Um ajudante de pedreiro, de 19 anos, foi preso na manhã desta terça-feira (9) no bairro Boa Sorte, em Cariacica, acusado de torturar, manter em cárcere privado, ameaçar e divulgar vídeo da ex-namorada nua, de cabeça e sobrancelhas raspadas. A investigação teve início na última sexta-feira, quando a reportagem do Gazeta Online recebeu as imagens e levou ao Plantão Especializado da Mulher (Pem).
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De acordo com a vítima, uma estudante de 18 anos, ela namorou com Keuly Vinicius dos Santos Oliveira, 19 anos, por um ano e meio e os dois chegaram a morar juntos. O casal terminou em maio de 2019, mas o acusado recusou-se a entregar pertences da vítima, como documentos e roupas. Após um mês de término, no dia 19 de junho, Keuly disse que entregaria os objetos da ex-companheira. Para isso, ela deveria ir até a casa da mãe dele.
"Ele a buscou na casa onde ela estava com uma amiga e a levou para a casa da mãe dele, em Cariacica. A mãe dele não estava casa. Assim que entraram, ele pegou uma máquina de raspar cabelo e disse que ou a matava, ou rasparia os cabelos dela. A estudante ficou sem opção e teve cabelos e sobrancelha raspados. Ela foi levada para a parte de cima da residência, onde outro imóvel está em construção", contou a Fernanda Diniz, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
TORTURA E HUMILHAÇÃO
No local, Keuly exibiu uma arma e exigiu que a ex-companheira tirasse toda a roupa. Foi quando ele fez um vídeo nela nua, a obrigando a assumir supostas traições. Em seguida, ele a levou para as ruas do bairro, obrigando que ela andasse nua na frente dos moradores. Depois de humilhá-la, ele a trancou em um banheiro por algumas horas. Por fim, a levou para um cemitério, onde fez um corte na mão da vítima, fazendo com que o sangue dela caísse em um túmulo. Foi quando ele afirmou que naquele momento estava vendendo a alma da estudante ao diabo, como forma de fazer terror psicológico.
"Foi uma grande barbárie. Ele ainda ameaçou ela e toda sua família de morte caso ela denunciasse. Uma pessoa com uma conduta dessa poderia facilmente cumprir as ameaças. A vítima se escondeu e não denunciou, por medo. Ele não aceitava o fim da relação e nem que a estudante seguisse a vida sem ele. Nada justifica o que ele fez", explica.
INVESTIGAÇÃO E PRISÃO
A reportagem teve acesso ao vídeo na última-sexta feira (5) e o entregou à delegada Taís da Cruz, que estava como plantonista no Pem. Horrorizada com as imagens, Tais entrou em contato com a delegada Fernanda Diniz; a chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, Claudia Dematté; e Michele Meira, gerente de Proteção à Mulher da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP).
"Assim que eu recebi o vídeo, fiquei chocada com as cenas. Minha maior preocupação era com a vida dessa vítima. De imediato entrei em contato com as delegadas e durante todo o fim de semana nos unimos em um trabalho de investigação", contou Tais Cruz.
BUSCAS PELA VÍTIMA
A delegada Michele Meira explicou que a Polícia Civil entrou em contato com o 7° Batalhão da Polícia Militar (Cariacica) para pedir apoio. Com imagens do acusado e da vítima, as delegadas perguntaram se os policiais conheciam um dos dois, já que costumam atuar nas ruas do município. Após os dois serem identificados pela PM, a Polícia Civil localizou a vítima na última segunda-feira (8).
"A levamos para a delegacia, colhemos depoimento, solicitamos Medida Protetiva e tomamos todas as medidas para proteger a vida dela. Representei pela prisão preventiva dele e com um mandado de prisão fomos até a casa onde ele estava morando, além de um mandado de prisão para apreender o telefone e a arma. Ele foi preso hoje pela manhã e não resistiu a prisão. Mostrando frieza e nenhum arrependimento, ele disse que fez o que fez porque segue as leis do tráfico e porque o cabelo da vítima era o maior troféu dela", contou a delegada.
DEPOIMENTO
Keuly confessou apenas que raspou o cabelo e a sobrancelha na vítima, além de fazer o vídeo, negando as outras acusações. Ele foi autuado por tortura, lesão corporal, ameaça e divulgação de vídeo contendo nudez sem consentimento. A polícia investiga a participação de outras pessoas.
"Essa prisão é muito importante para mostrar que os homens que insistem em praticar violência contra mulher que o nosso estado não sairão impunes. Esse caso nos estarreceu porque é a clara demonstração do machismo, da conduta do homem que ainda acha que tem posse da mulher, que acredita que tem o direito de humilhar, violentar, manter em cárcere... Esse tipo de situação não passará impune. Iremos continuar dando respostas porque a luta contra a violência contra a mulher é nossa prioridade", finalizou Dematté.
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