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Polícia do ES investiga intoxicações de cães após consumo de petiscos

Polícia do ES investiga intoxicações de cães após consumo de petiscos

Em todo o Brasil, pelo menos 14 cães morreram; alguns dos petiscos suspeitos de contaminação são Dental Care e Every Day, da marca Bassar

Publicado em 5 de setembro de 2022 às 18:55

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Flash, de 4 anos, e Jack, de 1, passaram mal após consumir petiscos da marca Bassar, afirmam tutoras.
Flash, de quatro anos, e Jack, de um ano, passaram mal após consumir petiscos da marca Bassar. (Arquivo pessoal | Montagem A Gazeta)
Maria Fernanda Conti
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Polícia Civil investiga, no Espírito Santo, dois casos de intoxicação em animais por consumo de petiscos caninos da empresa Bassar. Em todo o país, pelo menos 14 cães passaram mal e morreram depois de ingerir os produtos dessa marca. Há relatos de mortes de cães em cerca de nove estados, além do Distrito Federal.

Conforme informou a corporação, os cachorros são dos municípios de Serra e Vila Velha. Segundo a nota, os casos estão sob responsabilidade da Delegacia Especializada de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e, para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação foi repassada.

À reportagem, a professora Rogeria Viana Brommomschenkel, de 41 anos, conta que percebeu os primeiros sintomas da intoxicação no Flash, um west retriever de quatro anos, no dia 15 de junho. Ela afirma que o animal teve diarréia, vômito e tremor em todo o corpo ao comer um petisco da Dental Care. 

Flash, de 4 anos, precisou fazer diálise durante uma semana.
Flash, de quatro anos, precisou fazer diálise durante uma semana após comer petisco. (Arquivo pessoal)

"Cerca de cinco dias depois, ele já não queria comer. Fomos à veterinária e ela disse que o estômago e o intestino do Flash estavam praticamente destruídos. Ele precisou fazer diálise por uma semana. Tinha dias em que eu olhava para ele e achava que não fosse sobreviver", relembra, emocionada. 

Foi só após a repercussão dos demais casos no país que Rogéria associou o problema ao quadro do próprio pet e abriu um boletim de ocorrência na Polícia Civil. Atualmente, o animal continua em tratamento, mas já teve uma melhora significativa, segundo a tutora. 

"Para a minha família, foi um momento muito difícil, pois eu estava na reta final de uma gestação. O Flash teve alta um dia depois de eu ganhar o neném. Também fico triste pelas outras pessoas que perderam seus animais de estimação", lamenta Rogéria. 

PET AINDA EM RECUPERAÇÃO

Outra tutora que percebeu algo estranho no pet da família foi a empresária Vivian Ferrari, de 59 anos. Para comemorar o aniversário do pastor suíço Jack, de apenas um ano, ela comprou um petisco da marca Every Day e deu para ele no dia 29 de agosto. Dois dias depois, ele começou a passar mal, apresentando diarréia, vômitos e alta prostração (apatia).

"Levamos ele na clínica e a veterinária pediu um ultrassom. Quando chegou o resultado, ela me ligou e disse que era um caso de urgência, pois o Jack estava com hepatite aguda e pancreatite. Foi internado às pressas. Na hora, nem sequer cogitamos que poderia ter sido o petisco", relembra Vivian.  

Pastor suíço Jack ficou internado após ter hepatite e pancreatite.
Pastor suíço Jack ficou internado após ter hepatite e pancreatite. . (Arquivo pessoal)

O cachorro ficou internado por dois dias e, hoje em casa, no município de Vila Velha, segue um tratamento medicamentoso. "Desde sexta (2), ele vem se recuperando lentamente. Vamos até fazer uma ultrassom para ver se ele não está com sequelas. Estamos mobilizando a família inteira para não perdê-lo", afirma.

Assim como Rogéria, Vivian abriu um boletim de ocorrência na Polícia Civil no último final de semana. "Quero que a polícia investigue e encontre os responsáveis pela contaminação dos petiscos", ressalta.

ENTENDA O CASO

Pelo menos 14 animais morreram no Brasil após consumirem petiscos caninos da marca Bassar. Além do Espírito Santo, há relatos de óbitos de cães em nove estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Sergipe e Goiás.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os produtos identificados com suspeita de contaminação são o Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467). A Bassar divulgou que, "por precaução", iniciou a retirada do lote 3775 da marca Bone Everyday assim que soube das denúncias. O petisco Petz Snack Cuidado Oral, também fabricado pela Bassar, integra a lista de investigados.

O Ministério da Agricultura determinou na última sexta-feira (2) o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da empresa "diante dos riscos iminentes à saúde de animais". A fábrica envolvida na produção dos lotes, que fica na cidade de Guarulhos (SP), também foi interditada.

Após a repercussão do problema, a Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou exames que constataram falência nos rins como causa da morte de um dos animais e sugeriram, de forma não conclusiva, a presença de etilenoglicol.

A substância é da mesma família do dietilenoglicol, encontrada nos consumidores da cerveja Backer, no final de 2019 e início de 2020. Na época, dez pessoas morreram e parte dos sobreviventes ainda sofre com sequelas da contaminação e precisa passar por tratamentos para problemas renais, como hemodiálise.

Procurada, a Bassar Pet Food informou que interrompeu a produção da fábrica "até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas de contaminação de pets envolvendo lotes dos produtos". A empresa reforçou ainda que contratou uma empresa de perícia para fazer uma inspeção de todos os processos de produção e maquinários da fábrica, assim como das matérias-primas que compõem o produto final (veja comunicado abaixo na íntegra).

O que diz a Bassar Pet Food

"A Bassar Pet Food informa que interrompeu a produção de sua fábrica, desde semana passada, até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas de contaminação de pets envolvendo lotes de seus produtos. A empresa também contratou uma empresa de perícia para fazer uma inspeção detalhada de todos os processos de produção e maquinários em sua fábrica, e de todas as matérias primas que compõem o produto final.

De modo preventivo, a companhia está retendo, em todo território nacional, todos os produtos produzidos em sua planta fabril até que os laudos sejam apresentados. A Bassar esclarece que ainda não teve acesso ao laudo produzido pela Polícia Civil de Minas Gerais, mas está colaborando totalmente com as autoridades desde o início dos relatos sobre os casos.

A companhia está colaborando com as investigações e todas as autoridades para elucidação do caso. A empresa enviou amostras de seus produtos e matérias primas para institutos de referência nacional para atestar a segurança e conformidade dos produtos sob investigação.

Além disso, acionou todos os seus fornecedores para que façam o rastreamento dos insumos utilizados para averiguarem a possibilidade de algum tipo de contaminação.

A empresa está solidária com todos os tutores de pets – nossos consumidores e razão de nossa empresa existir. Somos os maiores interessados no esclarecimento do caso. Por isso, a empresa vem tomando todas as providências para investigação dos fatos. Os consumidores podem tirar dúvidas pelo e-mail [email protected]."

Na íntegra

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