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PM que atirou em jovem rendido em Vitória responde por disparos contra motoboy

PM que atirou em jovem rendido em Vitória responde por disparos contra motoboy

Rapaz estava com as mãos na cabeça e foi morto a tiros em São Pedro por um policial que já é investigado por ter atirado em 2020 contra motoboy. Na época, militar alegou ter revidado uma ação contra os policiais, mas a Justiça não encontrou provas disso

Publicado em 7 de abril de 2022 às 19:28

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Weliton da Silva Dias, de 24 anos, é morto a tiros por um policial militar.
Weliton da Silva Dias, de 24 anos, foi morto a tiros por um policial militar. (Reprodução)

O policial militar Sandro Frigini, que disparou dois tiros contra Weliton da Silva Dias, de 24 anos, na noite do dia 2 de abril no bairro São José, está envolvido em outra ocorrência, também na região da Grande São Pedro, em Vitória. O segundo fato ocorreu em 1º de dezembro de 2020, quando o militar participou de uma abordagem a um motoboy, que era entregador de lanches. Contra ele, Frigini disparou quatro vezes e um tiro atingiu a perna.

Mas no relato feito nos documentos oficiais, o militar acusou Isaque Rezende de Araújo, de 26 anos, morador do bairro Estrelinha, de roubo e de tentativa de homicídio por atirar contra os militares. O motoboy chegou a ser preso e só foi liberado pela Justiça estadual dois dias após os fatos.

A família e o próprio Isaque contestaram a versão dos policiais militares de que ele teria assaltado duas mulheres, resistido à abordagem e atirado contra os PMs. Na ocasião, Rayna Silva, esposa de Isaque, que estava grávida de seis meses, informou que administrava uma lanchonete com o marido.

Vitória
Isaque trabalhava como entregador dos lanches que produzia. (Arquivo pessoal)

Foi somente em fevereiro deste ano que a Justiça estadual arquivou o inquérito policial contra Isaque. A Justiça entendeu que não havia provas para justificar as alegações dos PMs, que prenderam o motoboy por tentativa de homicídio e resistência à prisão. Na decisão, a juíza Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage decidiu pelo arquivamento do caso.

A investigação da Corregedoria da corporação apontou indícios de crime na conduta dos militares. “Pelo que restou apurado, conclui-se que há indícios da prática de transgressão da disciplina militar e que há indícios da prática de fato tipificado como crime militar”, diz o texto.

PM que atirou em jovem rendido em Vitória responde por disparos contra motoboy

Além de Sandro Frigini, o documento inclui ainda o nome de outros policiais que também participaram da abordagem: os soldados Fausto Nascimento da Silva, Marcos Vinicius Pires dos Santos e Gabriel Stafanato Verediano.

JOVEM MORTO COM DOIS TIROS

Um ano e quatro meses depois, Frigini se envolve em outra ocorrência, ao disparar duas vezes contra Weliton da Silva Dias, 24 anos, também morador da região de São Pedro, no dia 2 de abril.

Em vídeo a que A Gazeta teve acesso, o jovem aparece com as mãos levantadas antes de ser atingido pelo agente da Polícia Militar.

Consta no boletim de ocorrência que os policiais envolvidos nessa ação foram o cabo Sandro Frigini e o soldado Victor Fagundes de Oliveira.

Depois de ser atingido pelos disparos, Welinton chegou a ser socorrido para o Pronto-Atendimento de São Pedro. Os familiares dele reclamaram de terem sido impedidos de entrar no local e ameaçados pelos policias, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde do jovem.

No último dia 4, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, disse em suas redes sociais que “todo tipo de violência deve ser repudiado” e determinou ao comando da Polícia Militar a “investigação sumária do fato ocorrido na Grande São Pedro”. O governador ainda ressaltou sua confiança nas forças policiais e afirmou que “qualquer tipo de excesso não ficará impune.”

PMES INFORMA QUE POLICIAL ESTÁ AFASTADO

Por nota, a Polícia Militar informou que o policial Sandro Frigini foi afastado de suas atividades após a morte do jovem Welinton. E ainda que ele responde a processo na esfera administrativa e judicial. 

O que diz a PM

"A Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) esclarece que, acerca do fato ocorrido em 2020, foi instaurado Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o ocorrido, que, depois de concluído, foi encaminhado à Promotoria de Justiça junto à Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual-ES (AJMES). Posteriormente, o citado IPM foi transformado em Processo Judicial, cabendo ao Poder Judiciário Estadual-ES a adoção das medidas legais previstas em Lei. Na esfera administrativa, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar, o qual está em tramitação, dentro do prazo legal estabelecido pelo Código de Ética e Disciplina dos Militares Estaduais-ES (CEDME), a cargo do comando do 1º BPM. Na época, os militares não foram afastados do serviço e continuaram trabalhando normalmente, tendo em vista que não houve nenhuma determinação legal para tal. Após o fato ocorrido no último sábado (02), conforme já informado, o militar foi afastado, cautelarmente, das funções operacionais, um IPM foi aberto e está em andamento.”

O OUTRO LADO

O advogado Siderson Vitorino, que faz a defesa do entregador de lanches Isaque Rezende de Araújo, destaca que o policial Frigini responde a diversos processos. “Nosso sentimento é de que ele já deveria estar fora das ruas há muito tempo. Fizemos queixa contra ele em 2020, solicitando o seu afastamento. Ele não deveria estar nas ruas”, desabafou.

O presidente da Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo, cabo Eugênio Silote, informou que a defesa do policial Sandro Frigini no caso do jovem Welinton não é classista.

“A ação do policial foi uma legítima, balizada dentro das doutrinas aplicadas aos policiais no curso de formação. Não desclassificando o jovem, a região é um local de intenso tráfico de drogas, e o jovem tinha passagens pela polícia. Queremos a apuração da verdade. É a defesa de uma ação legítima, que infelizmente teve a perda de uma vítima”, disse.

Sobre a ação envolvendo o motoboy, cabo Eugênio informou vai verificar o caso.

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