O policial militar Sandro Frigini, que disparou dois tiros contra Weliton da Silva Dias, de 24 anos, na noite do dia 2 de abril no bairro São José, está envolvido em outra ocorrência, também na região da Grande São Pedro, em Vitória. O segundo fato ocorreu em 1º de dezembro de 2020, quando o militar participou de uma abordagem a um motoboy, que era entregador de lanches. Contra ele, Frigini disparou quatro vezes e um tiro atingiu a perna.
Mas no relato feito nos documentos oficiais, o militar acusou Isaque Rezende de Araújo, de 26 anos, morador do bairro Estrelinha, de roubo e de tentativa de homicídio por atirar contra os militares. O motoboy chegou a ser preso e só foi liberado pela Justiça estadual dois dias após os fatos.
A família e o próprio Isaque contestaram a versão dos policiais militares de que ele teria assaltado duas mulheres, resistido à abordagem e atirado contra os PMs. Na ocasião, Rayna Silva, esposa de Isaque, que estava grávida de seis meses, informou que administrava uma lanchonete com o marido.
Foi somente em fevereiro deste ano que a Justiça estadual arquivou o inquérito policial contra Isaque. A Justiça entendeu que não havia provas para justificar as alegações dos PMs, que prenderam o motoboy por tentativa de homicídio e resistência à prisão. Na decisão, a juíza Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage decidiu pelo arquivamento do caso.
A investigação da Corregedoria da corporação apontou indícios de crime na conduta dos militares. “Pelo que restou apurado, conclui-se que há indícios da prática de transgressão da disciplina militar e que há indícios da prática de fato tipificado como crime militar”, diz o texto.
Além de Sandro Frigini, o documento inclui ainda o nome de outros policiais que também participaram da abordagem: os soldados Fausto Nascimento da Silva, Marcos Vinicius Pires dos Santos e Gabriel Stafanato Verediano.
Um ano e quatro meses depois, Frigini se envolve em outra ocorrência, ao disparar duas vezes contra Weliton da Silva Dias, 24 anos, também morador da região de São Pedro, no dia 2 de abril.
Em vídeo a que A Gazeta teve acesso, o jovem aparece com as mãos levantadas antes de ser atingido pelo agente da Polícia Militar.
Consta no boletim de ocorrência que os policiais envolvidos nessa ação foram o cabo Sandro Frigini e o soldado Victor Fagundes de Oliveira.
Depois de ser atingido pelos disparos, Welinton chegou a ser socorrido para o Pronto-Atendimento de São Pedro. Os familiares dele reclamaram de terem sido impedidos de entrar no local e ameaçados pelos policias, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde do jovem.
No último dia 4, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse em suas redes sociais que “todo tipo de violência deve ser repudiado” e determinou ao comando da Polícia Militar a “investigação sumária do fato ocorrido na Grande São Pedro”. O governador ainda ressaltou sua confiança nas forças policiais e afirmou que “qualquer tipo de excesso não ficará impune.”
Por nota, a Polícia Militar informou que o policial Sandro Frigini foi afastado de suas atividades após a morte do jovem Welinton. E ainda que ele responde a processo na esfera administrativa e judicial.
"A Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) esclarece que, acerca do fato ocorrido em 2020, foi instaurado Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o ocorrido, que, depois de concluído, foi encaminhado à Promotoria de Justiça junto à Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual-ES (AJMES). Posteriormente, o citado IPM foi transformado em Processo Judicial, cabendo ao Poder Judiciário Estadual-ES a adoção das medidas legais previstas em Lei. Na esfera administrativa, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar, o qual está em tramitação, dentro do prazo legal estabelecido pelo Código de Ética e Disciplina dos Militares Estaduais-ES (CEDME), a cargo do comando do 1º BPM. Na época, os militares não foram afastados do serviço e continuaram trabalhando normalmente, tendo em vista que não houve nenhuma determinação legal para tal. Após o fato ocorrido no último sábado (02), conforme já informado, o militar foi afastado, cautelarmente, das funções operacionais, um IPM foi aberto e está em andamento.”
O advogado Siderson Vitorino, que faz a defesa do entregador de lanches Isaque Rezende de Araújo, destaca que o policial Frigini responde a diversos processos. “Nosso sentimento é de que ele já deveria estar fora das ruas há muito tempo. Fizemos queixa contra ele em 2020, solicitando o seu afastamento. Ele não deveria estar nas ruas”, desabafou.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo, cabo Eugênio Silote, informou que a defesa do policial Sandro Frigini no caso do jovem Welinton não é classista.
“A ação do policial foi uma legítima, balizada dentro das doutrinas aplicadas aos policiais no curso de formação. Não desclassificando o jovem, a região é um local de intenso tráfico de drogas, e o jovem tinha passagens pela polícia. Queremos a apuração da verdade. É a defesa de uma ação legítima, que infelizmente teve a perda de uma vítima”, disse.
Sobre a ação envolvendo o motoboy, cabo Eugênio informou vai verificar o caso.
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