A Polícia Civil do Espírito Santo investiga se o adolescente de 16 anos, que tirou a vida de quatro pessoas e deixou 12 feridos durante um ataque a duas escolas na manhã desta sexta-feira (25) em Aracruz, tem ligação com grupos neonazistas e neofascistas. A informação foi passada pelo governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), durante entrevista na manhã deste sábado (26). Ele esteve nos velórios das vítimas em Coqueiral de Aracruz, no município.
O autor do atentado é filho de um policial militar e, conforme levantamentos iniciais da investigação do caso, planejava o crime havia dois anos. Na roupa camuflada que o adolescente vestia, havia uma braçadeira com uma suástica – símbolo nazista. O nome dele não está sendo divulgado por se tratar de um menor de idade, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.
O atentado foi praticado na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, de onde o autor dos disparos é ex-aluno, e no Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), da rede particular do município.
Por volta de 9h30, o adolescente de 16 anos usou uma ferramenta para arrombar o cadeado do portão localizado nos fundos da Escola Primo Bitti e entrou na escola onde ele era aluno até junho deste ano. Usando roupa camuflada, chapéu, máscara e colete, ele seguiu em direção à sala dos professores, a mais próxima desta entrada da escola, e com a pistola nas mãos entrou na sala atirando em todos os profissionais da educação que lá estavam. Era horário de intervalo entre as aulas.
O número de disparos total não foi divulgado pela polícia, mas o atirador conseguiu atingir 11 profissionais que estavam na sala dos professores, sendo que duas professoras morreram ainda no local, sem chance de atendimento médico.
Logo em seguida, o assassino saiu da escola estadual, pegou o carro utilizado para ir até o local, um Renault Duster dourado, e saiu dirigindo em direção à escola particular, localizada a cerca de um quilômetro de distância.
Ele entrou correndo e, segundo informações da polícia, começou a atirar usando uma outra arma, um revólver calibre 38. Uma adolescente de 12 anos foi atingida duas vezes e morreu no local.
Casagrande informou ainda que a pistola usada pelo adolescente é da Polícia Militar e que o outro revólver é de uso particular do pai dele.
O ataque a duas escolas em Aracruz, no Norte do Estado, foi marcado por desespero de alunos e professores e pela agilidade do atirador, que conseguiu se deslocar por cerca de um quilômetro entre as duas escolas e fazer novas vítimas antes mesmo que a informação sobre o ataque à primeira unidade de ensino viesse à tona, além da desenvoltura no manuseio de armas.
Durante a entrevista, o chefe do Poder Executivo estadual ainda defendeu uma reflexão sobre a cultura da violência.
“Estamos aqui de luto. Perdemos pessoas em um momento trágico. Infelizmente a cultura da violência está nos corações e almas de parte da sociedade. A polarização que temos hoje, a intolerância, o incentivo a violência, os sites de violência, os grupos que se especializam em incentivar a violência na internet, tudo isso nos remete a uma reflexão sobre a cultura da violência e a necessidade que temos de cultivar a paz”, comentou o governador.
Casagrande ressaltou ainda sobre a facilidade de acesso às armas. “No caso do adolescente, o pai é policial, então é mais fácil ainda. O momento é de reflexão sobre a necessidade que a gente tem de controlar o acesso às armas. Mesmo quem é policial, em casa precisa tomar cuidado onde coloca essa arma, temos que tomar cuidado na educação de nossos filhos e de nossos netos. Todos nós precisamos ter cuidado extremo”, ressaltou.
Ele disse ainda que na próxima semana não haverá aulas na Escola Primo Bitti e que o secretário de Educação, Vitor de Angelo, está coordenando uma ação de apoio com psicólogos e assistentes sociais para alunos, familiares e professores da unidade.
“A iniciativa visa que os professores sejam orientados para também dar apoio aos outros alunos. Com outros parceiros, também vamos oferecer apoio psicológico às famílias e aos alunos. A ideia é oferecer o atendimento necessário para que possamos dar e cultivar a paz para essas pessoas que estão tão impressionadas com toda essa tragédia”, comentou.
De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), o adolescente, de 16 anos, apreendido ontem (25), em Aracruz, responderá por ato infracional análogo aos crimes de 10 tentativas de homicídio qualificada por motivo fútil, que gerou perigoso comum e com impossibilidade de defesa da vítima e, três homicídios qualificados por motivo fútil, que gerou perigo comum e com impossibilidade de defesa da vítima.
Segundo nota da PC, ele foi encaminhado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Cariacica, na Grande Vitória. As armas apreendidas foram encaminhadas para o setor do Departamento de Criminalística - Balística da PCES, juntamente com as munições. O caso segue sob apuração da Polícia Civil.
“Ele foi encaminhado ao Iases e vai receber atendimento psiquiátrico porque se apresentou de forma desequilibrada à polícia. O autor dessa tragédia é uma pessoa doentia que trouxe tanta tristeza para Aracruz e para o nosso estado. Ele terá um acompanhamento de vigilância para não ser uma ameaça à sociedade”, disse Casagrande.
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