A reportagem de A Gazeta teve acesso aos depoimentos dos quatros suspeitos pela morte de dois policiais militares, na madrugada do último domingo (16), em Cariacica. O grupo é formado por Eduardo Bonfim Meirelles, Eric da Silva Ferreira, Luana de Jesus Luz e Erica Lopes Ferreira. Sete horas depois dos assassinatos, todos foram capturados pelas autoridades.
Os soldados Bruno Mayer Ferrani e Paulo Eduardo Oliveira Celini foram mortos após uma perseguição aos quatro suspeitos, que se iniciou na Rodovia Leste-Oeste e seguiu até o bairro Santa Bárbara. Segundo as autoridades, eles foram alvo de tiros em uma emboscada. Os dois foram socorridos e encaminhados ao Hospital Meridional, em Cariacica, mas não resistiram aos ferimentos.
É possível notar, em alguns trechos, incoerências entre os quatro depoimentos e a versão informada pelas autoridades. Entre os dados que divergem, destacam-se o envolvimento dos quatro integrantes com os assassinatos e o modo como foi a abordagem dos policiais antes do tiroteio. Outro ponto de contradição foi o tempo em que Eduardo e Erica, que namoram, dizem estar juntos, por exemplo. Além disso, outra diferença tem relação se ela estava ou não com uma arma.
Veja abaixo alguns dos pontos de contradição que envolvem os depoimentos apresentados:
Em seu depoimento, Eduardo Bonfim Meireles, que em um vídeo confessou ter atirado nos soldados Ferrani e Celini, disse que foi abordado de forma violenta pelos policiais. Segundo sua versão, após a perseguição, a viatura conseguiu cercá-los, e os soldados abordaram o grupo de armas em punho, realizando um disparo em direção ao Fox branco, onde estavam. Nesse momento, Eduardo disse, durante o interrogatório, que revidou e que o outro militar também atirou.
Após a troca de tiros, os dois PMs foram atingidos e caíram. Eduardo também relatou que, depois, pegou as armas das vítimas e fugiu. Em fala, disse que sua intenção era de fugir, não matar os policiais. Porém, segundo ele, o resultado foi uma reação à atitude agressiva dos militares.
Eduardo relatou, no interrogatório, que não sabia se os soldados morreram ou não no local e que estava sob efeito de bebidas alcóolicas durante a ocorrência.
Conforme informações de entidades da área de Segurança Pública — Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) —, em coletiva de imprensa realizada na tarde de domingo (16), Eduardo e a parceira, Erica, teriam chegado ao local do crime antes dos policiais e se escondido atrás de um caminhão.
Conforme informações de entidades da área de Segurança Pública — Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) —, em coletiva de imprensa realizada na tarde de domingo (16), Eduardo e a parceira, Erica, teriam chegado ao local do crime antes dos policiais e se escondido atrás de um caminhão.
No momento que a dupla de policiais abordou o motorista e carona do Fox branco, Eduardo e Erica teriam saído de trás do veículo e emboscado os PMs, realizando disparos na direção dos dois.
Erica Lopes Ferreira disse, durante seu depoimento, que estava em um relacionamento com Eduardo há um mês. Durante esse tempo, conhecia o parceiro como “Marcelo” e não sabia o seu verdadeiro nome até o fim da ocorrência.
Também durante o interrogatório, Erica relatou que estava em um churrasco na casa do pai — Eric, também um dos suspeitos — até que ela e Eduardo discutiram. Ambos estavam retornando para casa, quando avistaram um grupo de quatro pessoas na Rodovia Leste-Oeste e pediram a Eric, que estava conduzindo a todos em um Fox branco, que parasse para ajudá-los.
Em seguida, falou que ambos, ela e Eduardo, saíram do carro em que estavam para ajudar as pessoas. O parceiro, que estava sob efeito de bebidas alcoólicas, começou a agredir o quarteto, pegou o celular de um deles e a chave do carro, um Fiat Argo.
Logo após as agressões, uma viatura avistou o ocorrido. Na versão apresentada, Erica contou que ficou nervosa e retornou para o Fox em que Eduardo já estava. Com base em suas palavras, Eduardo mandou que o pai de Erica fugisse. Neste momento, foi dado início à perseguição. Erica também negou que estivesse armada.
No depoimento de Eduardo, foi informado que o casal se conhecia há três meses, não um. Em momento algum foi dito que Erica não sabia o verdadeiro nome de Eduardo.
Além disso, segundo informações da polícia, o nome “Marcelo” é do irmão de Eduardo. As informações da polícia também dizem que não é a primeira vez que o criminoso utiliza a identidade falsa.
Já o quarteto que estava no Fiat Argo disse que perdeu o controle do carro e bateu no meio fio da rodovia. Os criminosos, então, os abordaram oferecendo ajuda, porém, anunciaram o assalto logo em seguida. As vítimas também relataram à polícia que foram atingidas por coronhadas.
Em coletiva, a polícia no domingo (16) havia informado que uma delas havia sido atingida de raspão por um disparo de arma de fogo.
Depois de o grupo avistar o Fiat Argo na Leste-Oeste, Eric da Silva Lopes disse, em seu depoimento, que Eduardo apontou uma arma para a sua cabeça e o obrigou a parar o veículo em que estavam. Segundo ele, Eduardo — também conhecido pelo motorista apenas como Marcelo — e Erica saíram do carro e retornaram assim que avistaram a aproximação de uma viatura.
Após chegarem ao bairro Santa Bárbara, Eric relatou que Eduardo teria ordenado que conduzisse o veículo a um local deserto e com mato. Erica e o parceiro, então, saíram do carro e se esconderam. No depoimento consta que, a partir do momento em que a polícia os alcançou, um tiroteio começou e Eric e Luana, que estavam dentro do Fox branco, abaixaram a cabeça.
Nas palavras de Eric, ao fim dos disparos, Erica e Eduardo voltaram para o Fox e ordenaram que ele os tirasse do local. Ao chegarem no bairro Padre Gabriel, o casal mandou o motorista e Luana descerem e fugiram com o automóvel.
Segundo informações do tenente-coronel da PMES Paulo Roberto Schulz Barbosa, tanto o Fox branco — carro utilizado no crime — quanto Eric e Luana foram encontrados nas proximidades do bairro Castelo Branco. Ambos apresentavam atitude suspeita quando foram abordados por soldados da Polícia Militar.
Schulz também informou que, ao abordarem os criminosos em Santa Bárbara, os soldados Celini e Ferrani foram até o carro do grupo para realizar a abordagem, sem efetuar tiros, sendo, na sequência foram alvejados pelos dois envolvidos que estavam escondidos fora do veículo.
Em seu relato, Luana de Jesus Luz diz que, após a abordagem do Fiat Argo, Eric foi coagido por Eduardo a fugir dos policiais militares. Além disso, falou que, em um determinado momento, o condutor se perdeu, entrou em uma rua errada e que o Fox branco ficou preso a um tronco.
Ao verem que a viatura se aproximava, Luana, ainda em seu depoimento, teria pedido a Eduardo e Erica — segundo ela, os autores da abordagem na Rodovia Leste-Oeste —, que se entregassem. O casal saiu do carro e ela e Eric, que permaneceram no Fox, ouviram sons de disparos nas proximidades, seguidos de um silêncio.
Após os tiros, a dupla retornou ao veículo e Luana disse ter notado que Erica também estava armada e que, com o namorado, renderam ela e Eric.
Em seguida, após terem sido deixados pelos criminosos em Padre Gabriel, foram encontrados por soldados da PM. Inicialmente, sob orientação de Erica e Eduardo, mentiram, dizendo que haviam sido assaltados. Porém, decidiu falar a verdade e confessou o fato.
Em seu interrogatório, Eduardo disse que, fora ele, nenhum dos outros três integrantes do Fox branco teve participação ativa no crime. Mas Luana relatou que Erica portava, sim, uma arma.
Em depoimento que consta no auto, um soldado envolvido com a abordagem que resultou na prisão de Luana e Eric disse que uma das vítimas do Fiat Argo, ao tentar reconhecer os autores do assalto, teria identificado Luana pelas vestimentas. Porém, segundo a mesma vítima, ela e Eric se passaram por reféns de Erica e Eduardo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta