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Policiais usaram van escolar para disfarçar buscas em Santa Leopoldina

Policiais usaram van escolar para disfarçar buscas em Santa Leopoldina

Moradores viram os suspeitos rodando pela mata na localidade de Tirol e avisaram à polícia, que bolou um plano para ir ao local sem ser notada nesta segunda (03)

Publicado em 3 de outubro de 2022 às 18:36

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Suspeitos presos nesta segunda-feira (3) cercados de policiais
Mais dois suspeitos foram presos pela polícia nesta segunda (03). Ao todo, seis envolvidos já foram detidos e outros cinco foram mortos. (Reprodução)
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

Após receberem denúncias de que os fugitivos do ataque a bancos em Santa Leopoldina estavam escondidos em uma mata na localidade de Tirol, zona rural do município, os policiais envolvidos nas buscas precisaram montar um plano de ação. Para conseguirem circular pela região despercebidos, eles usaram uma van escolar. A tática deu certo, tanto que os dois últimos foragidos foram capturados na manhã desta segunda-feira (03).

O major Cabral, comandante da 8ª Companhia Independente da Polícia Militar, detalhou que pela manhã a polícia começou a receber informações de que dois suspeitos estavam com roupas rasgadas e cheios de arranhões pelo corpo, rondando pela região de Tirol. Eles pediam informações sobre como chegar até Viana, na Grande Vitória.

"Começamos a direcionar nossas buscas para aquela região, próximo a uma escola. Verificamos que, mesmo com viaturas descaracterizadas, poderíamos chamar atenção. Então pedimos apoio à prefeitura, que nos disponibilizou um veículo de transporte escolar, e com ele conseguimos fazer o trabalho", disse o comandante.

Enquanto rodavam com a van, os militares viram os dois saindo da mata. Um deles foi preso primeiro, e o outro conseguiu correr, mas foi perseguido e capturado em seguida.

Assalto a bancos em Santa Leopoldina
A agência do Banco do Brasil foi uma das explodidas pelos criminosos em Santa Leopoldina. (Carlos Alberto Silva)

A dupla, que é da Bahia, admitiu ter participado do ataque, que aconteceu na madrugada da última sexta-feira (30). De acordo com a polícia, eles são os últimos foragidos que faltavam ser capturados.

Cinco foram mortos no sábado (1º), durante um confronto com a polícia no acampamento onde eles estavam escondidos, também em Tirol. Quatro pessoas, todas da mesma família, foram presas na própria sexta-feira, acusadas de darem abrigo e planejarem o ataque junto com a quadrilha.

POR QUE ELES QUERIAM IR PARA VIANA?

Os dois fugitivos queriam ir para Viana porque lá era a "base" da facção aqui no Espírito Santo. No local morava uma família que, de acordo com as investigações, fez contato com o bando para que o crime no estilo "novo cangaço" (quando um grupo fortemente armado cerca uma cidade e saqueia bancos) ocorresse.

O delegado Gabriel Monteiro, da Delegacia Especializada de Roubo a Bancos (DRB), destacou que o pai dessa família conhecia criminosos de São Paulo e da Bahia responsáveis por outras invasões a bancos, oito na Bahia e 10 em Minas Gerais. O indivíduo já havia residido em Santa Leopoldina e conhecia bem a região de Tirol, onde os criminosos foram localizados.

Aspas de citação

O pai da família estava planejando com esse grupo da Bahia e de São Paulo, facções especializadas em roubo a banco e em outros estabelecimentos. Ele conheceu os indivíduos e planejou durante um ano o roubo no Espírito Santo. Acreditavam haver pouca vigilância

Gabriel Monteiro
Delegado da Polícia Civil
Aspas de citação

Segundo o delegado, os criminosos ficaram no Estado por sete dias, na residência da família em Viana, se organizando para a ação. "O pai e o filho deram fuga aos criminosos e levaram até essa região de mata, depois vieram com os veículos e incendiaram em Viana", detalhou. O filho do homem foi, inclusive, o responsável por levar a serra elétrica para cortar a árvore que bloqueou o trânsito no município.

Houve ainda a participação de um cunhado, que carregou combustível e depois escondeu a serra elétrica. Já a mãe da família sabia o tempo todo da ação, segundo o delegado, e também foi presa. A identidade dos familiares ainda não foi informada pela Polícia Civil.

TERCEIRO 'FORAGIDO' NA VERDADE ERA TRABALHADOR

Após a morte dos cinco, no sábado, havia a informação de que três criminosos estavam foragidos. Durante as buscas, foi constatado que, na verdade, eram dois.

O terceiro, apontado por moradores como uma pessoa estranha na localidade, na verdade era um pedreiro da Serra que estava em Santa Leopoldina para fazer uma obra.

"Por isso ele era desconhecido dos moradores, porque era morador da Serra. Mas ele conseguiu comprovar que estava trabalhando ali", comentou o major Cabral.

QUEM ERAM OS CRIMINOSOS?

Segundo as investigações, sete pessoas participaram ativamente do ataque em Santa Leopoldina durante a madrugada: cinco da Bahia e dois de São Paulo.

No sábado, três da Bahia e dois de São Paulo foram mortos. Nesta segunda, dois baianos foram presos.

Bandidos explodem e assaltam bancos em Santa Leopoldina. Na imagem, a agência do Banestes. Também foram antingidos os bancos Sicoob e Banco do Brasil.(Carlos Alberto Silva)

De acordo com o delegado Gabriel Monteiro, quatro dos cinco mortos participaram de um ataque na Bahia, no mês passado, e tinham conseguido fugir de lá após confronto com a polícia. Na ocasião, outros quatro comparsas deles foram mortos. Os que conseguiram sobreviver vieram para o Espírito Santo, mas acabaram mortos também em confronto com a polícia capixaba.

Ainda segundo o delegado, um dos que foram mortos no sábado é um dos ladrões de bancos mais procurado do país. A polícia não passou o nome de nenhum dos criminosos, pois ainda não finalizou o inquérito.

PLANEJAVAM INVADIR CARIACICA

Após a ação criminosa, os indivíduos planejavam ficar, pelo menos, 10 dias na mata, em Tirol, esperando a situação ficar mais tranquila para empreenderem fuga. Para isso, além do forte armamento, contavam com barracas e comida.

A quadrilha planejava ainda invadir uma loja de penhores da Caixa Econômica Federal, em Cariacica. O ataque na cidade da Grande Vitória contaria com a participação de até 30 homens, conforme o delegado Gabriel Monteiro.

"Tivemos a informação de que esses criminosos estavam planejando outro crime, dessa mesma natureza, com esse mesmo terror, seria no município de Cariacica, em uma loja de penhores da Caixa Econômica Federal e, para isso, iriam usar aproximadamente 30 homens", afirmou.

A operação que resultou nas mortes e na prisão de suspeitos de envolvimento com a quadrilha contou com a participação de mais de 100 agentes, entre policiais civis e do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal, além do apoio da aeronave do Notaer.

ENTENDA O ATAQUE PASSO A PASSO

Um grupo de homens fortemente armados invadiu a cidade de Santa Leopoldina, na madrugada de sexta-feira (30). Os indivíduos fecharam ruas, atiraram contra viaturas, renderam motoristas e saquearam pelo menos três bancos, com uso de explosivos.

Os criminosos derrubaram uma árvore em uma estrada para fechar a passagem. Depois, fizeram um caminhoneiro refém e fecharam outra estrada. Nesse momento começou o tiroteio, que deixou os moradores desesperados. Os bandidos usavam touca ninja e estavam fortemente armados, como deu para ver nos vídeos feitos por câmeras de videomonitoramento.

Depois de saquearem os bancos, os bandidos fugiram. O ataque aconteceu no dia do pagamento de servidores públicos, como explicou o prefeito da cidade. Pela manhã, uma dinamite foi encontrada dentro de uma das agências bancárias invadidas. O esquadrão antibombas foi acionado e detonou o material em uma área de vegetação da cidade.

Em seguida, dois veículos incendiados foram encontrados em uma zona rural de Viana, a 60km de Santa Leopoldina. A perícia da Polícia Civil foi até lá e constatou que os carros foram usados pela quadrilha.

Dentro de um deles, que não ficou completamente destruído, havia algumas pistas: os bandidos deixaram para trás galões de gasolina, chave de fenda, munições, chave do carro, calça, luvas e chapéu. O material foi apreendido.

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