O policial militar cujos disparos mataram um jovem de 24 anos, que também atirou contra um motoboy, está ainda envolvido em agressão contra duas outras pessoas durante uma abordagem policial. Todos os casos ocorreram na Região da Grande São Pedro, em Vitória. No caso da agressão, a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) já foi aceita pela Justiça estadual e há audiência marcada para o mês de junho.
A agressão contra duas pessoas aconteceu no dia 18 de dezembro de 2020, 17 dias após o caso envolvendo o motoboy Isaque Rezende de Araújo, de 26 anos. Vídeo feito por moradores e anexado ao processo na Justiça estadual mostra dois homens com as mãos na parede durante uma abordagem policial feita pelos militares Sandro Frigini e Marcos Vinicius Pires dos Santos.
Na denúncia feita pelo MPES é informado que o vídeo revela que houve “injúria” contra duas vítimas, “mediante violência e de forma aviltante”. “O vídeo juntado evidencia as duas vítimas abordadas, com as duas mãos na parede/grade da janela de uma residência, recebendo tapas e socos desferidos por um dos militares, bem como xingamentos e ofensas”, diz o texto da denúncia.
O documento relata que “tapas e xingamentos visaram menosprezá-las (vítimas), demonstrando prepotência por parte do denunciado”, ao se referir ao policial Marcos Vinicius Pires dos Santos.
Informa ainda que o policial Sandro Frigini “no mesmo dia e local, deixou, no exercício da função, de observar instrução dando causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar”.
O mesmo documento aponta ainda que a abordagem, realizada com a rádiopatrulha RP 3150, não foi comunicada oficialmente junto ao Centro de Operações da PM (Copom).
As três ocorrências que envolveram morte, ferimentos e agressões têm em comum o fato de que aconteceram todas em bairros na mesma região, a Grande São Pedro. Tem ainda em comum a presença de alguns policiais.
1 - Caso do motoboy - 1º de dezembro de 2020
O motoboy Isaque Rezende de Araújo, de 26 anos, morador do bairro Estrelinha, foi acusado de roubo e tentativa de homicídio por atirar contra os militares. O motoboy chegou a ser preso após ser ferido com um tiro na perna. Foi liberado dois dias após os fatos pela Justiça estadual.
Isaque e a família contestaram a versão apresentada pelos policiais que participaram da abordagem: Sandro Frigini, Fausto Nascimento da Silva, Marcos Vinicius Pires dos Santos e Gabriel Stafanato Verediano. Mas só em fevereiro deste ano que a Justiça estadual arquivou o inquérito policial contra Isaque.
2 - Caso da agressão contra duas pessoas - 18 de dezembro de 2020
Duas pessoas são agredidas durante uma abordagem policial. Vídeo feito por moradores e anexado ao processo na Justiça estadual mostra dois homens com as mãos na parede. São revistados. Segundo a denúncia do MPES, é o momento em que são xingados e agredidos. A abordagem foi feita pelos policiais Sandro Frigini e Marcos Vinicius Pires dos Santos.
3 - Caso da morte do jovem - 2 de abril de 2022
Weliton da Silva Dias, 24 anos, aparece com as mãos levantadas antes de ser atingido por dois disparos feitos por um policial. Ele chegou a ser socorrido para o Pronto-Atendimento (PA) de São Pedro, mas não resistiu aos ferimentos. Consta no boletim de ocorrência que os policiais envolvidos nessa ação foram identificados como Sandro Frigini e Victor Fagundes de Oliveira.
DENÚNCIAS DE DESVIO DE DINHEIRO
Na denúncia feita pelo MPES, em relação a agressão a duas pessoas, é informado que a carteira de um dos abordados foi entregue ao policial e que nela continha documentos e R$ 250. “Entretanto foi devolvido somente o documento”, diz o texto.
No caso do motoboy Isaque, que segundo a família, seguia para fazer a entrega de lanches, também é apontado desvio de recursos. “Levaram R$ 300, um capacete avaliado em R$ 550, e mais dois x-tudo (lanches) que estavam dentro da bag de entregas da moto. Fato presente na conclusão do inquérito policial militar que a prática do crime de roubo”, disse o advogado Siderson Vitorino, que faz a defesa do motoboy.
O advogado avalia os casos como “uma situação absurda”. “Em 2 dezembro de 2020 nós fizemos uma notícia-crime pedindo o afastamento destes policiais da rua. Demoraram a agir, o que só aconteceu agora, após a morte do jovem de 24 anos”, assinalou.
O advogado Vinicius de Moraes Dias, diretor jurídico da Associação de Cabos e Soldados (ACS), disse que o militar Sandro Frigini está sendo representado pela associação. Em relação ao caso ocorrido em São Pedro, em que o jovem morreu, ela afirma que a defesa é no sentido de que “a ação foi legítima”. Em relação aos demais processos, informou que não poderia se manifestar por deles não ter conhecimento.
Em relação aos outros policiais, explicou que seria preciso avaliar se eram associados à ACS.
Por nota, na última quinta-feira (07) a Polícia Militar informou que o policial Sandro Frigini foi afastado de suas atividades após a morte do jovem Welinton. E ainda que ele responde a processo na esfera administrativa e judicial. Veja a íntegra da nota:
“Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) esclarece que, acerca do fato ocorrido em 2020, foi instaurado Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o ocorrido, que, depois de concluído, foi encaminhado à Promotoria de Justiça junto à Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual-ES (AJMES). Posteriormente, o citado IPM foi transformado em Processo Judicial, cabendo ao Poder Judiciário Estadual-ES a adoção das medidas legais previstas em Lei. Na esfera administrativa, foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar, o qual está em tramitação, dentro do prazo legal estabelecido pelo Código de Ética e Disciplina dos Militares Estaduais-ES (CEDME), a cargo do comando do 1º BPM. Na época, os militares não foram afastados do serviço e continuaram trabalhando normalmente, tendo em vista que não houve nenhuma determinação legal para tal. Após o fato ocorrido no último sábado (02), conforme já informado, o militar foi afastado, cautelarmente, das funções operacionais, um IPM foi aberto e está em andamento.”
Ainda não há uma resposta da PMES sobre a demanda feita pela reportagem em relação aos demais policiais.
Já o presidente da Associação de Cabos e Soldados, cabo Eugênio Silote, informou em entrevista nesta quinta-feira (07) que a defesa do policial Sandro Frigini no caso do jovem Welinton, não é classista. “A ação do policial foi uma legítima, balizada dentro das doutrinas aplicadas aos policiais no curso de formação. Não desclassificando o jovem, a região é um local de intenso tráfico de drogas, e o jovem tinha passagens pela polícia. Queremos a apuração da verdade. É a defesa de uma ação legítima, que infelizmente teve a perda de uma vítima”, disse.
Sobre a ação envolvendo o caso do motoboy, cabo Eugênio informou vai verificar o caso.
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