André, Ananias, José, Maurício e Diego. Esses são os nomes de alguns dos bandidos mais caçados pela polícia do Espírito Santo nos últimos anos. Juntos, eles respondem por vários assassinatos, assaltos e acusações de tráfico de drogas. Desafiando o aparato policial, seguem livres e por um bom tempo: alguns dos criminosos que estão na lista dos 10 mais procurados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) estão impunes há pelo menos oito anos.
Em uma das situações, o crime foi cometido no século passado. É o caso de Ananias Cardoso de Castro, de 40 anos. O criminoso tem dois mandados de prisão em aberto, sendo o primeiro deles por um assassinato cometido em 1999. Na ocasião, segundo a denúncia, Ananias, junto com mais dois comparsas, sequestrou uma mulher. A vítima foi baleada e teve o corpo jogado em um matagal às margens da Rodovia do Contorno.
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O criminoso e seu bando seriam os responsáveis, também, pela morte do marido dela. Segundo apuração policial, o casal foi executado como forma de queima de arquivo, por saberem detalhes de outros delitos cometidos pela quadrilha. Ananias chegou a ser preso, mas fugiu do presídio em 2012 e é procurado desde então.
MORTES NA FICHA
Outro bandido que chama a atenção é Edinei Marques Gregório, 37. Ele foi condenado por um homicídio qualificado cometido em 2003, em Cariacica, a 18 anos de prisão. Mas o nome de Edinei ficou nacionalmente conhecido após ele participar da morte de dois seguranças de um shopping, na Enseada do Suá, Vitória, em 2009, durante uma tentativa de assalto.
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Apontado como o mentor do crime, Ednei chegou a ser preso em São Paulo e transferido para o estado capixaba. Porém, desde 2010, quando fugiu Casa de Custódia de Viana, a polícia não tem sinal dele.
ALGUÉM VIU O ZÉ MACONHA?
E não é só Edinei que não é mais visto pela polícia. José Antonio Ramos da Silva, 43 anos, mais conhecido como Zé da Maconha, também desapareceu do radar policial.
Zé da Maconha foi preso pela Polícia Federal em 2003, acusado de falsificar moedas. No mesmo ano, ele fugiu da Casa de Custódia de Viana e foi preso novamente, seis mese depois, com drogas, arma e documentos falsos.
O criminoso era apontado como chefe do tráfico em Taquara, na Serra, segundo informações do processo registrado no TJ-ES, sendo um grande distribuidor de entorpecentes na Grande Vitória. Zé da Maconha respondeu pelos crimes em liberdade e, quando a condenação e o mandado de prisão saíram, em 2013, dez anos depois, o criminoso já estava novamente longe da polícia.
ROTA INTERNACIONAL
Em agosto de 2010, um jovem bonito, de classe média e bem-vestido foi preso pela Polícia Civil. Seu nome? Diego da Silva Carvalho, o Diego Portugal. Ele é suspeito de assassinar nove pessoas e de tentar matar outras cinco, em dois anos, em disputa pelo controle do tráfico de drogas em Ulisses Guimarães, Vila Velha, segundo a Polícia Civil.
Considerado um assassino frio, Diego Portugal, na época com 23 anos, foi preso saindo de um hotel em Coqueiral de Itaparica. Antes disso, ele conseguiu escapar da polícia várias vezes, sempre fugindo para Portugal.
A prisão de Diego chegou a ser comemorada pela polícia. Porém, a estadia do criminoso no xilindró durou pouco tempo. Ele ficou três anos em um presídio, sendo solto pela Justiça em 2013. Desde então outro mandado de prisão foi expedido, mas Diego não foi mais localizado.
MORTE EM SHOPPING
Apesar de não estar tanto tempo na lista dos mais procurados, o caso de Maurício Geciano Rodrigues, 20, o Mau-Mau, chama atenção pela repercussão e pela ousadia do crime que é acusado de cometer.
Segundo a Polícia Civil, Mau-Mau executou João Walbert Valério Pereira, 33 anos, dentro de um shopping, em Vila Velha, no dia 1º de abril de 2017. Na ocasião, dois clientes do estabelecimento foram vítimas de bala perdida, entre eles uma criança.
O caso foi investigado pela Delegacia de Crimes Contra Vida (DCCV) de Vila Velha que conseguiu identificar os quatro envolvidos no crime e Mau-Mau era o atirador.
OS OUTROS
Outros bandidos da lista de mais procurados cometeram crimes recentemente, mas isso não os torna menos perigosos. Um exemplo disso é a situação de Lucas Siqueira Barbosa, de 24 anos, conhecido como Rato. Contra ele estão em aberto cinco mandados de prisão, sendo três tentativas de assassinato e duas mortes entre 2016 e 2017. Os demais integrantes da relação são Marco Antonio Rodrigues Galdino, de 25 anos, o Nego, que é procurado por três assassinatos, Jonathan Santana Marinho, 21, o Chupa-Cabra, e André Carolino da Silva, 31, que respondem por uma morte cada, além de Willian Magno Guarino Dias, 31, procurado por tráfico de drogas.
OUSADIA
E se alguns criminosos estão soltos há um bom tempo, há também exemplo de quem estava sob custódia do Estado e conseguiu escapar de forma, no mínimo, inusitada. É o caso de Osvaldo Marinho Barreto, 49. Ele fugiu no dia 2 de novembro de 2017, da Penitenciária Estadual de Vila Velha III (PEVV III), no Xuri, pela porta da frente e usando o uniforme de um agente.
Antes de sair, ele ainda deixou um recado, em inglês, no quadro da biblioteca do presídio para os amigos: Sinto muito por ter que fazer isso. É a maneira que encontrei. Desejo a vocês o melhor nesta vida. Nunca vou esquecer vocês. Osvaldo estava preso por falsificação de documento público e, até o momento, é considerado foragido, de acordo com o portal da Sesp.
FALTA DE INVESTIMENTO
A instituição responsável pela captura dos foragidos é a Polícia Civil. Mas a falta de investimento e a defasagem no efetivo impedem que o trabalho seja feito da forma correta. Essa é a justificativa do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol), Jorge Emílio Leal, para o fato de criminosos que cometem crimes há tanto tempo e com mandado de prisão em aberto há anos não estarem na cadeia.
A polícia não tem estrutura suficiente para combater o crime. Fora os casos mais atuais, existem os crimes mais antigos, que não têm apuração. Na Superintendência de Polícia Prisional, o efetivo é muito pequeno, tem um volume de trabalho muito grande e não dá conta de pegar todo mundo. Fica difícil descobrir os foragidos porque não tem efetivo suficiente sequer para investigar. A polícia fica amarrada, ressaltou.
Ainda segundo o presidente do Sindipol, a defasagem do aparato policial é antiga. Hoje temos 2,2 mil policiais civis trabalhando. Tem uma defasagem de 60% na área operacional e 80% na área de polícia técnico-científica. É muito grande porque ficou muito tempo sem fazer o concurso. O último para investigador foi em 1993, disse.
SEM DETALHES
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Segurança (Sesp) e com a assessoria de comunicação da Polícia Civil, para questionar as dificuldades para a captura desses criminosos. Porém, a única resposta enviada, por meio de nota, foi que os dados sobre foragidos e dos mais procurados estão disponíveis no site da Sesp. Esses dados são atualizados constantemente a medida que polícia vai prendendo os relacionados. Sobre fontes, os delegados não falam sobre investigações em andamento.
Em relação à falta de investimento, questionada pelo Sindipol, a Sesp informou que oGoverno do Estado, em 2017, nomeou 131 novos policiais civis, entre delegados, peritos, agentes, investigadores e médicos legistas. No mesmo período foram autorizadas progressões de carreira de 498 servidores.
Ainda segundo a Secretaria, neste ano foi autorizado o concurso público para contratação de 173 novos profissionais para os cargos de escrivão, perito criminal, médico legista, investigador, psicólogo, assistente social e auxiliar a de perícia e novos delegados estão sendo localizados em diversas delegacias pelo Estado.
A Sesp ainda ressaltou que a Polícia Civil vem recebendo importantes investimentos do Governo do Estado. Serão reformadas e construídas 23 novas unidades de polícia em todo o Estado. O objetivo é oferecer estrutura humanizada aos policiais e, por consequência, melhorias aos capixabas.
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