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Polícia investiga ação do 'Novo Cangaço' em roubo a banco no ES

Polícia investiga ação do 'Novo Cangaço' em roubo a banco no ES

Quadrilha explodiu banco e levou pânico aos moradores. Prática é semelhante à dos "cangaceiros modernos"

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 01:40

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Policiais militares isolam área da agência após explosão e roubo no distrito de Caramuru, em Santa Maria de Jetibá. Ataque assustou os moradores, que ouviram muitos tiros . (TV Gazeta / Reprodução)

A Polícia Civil investiga se a quadrilha que arrombou e explodiu uma agência bancária de Santa Maria de Jetibá, Região Serrana do Estado, faz parte de um movimento criminoso conhecido como 'Novo Cangaço'.

Muito comum nos estados do Nordeste e no interior de Minas Gerais, os “cangaceiros” modernos sitiam pequenos municípios, explodindo caixas eletrônicos e levando pânico aos moradores.

Na madrugada desta terça-feira (25), à 1h40, o pânico chegou para os moradores do distrito de Caramuru, quando agência do Sicoob foi atacada.

Segundo a Polícia Militar, a ação criminosa levou 20 minutos e foi orquestrada por quatro bandidos que chegaram no local a bordo de um Chevrolet Prisma, de cor branca.

Os ladrões colocaram explosivos na entrada da agência. O alvo eram os caixas eletrônicos, mas a explosão atingiu toda a estrutura interna do banco. Uma câmera de segurança registrou parte da ação da quadrilha. Na fuga, os bandidos atiraram para o alto como forma de intimidar os moradores.

“O crime pode ter relação com o Novo Cangaço. Os criminosos explodiram a agência e saíram intimidando os moradores, fazendo disparos de arma de fogo para o alto”, disse Romualdo Gianordoli, titular da Delegacia Especializada de Roubo a Banco e responsável pelas investigações.

Uma hora após a explosão, seis policiais chegaram até o local, mas quando o cerco foi montado os criminosos já tinham escapado.

Até o momento, não é possível precisar quanto foi levado pelos criminosos, mas a quantia pode chegar a R$ 60 mil. “Eles não tiveram acesso ao cofre, mas conseguiram explodir os dois caixas eletrônicos. Ficou a cargo do banco contabilizar o prejuízo, mas em cada caixa cabem, no máximo, R$ 30 mil”, disse o delegado.

PROXIMIDADE

Romualdo destaca também que a proximidade do Espírito Santo com Minas Gerais e Bahia pode ter influenciado na escolha dos “cangaçeiros”.

“Não vemos muitas ações desse tipo aqui no Espírito Santo. O Novo Cangaço é muito forte no Nordeste. Por acontecer muito nos estados que são nossos vizinhos, esse movimento pode sim estar chegando aqui”, explicou.

Porém, Romualdo ressalta que ainda não é possível confirmar a origem da quadrilha que agiu no distrito. “Uma característica desses crimes é que se tratam de criminosos muito bem organizados. Eles não utilizam um carro só, por exemplo. Dificilmente o carro que aparece no local do crime é o mesmo que usam na fuga. Fazem tudo de uma forma bastante organizada”, ressaltou.

INVESTIGAÇÕES

Carro foi encontrado carbonizado na divisa de Cariacica com Domingos Martins. (Internauta | Gazeta Online )

Durante esta terça, a Perícia da Polícia Civil trabalhou dentro da agência, após o Esquadrão Anti-Bombas identificar que não havia mais riscos de novas explosões. “Já sabemos que eles usaram explosivos com pavio. O dia foi de coletar imagens, buscar informações e refazer o trajeto dos criminosos”, disse.

Ainda não é possível afirmar quais armas foram usadas pelos criminosos. “As imagens não mostram com clareza, mas é possível ver pistolas e armas longas, como metralhadoras e fuzis”.

Além disso, a Polícia Civil investiga se um carro encontrado carbonizado durante a tarde, no limite entre Cariacica e Domingos Martins, pode ter sido usado pelos criminosos.

De acordo com o 8ª Companhia Independente de Polícia Militar de Santa Maria de Jetibá, ainda será realizada uma perícia para identificar o chassi do veículo, já que há indícios de que o carro esteja com placa adulterada.

MEDO

O ataque dos criminosos à agência deixou os moradores do pequeno distrito de Caramuru bastante assustados. “Ouvi a explosão e muitos tiros, foi tudo muito rápido”, contou Marlene Lemke, que mora em cima da agência.

Por nota, o Sicoob informou que os danos materiais estão sendo levantados. A agência ficará fechada para os reparos do imóvel. Nesse período, os associados serão atendidos nas agências de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, e também podem movimentar seus negócios pelos aplicativos e pela internet.

APÓS ATAQUE, POLÍCIA VAI INTENSIFICAR RONDAS

Homens explodem agÍncia do Sicoob em Santa Maria de Jetib·. FOTO: ARI MELO. (TV Gazeta / Reprodução)

Os moradores do distrito de Caramuru relataram que, apesar da aparente tranquilidade do local, convivem diariamente com a insegurança. “Infelizmente a Polícia Militar não tem um efetivo suficiente para atender nossa região. Aí se instala o caos”, disse o empresário Júlio Cesar Ferreira. Nesta terça-feira (25), após o ataque à agência, o comandante do Policiamento Ostensivo Serrano (CPOE), Coronel Marcelo Muniz, afirmou que as reclamações são compreensíveis.

“A gente compreende. Tivemos um fato grave, que causa esse impacto emocional nas pessoas. Sabemos que essa avaliação é feita a partir desse impacto”, disse.

Ainda segundo Muniz, algumas medidas já estão sendo tomadas para levar tranquilidade à região. “Nós vamos intensificar as rondas policiais, criar escalas extraordinárias durante o dia, noite e madrugada. Tudo isso vai ser feito para, inicialmente, recuperar a tranquilidade do local”, afirmou.

Além de intensificar o policiamento, o coronel ressaltou que a Polícia Militar irá trabalhar de forma integrada com a Polícia Civil para ajudar nos trabalhos de investigação.

“Bandido não se cria na Região Serrana do Estado. Um crime como esse não atinge somente a instituição financeira, mas afronta toda a comunidade, pois cria um ambiente de medo”, finalizou.

“AGEM COM A CERTEZA DE QUE NÃO VAI HAVER RESISTÊNCIA”

O especialista em Segurança Pública, Jorge Aragão, explicou como costumam agir as quadrilhas especializadas em assaltos a bancos no interior do País. A prática, conhecida como Novo Cangaço, virou um novo desafio para a polícia.

O que seria o chamado Novo Cangaço?

É uma prática que está ficando cada vez mais comum no País. Os criminosos atuam, preferencialmente, em locais onde não há um policiamento ostensivo. Uma pessoa da quadrilha faz uma análise dos riscos do local e quando percebem que o risco é mínimo, agem.

E o que podemos considerar como sendo um “risco mínimo”?

Quando encontram locais onde o efetivo é reduzido e não há armamento suficiente para coibir a prática criminosa, dizemos que se trata de um local de risco mínimo.

Há um alvo específico?

Normalmente há uma preferência para locais onde se sabe que há dinheiro em espécie. Nesse caso, caixas eletrônicos.

Ações como essas acontecem em todo o País?

São muito comuns no interior do Nordeste, mas parece que estão chegando também aqui no Estado. O pior é que estão escolhendo cidades pequenas, com pouco armamento.

Essas quadrilhas estão bem armadas?

Elas costumam usar armamento pesado. Os próprios explosivos, usados para detonar os caixas eletrônicos, são produtos controlados, não é qualquer um que tem acesso.

Podemos dizer que são grupos bem organizados?

É possível perceber que eles têm um treinamento diferenciado pela forma como abordam, se protegem, portam as armas. Não se trata de um comportamento comum entre meliantes, são quadrilhas especializadas.

O que motiva um ataque como esses?

Esses criminosos se preparam, agem com a certeza de que não vai haver resistência. Estamos vendo a volta de crimes que eram bem comuns nos décadas de 1970 e 1980. Nas grandes cidades a fuga é mais complicada, por isso vemos uma preferência pelo interior.

SAIBA MAIS

o que é?

O Novo Cangaço é utilizado como denominação para atuação de grupos fortemente armados que aterrorizam a população de pequenas cidades para praticar furtos ou roubos de agências bancárias ou empresas de vigilância e transporte de valores. As ações relembram as práticas da famosa quadrilha de Lampião, em meados do século 18.

Como agem?

Eles contam com explosivos, carros blindados e armamento pesado. Mesmo procurados, eles chegam a ameaçar de morte os policiais, através das redes sociais.

Onde atuam

As ações são mais comuns no Nordeste e em Minas Gerais.

Estratégias

A ação parece ser planejada com semanas de antecedência. Caminhos de fuga, horários da polícia e da movimentação do dinheiro nos bancos também são estudados.

OUTROS CASOS DE ATAQUES A BANCOS NO ES

Vila Velha

No dia 21 de fevereiro deste ano, criminosos mascarados e armados explodiram a agência do Banco do Brasil em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha. Duas explosões foram ouvidas. Em seguida, os bandidos saíram da agência com caixas cinzas, que foram colocadas no porta-malas de um Gol prata, e fugiram.

Pancas

No dia 10 de fevereiro de 2017, cinco ladrões encapuzados tentaram roubar uma agência bancária em Pancas, no Noroeste do ES. Durante a ação, pessoas foram feitas reféns e houve troca de tiros com a polícia. Os bandidos chegaram em um carro e renderam um grupo de pessoas que estavam em um bar próximo à agência. As vítimas foram feitas reféns pelos ladrões. Para entrar no banco, os ladrões atiraram na porta de vidro. Os bandidos atiraram contra a polícia e fugiram em direção a Colatina. No caminho, atearam fogo no carro usado no crime.

Colatina

Em junho de 2016, bandidos explodiram um caixa eletrônico do Banco do Brasil que fica dentro do Ifes de Itapina, distrito de Colatina, na região Noroeste. O crime aconteceu durante a madrugada e durou cerca de 15 minutos. Na época a Polícia Militar informou que três homens armados renderam o segurança da instituição de ensino e, após explodir o equipamento, levaram em dinheiro - valores não foram revelados.

Laranja da Terra

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Em maio de 2016, durante a madrugada, uma agência do Bradesco foi alvo de explosão. Quatro suspeitos armados arrombaram a unidade e levaram cerca de R$ 50 mil de um caixa eletrônico. Os bandidos colocaram duas bananas de dinamite para explodir os equipamentos.

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