A Polícia Civil está investigando denúncias sobre um anúncio falso de uma casa para aluguel de temporada em Guarapari. Ao menos dois grupos já registraram boletim de ocorrência na delegacia do município, somente nas duas últimas semanas. As vítimas viram a expectativa de aproveitar feriadões virar pesadelo.
A universitária Thais Milena Oliveira do Nascimento, de 21 anos, é uma das pessoas que saiu prejudicada. Ela e oito amigos chegaram a pagar R$ 300 para reservar a residência para a virada de ano. No último dia 4, um sábado, após conhecer o local, eles pagariam mais R$ 300 para completar o sinal de 50% do valor total.
Para dar maior credibilidade ao anúncio e ao negócio, a pessoa que aplica o golpe se identifica como uma mulher e formaliza tudo em um contrato de locação, além usar uma foto da fachada que realmente corresponde à residência que, de fato, fica localizada na Praia do Morro.
"No anúncio, a frente é a mesma, com um muro grande e um portão de madeira. Só que, quando a senhora abriu para nos atender, vimos que era uma casa bem simples, com um quintalzinho. No anúncio, era uma acomodação para até 20 pessoas, com piscina e três vagas de garagem", conta Thais.
Se não tivessem se precavido minimamente, o prejuízo poderia ter chegado a R$ 1.200, frustrando o réveillon de 20 amigos. "De início, achamos estranho porque a maioria faz pacote com mais diárias e o valor vai de R$ 3 mil a R$ 7 mil. Porém, como fechamos dois dias e teve contrato, achamos que seria seguro", diz.
Segundo a universitária, o grupo encontrou o anúncio no site da OLX no dia 17 de agosto. Após a visita, a página já estava fora do ar e o perfil do anunciante, inativado. As tentativas de contato por telefone também foram inúteis. "Tentamos até de outros celulares, mas toca algumas vezes e ninguém atende", comenta.
O registro do golpe foi feito na tarde do dia 4 de setembro, logo após a ida à casa em Guarapari. "Os policiais disseram que, provavelmente, o nome utilizado era falso. O CPF e o RG que usam também são inválidos, mas na hora do pagamento do Pix os seis primeiros dígitos batiam", revela.
Moradora de Vila Velha, Thais já está procurando um novo local para passar o Ano Novo com os amigos, mas, desta vez, de um jeito diferente. "Andamos por lá e vimos locais que tinham a placa de 'Aluga-se', procuramos indicações e estamos negociando com uma imobiliária com referência", afirma.
Dona da casa que fica no endereço usado no anúncio falso, a aposentada Otília Maria Stevam Mocelin, de 60 anos, conta que o primeiro caso passou despercebido, como se não passasse de um engano com o endereço. Porém, no dia 30 de agosto deste ano, um grupo bateu na porta dela e o problema veio à tona.
"Era um pessoal de Cariacica. Eles entraram aqui, eu mostrei o meu quintal e eles mostraram o contrato. Falei que podiam deixar as coisas e fomos à delegacia. Chegando lá, eu fui incluída no boletim de ocorrência como testemunha e eles como vítimas, porque pagaram o aluguel pela casa", lembra a idosa.
Desde então, ela passou por outras três situações semelhantes, incluindo a do grupo da Thais e também a de uma família que já havia chegado horas antes para passar o feriado prolongado de 7 de setembro. "Eu conversei e eles entenderam, mas fiquei com pena, de coração, porque tinha até crianças no meio", desabafa.
Enquanto Otília conversava com a reportagem de A Gazeta, na noite do último dia 9, mais gente tocou o interfone. "Eram de Vila Velha. Disseram que alugaram por 20 dias e que marcaram de conhecer a casa, mas que a anunciante não estava atendendo. Orientei a irem à delegacia", conta.
Inconformada com a atitude que classificou como "maldade sem tamanho", a aposentada disse que construiu o imóvel com o marido, há mais de 30 anos. "Nós compramos o lote e a casa foi construída para a nossa família. Ela nunca foi alugada. Eu moro aqui até hoje", esclarece.
Segundo a idosa, todas as vítimas citavam o nome da mesma anunciante e o mesmo tipo de contrato. Os sinais pagos por essas pessoas variava, na maioria, na faixa entre R$ 300 e R$ 350. Apenas um dos grupos teria perdido mais de R$ 1 mil. "A sensação é de que você foi roubado", afirma.
À frente da Delegacia Especializada de Crimes Cibernéticos (DRCC), o delegado Brenno Andrade explicou que golpes do tipo configuram crime de estelionato, que depende de representação. Ou seja, para ele ser investigado, é necessário que as vítimas registrem o caso junto à Polícia Civil.
"Já tivemos outros casos como esse. Os criminosos pedem pequenas parcelas de várias vítimas, porque assim as pessoas não vão ficar desconfiadas. É realmente muito complicado. Até porque comprovar que um imóvel está ou não disponível pela internet não é algo simples também", avalia.
Ainda assim, para evitar ter prejuízos e planos frustrados com alugueis on-line, o delegado Brenno aponta dois principais caminhos: não realizar pagamentos sem visitar a casa e optar por sites confiáveis que permitem que as transações financeiras sejam feitas diretamente pela plataforma.
"Sei que, às vezes, não é possível ir até o local. Nesse caso, a pessoa vai precisar colocar na balança se vale a pena fazer esse tipo de reserva. Evitar sites em que a negociação é feita por fora, como acontece na OLX, também é uma forma de ter mais garantia de que o anúncio seja verídico", orienta.
Por nota, a plataforma OLX garantiu que já retirou o anúncio e bloqueou o respectivo perfil. Também afirmou que está à disposição das autoridades para colaborar na apuração dos fatos e que conta com denúncias dos usuários para investigar anúncios irregulares e removê-los do site.
"A OLX esclarece que disponibiliza um espaço em que as pessoas podem anunciar e comprar produtos e serviços de forma rápida e simples, com negociação direta entre vendedor e comprador, sem a intermediação da plataforma, mas sempre de acordo com o termo e as condições de uso."
A empresa informou também que conta com serviços de orientação das melhores práticas de negociação, entre elas ficar atento a preços muito abaixo da média, verificar os dados do contrato e solicitar cópia da escritura ou IPTU do imóvel. As dicas podem ser obtidas pelos usuários no chat da plataforma.
A Polícia Civil confirmou, em nota enviada à reportagem, que pelo menos dois casos estão sendo investigados por meio da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Guarapari, mas pontuou que, para que a investigação seja preservada, nenhuma outra informação foi repassada.
"A PC destaca que a população pode auxiliar os trabalhos pelo Disque-Denúncia (181), que é uma ferramenta segura, na qual não é necessário se identificar. Todas as informações recebidas são investigadas e pelo site oficial é possível anexar imagens e vídeos", reforçou.
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