Os policiais militares Sandro Frigini e Victor Fagundes de Oliveira – que participaram da ação que culminou na morte de Weliton da Silva Dias – devem ser ouvidos ainda nesta segunda-feira (4). À frente da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), o coronel Márcio Celante afirmou que o procedimento deve esclarecer algumas dúvidas iniciais e vai compor o inquérito que investiga o caso, cujo prazo para conclusão é de 60 dias. Os nomes dos PMs não foram informados, mas a reportagem de A Gazeta teve acesso ao boletim de ocorrência, onde consta a identificação dos policiais e que os tiros contra o jovem que morreu foram disparados por Sandro Frigini.
Vídeos mostram que o rapaz de 24 anos estava com as mãos na cabeça quando levou os disparos, na noite do último sábado (2), no bairro São José, em Vitória. Apesar de socorrido, ele não resistiu aos ferimentos e morreu no Pronto Atendimento de São Pedro. Pelas imagens, o jovem parece não ter oferecido qualquer tipo de resistência à abordagem.
A conduta dos policiais revoltou a família de Weliton e os moradores da região da Grande São Pedro, que relataram ter incendiado um ônibus do Sistema Transcol como forma de protesto. Para comentar o caso, o secretário Márcio Celante concedeu uma entrevista ao Bom Dia Espírito Santo na manhã desta segunda-feira (4). Abaixo, você confere a íntegra da fala do coronel.
Primeiramente, toda morte é lamentável – temos que destacar isso. Segundo, toda ocorrência ou ação policial que resulta em morte ou lesão corporal, de imediato, desencadeia dois procedimentos: o primeiro é a investigação de todas as circunstâncias daquela ocorrência; e o segundo é uma análise daquela ação, até para aperfeiçoar o trabalho do policial. De imediato, nós solicitamos ao comandante-geral da Polícia Militar que fizesse a abertura do inquérito policial militar, o recolhimento das armas usadas nessa ação e o afastamento cautelar preventivo dos policiais da atividade operacional. Todas essas perguntas que estão colocadas e as dúvidas, ao final do prazo de 60 dias, vamos ter a possibilidade de responder.
Isso. Afastados do serviço operacional (nas ruas), até que o inquérito policial militar possa ser encerrado e encaminhado à Justiça Militar.
A vítima tinha oito detenções registradas no sistema e foi socorrida. Infelizmente, ela veio a óbito. A atuação da Polícia Militar, da Polícia Civil e das forças policiais é pela preservação da vida, mas, infelizmente, em algumas situações, como aconteceu no sábado à noite, nós temos o desfecho morte, que não é o nosso objetivo.
Pela proximidade do ato criminoso e pelo horário, tudo leva a crer que sim: tem ligação. Mas, como eu falei, as investigações do inquérito policial militar vão incluir toda essa parte, e, assim, poderemos responder com mais precisão no final. Mas, em princípio, pela proximidade de horário e local, pode ter ligação direta com o fato (morte de Weliton).
No boletim de ocorrência, que vai fazer parte da investigação, os policiais foram acionados e, quando estavam iniciando uma abordagem, houve uma fuga de duas pessoas. Depois dessa fuga, pelo menos pelo o que está relatado no boletim de ocorrência, houve a abordagem e o desfecho que foi mostrado nas imagens. Isso era o que nós tínhamos de informação no sábado à noite: apenas o que consta no boletim de ocorrência. No domingo (3) pela manhã é que nós recebemos o vídeo. A apuração do inquérito policial vai se basear em todas essas informações: o boletim ocorrência, os vídeos, as informações de moradores e outras apurações.
Sim. Consta no boletim de ocorrência a apreensão de uma submetralhadora semi-industrial com carregador contendo 12 munições .380. Essa arma com a bandoleira e o carregador com 12 munições, segundo o boletim de ocorrência, estava com a pessoa que veio a óbito.
Nós não temos como afirmar, nem termos uma conclusão. Pelas imagens, pelo relato dos moradores e pelo boletim, durante as apurações, todas essas dúvidas serão esclarecidas.
O policial é treinado para essas ações, mas nem todas nós temos o resultado preservação da vida. O objetivo maior da atuação policial não é somente preservar a vida do policial, mas também das pessoas ao redor. O mais importante, que nós temos que destacar, é que o Espírito Santo é o 21º Estado do país em letalidade policial. Podemos dizer, até certo ponto, que esse é um caso isolado. Infelizmente, houve uma morte, mas essa investigação vai ser conduzida.
Ação policial se inicia com a preservação da vida do policial. Em uma iminente possibilidade de risco à vida do policial, essa avaliação é feita em fração de segundos – como foi feita e tem que ser feita em todas as ações para a questão de segurança pessoal – e ele vai fazer a sua atuação. Então, essa preservação da vida do policial, mas principalmente de pessoas ao seu redor, é importante. O que precisa ser destacado: o policial – e nós não estamos aqui fazendo juízo de valor – tem fração de segundos para decidir por uma atuação em que a vida está em risco. No primeiro momento, se está sendo vítima e sua integridade física está correndo risco, é atirar para cessar aquela injusta agressão. Se no primeiro disparo, ela cessa, encerra-se a ação. O correto seria atirar na parte superior ou nas pernas. A situação é decidida pelo policial ali no momento, e para isso ele é treinado. No caso da Polícia Militar, temos o Método Giraldi para preservar a vida das pessoas que estão naquele local.
O acesso que nós tivemos a informações são aquelas do boletim de ocorrência, mas como falamos, teve a abertura do inquérito policial militar e, inclusive na data de hoje (segunda-feira), eles serão ouvidos, com mais detalhes. Algumas informações que não estão no boletim de ocorrência poderão ser colocados já de início no inquérito policial militar.
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