Frequentemente associado à construção civil, a cal também se tornou uma "peça-chave" no homicídio da enfermeira Íris Rocha de Souza, de 30 anos, em Alfredo Chaves, no Sul do Estado. No momento em que foi localizado, o corpo dela, segundo a Polícia Militar, estava coberto pela substância. Mas por que criminosos utilizam esse tipo de componente, chamado ainda de óxido de cálcio, em alguns crimes?
Primeiro, é preciso explicar como a cal é feita e para o quê serve. Segundo o professor de Química Josimar Ribeiro, é um dos elementos mais utilizados em obras, como na preparação da argamassa. Ela também pode ser encontrado nas indústrias químicas e alimentícias.
E quanto aos crimes? Conforme explicou o perito criminal da Polícia Científica do Espírito Santo, Regis Farani, jogar cal em cima do corpo das vítimas é visto como uma estratégia para dificultar a identificação delas. Em alguns casos, além de provocar queimaduras na pele, o elemento consegue diminuir a liberação de gases – sobretudo aqueles causadores do mau odor.
O especialista, no entanto, avalia que é uma técnica com pouca eficácia, se comparada com aquelas já desenvolvidas pela Polícia Civil. "Acho que se dá uma importância maior do que se deve. Há um efeito, sim, mas não é verdade que impossibilita o reconhecimento do corpo. Conseguimos identificar mesmo com a pele queimada ou danificada", avaliou.
Dependendo das condições do ambiente, o perito explica que o criminoso pode até causar o efeito contrário: a preservação do cadáver. É o que acontece, segundo ele, com algumas múmias encontradas no Peru, mantidas em ambientes com a presença da cal.
"Você acha muitas múmias no Peru por conta da baixa umidade, e elas também são encontradas em cavernas de calcário, um composto básico que ajuda a não proliferar bactérias. Elas que vão decompor o corpo bioquimicamente", afirma.
Regis de Almeida frisa ainda que o uso dessa substância não é tão comum em crimes no Espírito Santo, além de ser um importante sinal de premeditação dos homicídios – ou seja, se for comprovada, é capaz de agravar a pena do indivíduo.
"Ninguém anda com cal dentro do carro, por exemplo. Até porque se ele tiver contato com muita umidade, logo vira pedra. Precisa existir uma intenção bem clara", pontuou.
Sobre o caso da enfermeira Íris Rocha, a Polícia Civil informou que o crime segue sob investigação da Delegacia de Alfredo Chaves. Em nota, a corporação também destacou que, para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada.
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