A Polícia Civil vai investigar a possível atuação das duas advogadas presas nesta sexta-feira (11) em outros presídios do Espírito Santo. Elas foram detidas durante a Operação Vade Mecum e são acusadas de levar drogas para detentos do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarapari. A apuração, segundo a polícia, começou há seis meses, quando a corporação recebeu a primeira denúncia de suspeita na conduta das detidas.
De acordo com o delegado Guilherme Eugênio, titular do Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc) de Guarapari, as denúncias de que havia uma organização criminosa atuando no tráfico de drogas para dentro do presídio do município partiram do próprio CDP e as investigações apontam que elas podem ter fornecido os entorpecentes para outros presídios do Estado.
"Essa operação implicou na constatação efetiva de que essas duas advogadas levavam drogas ilícitas ao CDP de Guarapari e há indícios, que sugerem fortemente, que essa organização fornecia drogas também para várias outras unidades prisionais", disse.
As investigações, conforme informou o delegado, começaram há aproximadamente seis meses. Guilherme Eugênio explicou que os advogados não são submetidos a revistas profundas e apenas passam pelo detector de metais, o que torna impossível encontrar drogas. As advogadas presas, segundo o delegado, se aproveitavam dessa situação para levar os entorpecentes para dentro do sistema prisional.
Na noite desta sexta-feira (11), a Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo (Sejus-ES) reforçou que adota protocolos de segurança para inibir a entrada de ilícitos e monitora de forma efetiva qualquer movimentação que possa causar instabilidade no sistema prisional. "A operação foi pontual e sem necessidade de mudança dos protocolos existentes", informou a secretaria, por meio de nota.
A pasta enfatizou que preza pela segurança e a ordem nas unidades prisionais e conta com uma Diretoria de Inteligência que colabora com levantamentos junto às forças de segurança do Estado e contribui com as investigações realizadas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública.
A reportagem de A Gazeta demandou a OAB do Espírito Santo sobre o posicionamento acerca das revistas a advogados, mas, até a publicação desta matéria, ainda não respondeu. O texto será atualizado assim que a demanda for respondida.
As investigações da Polícia Civil apontam que as advogadas tentaram coagir servidores públicos para facilitar a entrada com os entorpecentes na unidade prisional, porém não tiveram sucesso. A corporação afirmou que a apuração, até o momento, não comprovou a participação de servidores no crime.
Um caso semelhante aconteceu em agosto de 2019, quando as advogadas Luezes Makerlle da Silva Rocha e Gabriela Ramos Acker foram presas durante a Operação Ponto Cego, acusadas de levar bilhetes com ordens e recados das lideranças do tráfico de drogas para detentos do sistema prisional capixaba.
O delegado Guilherme Eugênio, porém, afirmou que ainda não foi estabelecida uma relação entre as advogadas presas nesta sexta (11) e a quadrilha que foi alvo da Polícia Civil no ano passado. Apesar disso, o delegado afirmou que as profissionais presas na Operação Vade Mecum também levavam bilhetes de dentro da unidade prisional para fora do presídio, destinados a lideranças do crime organizado.
Como os bilhetes encontrados em ônibus incinerados na Grande Vitória dão a entender que os crimes foram determinados por detentos do sistema prisional, a Polícia Civil ainda investigará a possibilidade de as advogadas estarem envolvidas nos ataques aos coletivos, já que, segundo a polícia, uma das incumbências das detidas era levar informações de dentro do presídio para as lideranças criminosas do Estado.
Os primeiros ataques ocorreram no dia 20 de julho, quando dois ônibus foram queimados por criminosos: um em Roda d'água, em Cariacica, e o outro no bairro Primavera, em Viana. Em todos os casos, bandidos armados deixaram bilhetes com queixas das condições dos presídios e da suspensão das visitas.
De acordo com o delegado Guilherme Eugênio, um indício que comprova a atuação ilegal das advogadas era o tempo longo das visitas e, por diversas vezes, para os mesmos detentos. O delegado afirmou que elas se apresentavam como representantes legais de uma série de presidiários, mas que, para alguns especificamente, as visitas eram frequentes.
A detida apontada pela Polícia Civil como líder da organização chegou a visitar mais de 40 vezes o mesmo detento em um período de seis meses, com uma média de quase seis horas por visita, como informou o delegado. Segundo Guilherme Eugênio, isso pode ser uma prova de que as advogadas realizavam os serviços de tráfico de drogas.
Contra ambas, havia um mandado de prisão temporária e elas foram encaminhadas para uma unidade prisional que não foi especificada pela Polícia Civil. Segundo a corporação, no momento da prisão, uma das detidas tentou destruir o próprio celular e, na casa da outra, foi encontrada uma arma de fogo sem registro.
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