A madrugada do dia 25 de junho de 2023 foi de terror na Avenida Leitão da Silva, no bairro Gurigica, em Vitória. Um tiroteio, que durou mais de uma hora, terminou com a morte de Daniel Ribeiro Campos da Silva, de 68 anos - que estava internado há dois anos em um quarto de um hospital da região após ter sofrido um AVC. A bala atravessou a parede e atingiu o paciente na têmpora.
A imagem de Hykelmy Ribeiro de Souza divulgada pela polícia é de quando ele era menor de idade. No entanto, segundo a investigação, a participação dele no crime ocorreu quando já era maior de idade.
Quase nove meses depois, a Polícia Civil, por meio Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, apresentou a conclusão do inquérito policial. Ao todo, foram indiciadas nove pessoas, sendo sete maiores de idade e dois adolescentes. Três dos maiores de idade estão presos e quatro foragidos. A polícia pediu a apreensão dos menores e aguarda a Justiça.
As investigações levaram até o autor do disparo que atingiu o paciente. Foi da arma de Guilherme de Oliveira Florentino, vulgo Gui Capeta, de 22 anos, preso em Aracruz, que saiu o tiro. Segundo a polícia, ele não é só o responsável pelo disparo como, também, por ordenar os ataques na data do tiroteio.
Os presos são:
Foragidos:
Minutos antes da madrugada de tiros e incêndios, o jovem de 16 anos, Carlos Eduardo Cabral de Oliveira, foi morto após ser espancado. A morte do jovem, que teve o corpo encontrado na escadaria de Gurigica, incentivou todas as ocorrências daquela noite de terror, conforme a Polícia Civil.
O assassinato ainda é investigado. "Investigação do adolescente morto tem duas linhas: uma que teria sido os traficantes e outra, mais fraca, que seria policiais militares", contou o chefe da DHPP.
O delegado Marcelo Cavalcanti explica que não está excluída a possibilidade que o próprio Guilherme - que ordenou os ataques da madrugada - seja responsável pelo espancamento do adolescente.
Com a morte de Carlos Eduardo, começou uma confusão provocada pelos criminosos que tentaram queimar um carro na Avenida Leitão da Silva. Uma viatura da Polícia Militar estava no local e evitou o crime. Neste momento, os traficantes recuaram para o Morro do Jaburu e começaram a atirar contra os militares, que procuram abrigo.
Esses disparos, que começaram por volta das 23h30 do dia 24 de junho, adentrou a madrugada do dia seguinte. Por volta das 3h25, o hospital acionou a guarnição afirmando que um paciente havia sido alvejado.
O delegado explicou que, durante o tiroteio, havia três pontos de disparos no Morro do Jaburu: dois próximo ao hospital onde o paciente foi baleado e um próximo a Avenida Vitória.
Ainda durante o tiroteio, um grupo de criminosos desceu até a rua Carlos Alves (veja vídeo abaixo) e tentaram parar os veículos que passavam na Avenida Vitória. Dois deles conseguiram incendiar uma caminhonete Hilux.
Para o delegado Marcelo Cavalcanti, as investigações daquela madrugada do dia 25 de junho foram uma das mais desafiadoras nos 11 anos de trabalho com homicídios.
"Com a ajuda da polícia científica, identificamos a trajetória não só o local que o Daniel foi atingido, mas outros pontos. Nesses locais foram recolhidas cápsulas e foram identificas seis armas, e apreendemos três. Uma delas, apreendida em Aracruz, pertencia a Guilherme", explicou o delegado.
Pelos crimes, todos respondem por homicídio e associação criminosa. Os sete com mais de 18 anos também foram indiciados por corrupção. Além disso, todos os nove vão responder sete vezes, cada um, por tentativa de homicídio contra sete policiais militares.
Na época do caso, a perícia da Polícia Civil informou que o disparo teria partido da parte de cima do morro. "A perícia esteve no local à noite e eu solicitei que ela retornasse pela manhã, para ter uma melhor visibilidade, e eles então traçaram a trajetória do projétil, que vem numa linha descendente, do morro para a pista, a aproximadamente 33 metros do hospital", declarou o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda.
Confira no mapa abaixo onde ocorreram os principais fatos da noite de sábado (24) e madrugada de domingo (25) no bairro Gurigica, nas imediações da Leitão da Silva. Clique em cima dos números para saber onde e como foram as sequências dos fatos.
No mapa, clique nos números para entender a história.
O tiroteio na região na madrugada atingiu também prédios em Bento Ferreira. Consultório odontológico na Reta da Penha, na Praia do Canto, também teve janelas quebradas pelos disparos. Outros locais atingidos foram o prédio da reitoria do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), na Leitão da Silva.
A morte do paciente Daniel Ribeiro Campos da Silva, de 68 anos, no leito de hospital por uma bala perdida que atravessou a parede durante um tiroteio, na madrugada do dia 25 de junho de 2023, revoltou familiares.
Daniel estava internado havia dois anos por um AVC na clínica de cuidados paliativos Total Health, que fica dentro do Complexo Life Vix Mall, no quinto andar, ao lado do hospital MedSênior, na avenida Leitão da Silva, em Vitória.
A perita aposentada Jerusa Durr Aguiar, de 72 anos, conversou com a reportagem da TV Gazeta e disse como ela recebeu a notícia.
Jerusa conta que Daniel teve um AVC hemorrágico há dois e estava na clínica de cuidados paliativos. “Ele era lúcido, ele não conseguia verbalizar, mas ele entendia tudo. Ele chorava quando a gente chegava, fazia positivo para a gente. Tem uns vídeos dele com o fisioterapeuta trabalhando. Ele também ia de cadeira de rodas lá fora tomar sol”, detalha.
Para os pacientes, acompanhantes e funcionários do complexo de saúde na Leitão da Silva, a madrugada foi de terror e medo de ser atingido por tantos disparos. Uma acompanhante de paciente, que estava em um quarto da clínica e preferiu não se identificar, relatou como foram momentos de intensa troca de tiros no entorno do hospital.
Ela conta que o tiroteio começou por volta das 2h50 e que teria durado mais de meia hora. Depois, esporadicamente, o barulho dos tiros e clarões do foguetório retornava, tendo sido possível ouvir até rajadas de metralhadora. O que ficou da noite foi muito medo de se deslocar pelo quarto, principalmente de chegar perto da parede.
"Era muito disparo, muito próximo das janelas dos quartos, que têm vista para o morro. Então o medo foi constante durante essa madrugada porque a gente pensava que poderia uma bala perdida acabar atingindo o prédio do hospital nesse meio tempo. Acho que durou uns 40 minutos, eu senti vontade de ir ao banheiro e fiquei muito tensa, com muito medo, porque eu estava me aproximando mais da parede, na direção desse morro, então foi bem complicado."
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta