O cabo da Polícia Militar Deivid Cavalcante Amorim, preso após agredir um homem e uma mulher na área do estacionamento do Aeroporto de Vitória, é investigado por envolvimento em outra confusão, que resultou em um homem baleado. O caso aconteceu no dia 25 de março deste ano, em Santa Paula II, Vila Velha, porque o PM achou que um cliente do bar em que ele estava havia "olhado" para a mulher que estava com ele.
A reportagem de A Gazeta teve acesso aos detalhes do caso de março deste ano, descritos no documento que foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar para apuração. Confira abaixo.
A vítima do dia 25 de março foi uma mulher de 45 anos e o cliente de um bar, que não tinha a ver com a confusão, mas acabou baleado. Ela relatou que estava no estabelecimento, com o marido, a sobrinha, um bebê de nove meses e um casal de amigos. Tudo estava bem.
Na mesa ao lado, estavam o cabo Deivid e a mulher que o acompanhava. Pouco após 1h da madrugada, a moça que estava com o PM levantou e foi na direção deles, dizendo: "Eu vim aqui para pedir que vocês parem de olhar para a mesa, porque pode dar confusão".
A mulher afirmou que o marido da vítima estava olhando para ela de forma excessiva. Neste momento, segundo a vítima, o cabo da PM se levantou e apontou a arma para a mesa em que eles estavam. Alguns clientes tentaram conter o homem armado, mas mesmo assim ele disparou.
A partir daí, um tumulto começou. Um cliente que estava no bar acabou atingido pelo disparo. A mulher entrou no carro para ir embora, enquanto o marido dela e os outros amigos foram em outro veículo. No meio do caminho, a vítima disse que foi surpreendida pelo cabo, que a agrediu com socos, chutes, quebrou o celular dela e pegou a chave do automóvel em que ela estava. A mulher que estava com o policial também agrediu a moça.
Uma viatura da Polícia Militar apareceu, e o cabo e a mulher sumiram do local. A vítima registrou a ocorrência na delegacia e depois foi até a Corregedoria da corporação.
Na tarde do último sábado (14), Deivid foi preso por tentativa de homicídio e lesão corporal na forma da Lei Maria da Penha na área do estacionamento do Aeroporto de Vitória. Imagens gravadas por populares (veja abaixo) mostram o cabo dando chutes em um homem que estava caído no chão e um soco em uma mulher que tentava parar a agressão.
O boletim de ocorrência do caso descreve que a vítima agredida ficou com graves lesões na cabeça e com dificuldade para falar. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/ 192).
Aos policiais, ele contou que o cabo Deivid agrediu também a própria cônjuge no local, por ciúmes. Ele saiu do local levando a mulher à força em um Jeep Compass.
Outro detalhe é que, durante as agressões, o policial ainda pegou o celular da vítima e fez o desbloqueio do aparelho com a digital do homem, enquanto ele estava desacordado no chão. O militar ainda teria fugido com o telefone.
Em nota, a assessoria do Aeroporto de Vitória informou que "a ocorrência mencionada foi registrada no estacionamento da casa de shows Patrick Ribeiro, que fica próxima do estacionamento do aeroporto. Mesmo assim, a equipe do aeroporto acionou a Polícia Militar e equipes de saúde para atendimento do caso. Demais detalhes, solicitamos que entre em contato com a própria casa de shows".
Já o Espaço Patrick Ribeiro disse que "o incidente ocorreu no estacionamento do Aeroporto de Vitória, nas proximidades do estacionamento da casa de shows, e está sendo conduzido pelas autoridades competentes".
Deivid entrou na PM como aluno soldado em junho de 2013 e iniciou como cabo em 10 de setembro de 2014. No último mês, o salário bruto dele foi de R$ 6.708,40.
O Portal da Transparência do Governo do Estado ainda detalha que Deivid está de licença médica atualmente, com término no próximo dia 20. Esse afastamento por motivos de saúde começou em 12 de junho deste ano, e vem sendo renovado desde então.
Nas redes sociais, o policial se apresenta como bacharel em Direito de pós-graduado em "Direito Constitucional e Erradicação da Violência de Gênero".
Sobre o caso de sábado (14), a Polícia Militar informou que "o policial militar cabo Deivid Cavalcante Amorim foi encaminhado para a delegacia da Polícia Civil e autuado em flagrante delito pela Polícia Civil por tentativa de homicídio e lesão corporal praticada contra mulher. No âmbito interno da PM será instaurado procedimento administrativo para apurar a conduta do policial militar envolvido na ocorrência".
Já a Polícia Civil disse que "o suspeito foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio e lesão corporal qualificada na forma da Lei Maria da Penha. Ele foi encaminhado ao sistema prisional".
A respeito da confusão que aconteceu em março deste ano, a PM afirmou que Deivid "já respondia a um Inquérito Policial Militar sobre fatos ocorridos no bairro Santa Paula II, em Vila Velha, situação que está sendo investigada pela Polícia Civil. O Inquérito Policial Militar instaurado sobre esta situação encontra-se em andamento sem previsão para conclusão".
A corporação finalizou dizendo que "o cabo Deivid Cavalcante Amorim encontra-se preso no Presídio Militar, à disposição da Justiça Estadual, e deverá passar por Audiência de Custódia, na data de hoje (16)". Conforme disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado (TJES), a audiência aconteceu na manhã desta segunda-feira e o militar teve a prisão em flagrante convertida para preventiva.
A reportagem de A Gazeta tenta contato com a defesa do policial militar, e este espaço está aberto para um posicionamento.
Procurada pela reportagem, a Associação das Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (Aspra-ES) disse que Deivid já foi associado à instituição, porém pediu desligamento da associação em 2020. "Ressaltamos que, por não ter mais vínculo com a nossa entidade desde aquele período, a Aspra-ES não irá se pronunciar sobre o caso", disse o órgão.
A Aspra-ES ainda afirmou que, desde 2013, "diversas mulheres entraram com pedidos de medidas protetivas contra o militar".
De fato, no site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) constam três processos relacionados a pedidos de medida protetiva, de três mulheres diferentes, mas todos aparecem como "arquivados".
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