Versão anterior desta matéria trazia a informação errada de que Jerusa seria mãe da nora de Daniel, vítima de bala perdida na clínica. A informação correta é que Jerusa é mãe do genro de Daniel. O texto foi corrigido
A morte do paciente Daniel Ribeiro Campos da Silva, de 68 anos, no leito de hospital por uma bala perdida que atravessou a parede durante um tiroteio, na madrugada deste domingo (25), revoltou familiares.
Daniel estava internado havia dois anos por um AVC na clínica de cuidados paliativos Total Health, que fica dentro do Complexo Life Vix Mall, no quinto andar, ao lado do hospital MedSênior, na avenida Leitão da Silva, em Vitória.
A perita aposentada Jerusa Durr Aguiar, de 72 anos, conversou com a reportagem da TV Gazeta e disse como ela recebeu a notícia.
"A gente está em estado de choque. Logo de manhã, minha filha me ligou e disse que Daniel tinha morrido, eu respondi 'foi feita a vontade do Senhor', mas ela falou 'não, mãe, ele foi morto com um tiro na cabeça. Mesmo depois de saber dos detalhes, a ficha ainda não caiu. Poxa, dentro de um hospital?", lamenta Jerusa.
A vítima era sogro do filho de Jerusa. Segundo ela, os familiares de Daniel foram chamados para ir à clínica por volta de 4h da madrugada.
"A minha nora 4h da manhã recebeu uma ligação da clínica pedindo pra ela ir pra lá urgente. Ela até perguntou ao médico se ele tinha morrido, mas ele só respondeu que ela fosse urgente pra lá. Quando ela chegou, ainda estava tendo muito tiroteio, tinham dezenas de viaturas", explicou.
Jerusa conta que Daniel teve um AVC hemorrágico há dois e estava na clínica de cuidados paliativos. “Ele era lúcido, ele não conseguia verbalizar, mas ele entendia tudo. Ele chorava quando a gente chegava, fazia positivo para a gente. Tem uns vídeos dele com o fisioterapeuta trabalhando. Ele também ia de cadeira de rodas lá fora tomar sol”, detalha.
Para os pacientes, acompanhantes e funcionários do complexo de saúde na Leitão da Silva a madrugada foi de terror e medo de ser atingido por tantos disparos. Uma acompanhante de paciente, que estava em um quarto da clínica e preferiu não se identificar, relatou como foram momentos de intensa troca de tiros no entorno do hospital.
Ela conta que o tiroteio começou por volta das 2h50 e que teria durado mais de meia hora. Depois, esporadicamente, o barulho dos tiros e clarões do foguetório retornava, tendo sido possível ouvir até rajadas de metralhadora. O que ficou da noite foi muito medo de se deslocar pelo quarto, principalmente de chegar perto da parede.
"Era muito disparo, muito próximo das janelas dos quartos, que têm vista para o morro. Então o medo foi constante durante essa madrugada porque a gente pensava que poderia uma bala perdida acabar atingindo o prédio do hospital nesse meio tempo. Acho que durou uns 40 minutos, eu senti vontade de ir ao banheiro e fiquei muito tensa, com muito medo, porque eu estava me aproximando mais da parede, na direção desse morro, então foi bem complicado."
Uma funcionária do complexo de saúde que não quis se identificar contou que, durante a troca de tiros, com muitos clarões, ela e os colegas tentaram se proteger devido à quantidade de disparos.
"Tentamos nos proteger a todo momento, ficamos abaixadas no setor. Foi um sentimento de medo, muito medo, e ao mesmo tempo revolta porque qualquer um de nós ali poderia ter sido atingido e por saber que não estamos protegidos nem dentro do ambiente de trabalho por conta da violência que comanda nosso Estado."
Diante da madrugada de terror que provocou a morte de um idoso dentro do leito de hospital, a perita aposentada cobrou mais investimento em segurança pública do governo do Estado.
"Tem que investir mais em segurança pública para que não ocorram mais casos como o de Daniel", defende Jerusa Aguiar.
Segundo informações da Polícia Militar, traficantes realizaram vários disparos de arma de fogo e jogaram pregos e pedras na avenida Leitão da Silva na altura de um supermercado. Ainda segundo a PM, vários tiros foram direcionados aos policiais, que acabaram encurralados próximo ao complexo de saúde.
Depois que foram informados da morte do paciente por bala perdida, os policiais chegaram a orientar os enfermeiros da clínica a retirar os pacientes em áreas mais expostas aos projéteis disparados pela áreas ao redor.
A Polícia Civil foi procurada para dar mais detalhes sobre o caso, mas ainda não deu retorno, quando isso ocorrer este texto será atualizado.
A Total Health informou por nota que lamenta profundamente o ocorrido e informa que está prestando toda a assistência à família do paciente neste momento de dor, diante de um problema de segurança pública que nos atinge de forma tão dura.
"A empresa reitera ainda que tomou todas as providências para garantir rápida assistência e salvar a vida do paciente que, infelizmente, não resistiu e veio a óbito. A empresa segue à disposição da família e das autoridades competentes para prestar esclarecimentos", detalhou.
A MedSênior informou que o paciente atingido por um tiro na madrugada deste domingo estava internado nas instalações de uma clínica de cuidados paliativos instalada no Life Vix Mall, na avenida Leitão da Silva, em Vitória.
"É importante ressaltar que a clínica não faz parte da MedSênior, sendo uma entidade distinta e independente. Por estar localizado nas proximidades, o Hospital MedSênior foi acionado para prestar apoio no atendimento da vítima, que chegou a dar entrada no hospital, mas, infelizmente, já tinha ido a óbito", informou, por nota.
Já a Unimed Vitória informou que o paciente vítima de bala perdida era um de seus beneficiários e encontrava-se em tratamento em uma das clínicas que fazem parte de sua rede de prestadores. "A cooperativa lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com todos os familiares. Por tratar-se de um caso de segurança pública, esperamos que as autoridades tomem as devidas providências para garantir a segurança dos cidadãos", ressaltou a cooperativa, por nota.
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