segurança para a população. Nos deparamos com bloqueios de vias, tirando o direito de ir e vir de vários cidadãos e também pela depredação do patrimônio público, além de termos sido recebidos pelos manifestantes com pedradas, garrafas e rojões contra a tropa. Foi necessária formação de tropa de choque e foram usadas munição de borracha e granadas de gás lacrimogêneo para conter o grupo", observou o capitão.
Assim que houve a dispersão, os militares embarcaram nas viaturas e deixaram o local. No entanto, o patrulhamento de rotina foi reforçado e o comércio manteve as portas fechadas durante o restante do dia.
O comandante disse que contra o protesto foi necessária a ação de contenção devido ao caráter ilícito da ação. "Recentes operações policiais tem dado prejuízo aos traficantes locais. Muitas das pessoas que integravam o grupo de manifestantes são pessoas ligadas ao tráfico de drogas, mas que por não ter mandando de prisão ou flagrante delito nada poderia ser feito mesmo tendo esse conhecimento. Sempre que for necessário vamos atuar para conter esse tipo de ação", pontuou.
Com uma diferença de minutos entre o confronto entre militares e manifestantes, um ônibus do Transcol foi incendiado no bairro vizinho, Nova Carapina II. Quatro homens armados se dirigiram ao coletivo na Avenida Monte Carlos, apontaram armas e mandaram passageiros e ônibus deixarem o veículo.
Eles atearam fogo no Transcol da linha 824/825. As chamas intensas se espalharam e avançaram sobre dois carros que estavam próximos ao coletivo. O Corpo de Bombeiros foi acionado e fez a contenção das chamas, mas do ônibus só sobrou a carcaça.
A Ceturb-ES explicou que durante o dia algumas alterações de itinerário foram necessárias para evitar riscos aos usuários e trabalhadores do sistema. À noite, porém, todas as linhas que atendem a região operavam normalmente, mas com o apoio da Polícia Militar que reforçou a segurança no transporte coletivo que atende os bairros Cidade Pomar e Nova Carapina II.
Já sobre o bando que incendiou o ônibus, nenhum suspeito foi detido até o final do dia. O crime será investigado pela Delegacia Especializada de Crimes Contra Transporte de Passageiros. O ônibus incendiado será periciado. A população pode contribuir para o trabalho da Polícia de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br.
Na versão da Polícia Militar, a abordagem à Wanderson que foi registrada em boletim de ocorrência, descreve que a guarnição avistou o rapaz em uma moto, acompanhado da namorada na garupa. Mesmo com sinais luminosos para parar o veículo, ele teria empreendido fuga e a viatura perseguiu a dupla.
"O veículo colidiu na viatura e o indivíduo se levantou para fugir, sacando uma arma de fogo contra os policiais. Para revidar a injusta agressão, um dos policiais efetuou um tiro, que atingiu o indivíduo. Foi apreendido com ele um revólver calibre 38, um tablete de maconha próximo à motocicleta. Os próprios militares envolvidos na situação o levaram na viatura para o pronto atendimento", descreveu o Capitão Thales.
A namorada de Wanderson foi conduzida na condição de testemunha para a delegacia, onde os militares entregaram um tablete de maconha e um revólver calibre 38 que afirmaram estar com Wanderson.
Ao ser questionado se teria ocorrido excesso na ação dos militares, o Capitão Thales disse que os fatos falam por si. "Se o suspeito fez menção de atirar, o militar não precisa esperar que ele atire para revidar. Outro ponto é que um único disparo atingiu o indivíduo e os próprios militares o socorreram. Se olharmos os fatos podemos ver que não houve excesso, pois realizado disparo suficiente para cessar a injusta agressão e a testemunha não foi atingida e sequer foi considerada suspeita", argumentou.
A Polícia Civil foi procurada pela reportagem e disse que a morte de Wanderson será investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O revólver entregue pelos PMs como sendo por Wanderson foi encaminhado para o setor do Departamento de Criminalística - Balística, juntamente com as munições. Do mesmo modo, a droga foi encaminhada para o Laboratório de Química Legal, do Departamento Médico Legal da Polícia Civil.
Durante à tarde de sexta-feira (7), familiares de Wanderson estiveram no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, para fazer os transmites de liberação. O corpo também passou por exame cadavérico, que apontará a causa da morte.
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