A morte do jovem Gabriel Ferreira em Andorinhas, Vitória, durante uma ação da Polícia Militar, levantou o questionamento de parentes sobre a preparação dos PMs que estão na "linha de frente" das operações nas ruas. Em 2019, 30 pessoas foram mortas por policiais em confrontos no Espírito Santo.
A reportagem conversou com o chefe da Divisão Operacional do Comando da Polícia Ostensiva Metropolitano, major Cristelo, que explicou que o Estado é o que tem menos mortes em confrontos com PMs no Sudeste.
Em 2019, segundo dados da polícia, mais de 31 mil pessoas foram presas em operações militares e o uso da arma de fogo foi feito em 657 casos, o que resultou na morte de 30 pessoas: 3,1% das mortes que acontecem no Estado são provocadas por ações da PM.
Além disso, sempre que ocorre algum tiro por parte de militar em ação, a conduta é investigada pela Corregedoria, conforme explicou o major Cristelo.
"A Polícia Militar do Espírito Santo está preparada. Os nossos índices de ocorrências que resultam em morte de infrator tá bem abaixo do esperado por pesquisadores do Anuário de Segurança Pública, que falam que até 5% das mortes provocadas por policiais comparado com o número de mortes totais do local é aceitável. A nossa Polícia Militar tá com 3,1%. A população pode ficar tranquila. A população de bem sabe que a Polícia Militar é protetora, que está aqui para servir e proteger. A população que não quer a polícia é talvez aquela que já cometeu algum tipo de crime, mas a PM estará presente em todos os lugares", disse.
Cristelo explicou também que durante qualquer operação, apertar o gatilho é última das opções.
"A Polícia Militar tem treinamento constante e uma fiscalização rígida. O policial sai de casa orientado a ser proativo para prender o criminoso e reativo para o uso da força. Se o criminoso se render, ele vai ser preso. Se ele usar a força, o policial vai ter que responder usando os meios necessários para conter a injusta agressão. Qualquer ocorrência que o policial faz uso de força, ele vai responder ao Inquérito Policial Militar. Esse inquérito, após concluído, é encaminhado para o Ministério Público e para o judiciário, que vai fazer a análise: ou o policial vai responder a um processo ou o inquérito será arquivado", disse.
A Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo confirma que todos os procedimentos adotados pelos policiais durante o trabalho seguem um padrão, ainda que em situações de conflito.
"Desde o curso de formação de soldado, os policiais militares participam de um curso chamado de Método Giraldi, que é de preservação da vida. Neste curso é estudada a qualidade dos disparos, o momento de cessar a agressão. Anualmente também há o Teste de Avaliação de Tiro, que os policiais passam por treinamento com as pistolas", explicou o diretor social da Associação, cabo Ted Candeias Silva.
A morte do jovem Gabriel Ferreira, de 21 anos, foi a última que aconteceu em decorrência da intervenção de policiais, no sábado (14). De acordo com a ocorrência, houve a abordagem de um jovem armado em uma viela no bairro Andorinhas, em Vitória, que teria reagido e então foi baleado.
A família não concorda com a versão. O inquérito que investiga a morte já foi instaurado.
"Renderam ele, e ele simplesmente levantou as mãos, abaixou, porque ele não tava com nada, mas os policiais simplesmente foram pra cima dele e atiraram. A nossa dúvida é: porquê fizeram isso?", questionou a irmã Amanda Ferreira.
O corregedor adjunto da PM, tenente-coronel Pires, confirma que o jovem foi atingido por mais de um disparo e diz que os primeiros levantamentos do caso já começaram.
Entra ainda nessa estatística a morte do jovem Chesley de Oliveira Trabach, de 20 anos, atingido por três tiros durante uma abordagem da PM em maio, em Cariacica.
Na época, a polícia disse que o rapaz teria furado um bloqueio e atirado contra os militares. A família contesta. Testemunhas ficaram indignadas com o tratamento da polícia, que jogou o corpo de Chesley atrás da viatura. A Corregedoria da corporação instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar a ação, mas o resultado ainda não foi divulgado.
No dia 23 de novembro deste ano, outro caso: o ajudante de pedreiro Carlos Eduardo Costa Domingos, de 19 anos, foi morto com quatro tiros em uma abordagem da PM, na Serra. Ele estava indo assistir ao jogo do Flamengo na casa da mãe.
A mãe do jovem, Aline de Oliveira Costa, contou que testemunhas disseram que os PMs comemoraram a morte do filho dela.
"Ele já estava rendido. Foi a própria população que me falou, que meu filho ainda saiu do carro, levantou a mão na cabeça, e mesmo assim foi alvejado na cabeça com um tiro à queima roupa. Agora, como que eu ficou? Como que a família fica?", questionou.
Com informações da TV Gazeta. Reportagem de Diony Silva
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