Policiais federais em conjunto com servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do Espírito Santo e Rio de Janeiro e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) deflagraram na manhã desta terça-feira (9) uma operação dedicada a reprimir a ação de um grupo criminoso que atuava no tráfico de animais no Espírito Santo e na Baixada Fluminense.
O objetivo é cumprir 13 mandados de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Federal Criminal de Colatina, nos municípios de Vila Valério (5), São Gabriel da Palha (2), Nova Venécia (1), Águia Branca (1) e Magé (RJ) (4). Segundo a PF, até o fim da manhã desta terça-feira (9), duas pessoas foram presas e outras duas assinaram termo circunstanciado.
Em razão da grande quantidade de mandados a serem cumpridos, além dos policiais federais lotados na Delegacia de Repressão aos Crimes contra o Meio Ambiente, a operação contou com a participação de cerca de 55 policiais do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Além do cumprimento das ordens judiciais, a ação visa a obter novos elementos de provas para desmantelar grupo criminoso dedicado ao cometimento de crimes contra à fauna.
Em Vila Valério foram apreendidos 20 papagaios e uma chocadeira, além de três espingardas de caça, munição e petrechos de uso restrito. Já em São Gabriel da Palha foram três papagaios. No Rio a polícia apreendeu 19 pássaros silvestres e um revólver.
As investigações se iniciaram após a ação fiscalizatória realizada pelo Ibama e ICMBio que resultou na prisão de pessoas que estavam de posse de oito filhotes de papagaio Chauá (espécie ameaçada de extinção) e de dois de seus ovos, capturados, possivelmente, no interior da Reserva Biológica de Sooretama ou em seu entorno.
Durante as investigações foram identificadas ao menos outras oito pessoas que atuam em Vila Valério, São Gabriel da Palha, Nova Venécia e Águia Branca predando ninhos e capturando filhotes de aves de várias espécies.
Esses caçadores, no período de nascimento de filhotes de papagaio, entre setembro e janeiro, coletam os filhotes das aves nos ninhos e os vendem a um intermediário no Espírito Santo.
Este intermediário repassa os animais para um grande comerciante de animais silvestres ilegalmente capturados na natureza, com atuação em vários estados, a partir do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Federal, este comerciante conta com várias pessoas que o auxiliam com a guarda e transporte desses animais.
Cada filhote de papagaio é vendido para o intermediário do Espírito Santo por cerca de R$ 100,00, o intermediário os revende para o comerciante no Rio de Janeiro por R$ 150,00 e os animais são vendidos por até R$ 3.000,00 ao comprador final.
A principal espécie de papagaio traficada pelo grupo investigado é o Papagaio Chauá, mas também se verificou outras espécies, tais como a Maracanã-verdadeiro e a Maritaca.
De acordo com a Polícia Federal, qualquer animal silvestre que tenha mercado para revenda é de interesse para as pessoas investigadas. Além das aves, outros animais são comercializados pelo grupo, tais como macacos-prego – também ameaçado de extinção – coleirinhos, corrupiões, corujas e até filhotes de jacaré.
No caso dos macacos-prego, apenas os filhotes eram capturados, porque os animais adultos são muito agressivos. Para conseguir pegar os filhotes os caçadores abatiam as mães.
O Habeas Corpus é uma medida judicial que tem como objetivo a proteção da liberdade de locomoção do indivíduo, quando esta se encontra ameaçada ou restringida. De acordo com a Polícia Federal, a Operação Aveas Corpus busca o mesmo, garantir que as aves e outros animais silvestres permaneçam em liberdade, em seu habitat natural e longe de ameaças.
O grupo investigado existe há pelo menos 15 anos. Somente no ano de 2020 foram capturados 55 filhotes de papagaios, o que os investigados consideraram uma temporada muito fraca, pois os números eram bem superiores no passado.
Este número, ainda que possa parecer baixo, gera, ao longo do tempo, um impacto absurdo na procriação, comprometendo, de maneira significativa, a perpetuação de uma espécie que já é ameaçada da extinção. A estimativa do impacto no nascimento dos 55 papagaios capturados seria, no período de 10 anos, de 4,2 mil aves; em 15 anos, de 20 mil aves; e em 20 anos, de 86 mil aves.
Os investigados poderão responder pela prática de crimes contra à fauna, maus-tratos aos animais e associação criminosa. Por haver a prática de caça profissional, a pena poderá ser aumentada até o triplo.
Segundo a PF, até o fim da manhã desta terça-feira (9), duas pessoas foram presas e outras duas assinaram termo circunstanciado. O texto foi atualizado.
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