Preso suspeito de matar um jovem em uma distribuidora de bebidas da Serra durante uma briga por pino de cocaína, o soldado da Polícia Militar Lucas de Figueiredo Pereira, de 37 anos, conta com uma ficha extensa. Ele é investigado por agredir um frentista, dar tiro para o alto por não concordar com o valor da conta e até por atirar em um homem por causa do resultado de um jogo de sinuca.
De acordo com o delegado Rodrigo Sandi Mori, da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, em 2 de abril de 2019, em um bar de Jardim Camburi, Vitória, Lucas efetuou um disparo de arma de fogo para o alto e deu uma coronhada no dono do estabelecimento porque discordou do valor da conta.
No dia 1º de setembro de 2021, em um posto de gasolina de Jardim Camburi, ele também se envolveu em uma confusão com um frentista. À época, o jovem relatou que havia acabado de chegar para trabalhar quando foi agredido pelo militar, sem nenhuma explicação. Disse ainda que foi revistado pelo policial e se sentiu humilhado porque estava em seu local de trabalho.
"Ele chegou sem falar nada. Já me deu uma coronhada na cara, me jogou no chão e disse que eu era traficante e vagabundo e que ele era policial. Ele disse: 'Você vai ver, você vai ver'. Eu todo uniformizado, ele jogou meu colete na água, me fez tirar a botina, me humilhou no serviço. Eu vim trabalhar para levar o pão de cada dia para os meus meninos e o cara faz isso comigo?", lamentou.
Um vídeo obtido pela reportagem mostra parte da abordagem do policial militar ao frentista no posto de combustíveis localizado na Avenida Norte-Sul. Veja:
Na Delegacia Regional de Vitória, o policial militar apresentou uma pequena quantidade de maconha que teria sido apreendida com o jovem de 23 anos. Por isso, o trabalhador acabou autuado por posse de drogas, mas foi liberado após assinar um termo circunstanciado (TC).
Já o PM deixou a unidade da Polícia Civil pela porta da frente no final da tarde e foi levado por policiais em uma viatura para a Corregedoria da corporação. Na ocasião, a PM informou que abriu um inquérito para apurar o ocorrido, mas que o agente continuava exercendo suas atividades normalmente até o resultado da investigação.
No dia 22 de maio, Lucas atirou no calcanhar de um homem após uma discussão por causa de um jogo de sinuca em um posto no bairro Manoel Plaza, na Serra. "Foi instaurando inquérito pelo crime de lesão corporal em razão desse acontecimento no posto no dia 22 de maio", afirmou o delegado Sandi Mori.
De acordo com informações repassadas pelo homem ferido aos policiais militares, a partida corria normalmente até o momento em que eles começaram a discutir. Na sequência, o rival na mesa efetuou o disparo, que atravessou o calcanhar da vítima. O disparo fez com que as demais pessoas no local saíssem dali e foi nesse momento que o homem que atirou conseguiu fugir em um Renault Sandero de cor branca.
À época, ainda no depoimento dado aos militares, a vítima, de 41 anos, não soube informar a identificação da pessoa que havia atirado nele. No local, os policiais também questionaram se o autor do disparo era conhecido, mas não obtiveram resposta.
Por último, o caso da distribuidora de bebidas em Hélio Ferraz, na Serra. O delegado informou que no dia do crime, em 18 de junho deste ano, por volta de 3h30, o policial chegou sozinho à distribuidora, sentou no balcão e pediu uma dose de uísque. Logo depois, ele discutiu com Fernando Santos de Aquino, de 23 anos, porque pegou um pino de cocaína dela.
"Após ingerir a dose de uísque, ele pegou um pino de cocaína que estava em cima do balcão da distribuidora e era da vítima para seu consumo e foi até o banheiro. Ao retornar do banheiro, a vítima se levantou e foi ao encontro do Lucas cobrar a quantia devida pelo pino de cocaína. Fato que fez com que o Lucas ignorasse a situação e passasse a chamar ele de "cachorro morto" e "zóio torto" zombando de uma deficiência que a vítima tinha no seu olho esquerdo", contou o delegado.
Após zombar da vítima, o PM, segundo o delegado, ainda empurrou Fernando, que caiu no chão. Ele se levantou do chão e deu um soco em Lucas e os dois entraram em luta corporal. "Foi nesse momento que o Lucas sacou a arma de fogo, encostou na costela da vítima e efetuou um único disparo fazendo com que a vítima fosse a óbito no local", disse o delegado. Após o crime, o soldado da PM saiu com a arma à mostra e fugiu no seu carro.
"Esse vasto histórico de ocorrências corroborado com o fato do policial, no dia 18 de junho de 2022, estar no seu período de folga em um ambiente frequentado constantemente por traficantes, fato incompatível com a função que ele ocupa. Além disso, após crime, ele não ter comunicado os fatos ao Ciodes e ao seu superior hierárquico foram fatores que fundamentaram a decretação da prisão temporária na fase de investigação e a prisão preventiva após a denúncia", disse o delegado Sandi Mori.
Em depoimento, o soldado se reservou ao direito de ficar em silêncio. Ele foi autuado por homicídio qualificado por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima e já é réu na ação penal que corre perante o Júri da Serra.
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