A Polícia Civil prendeu, por meio da Operação Lar Seguro, 10 suspeitos acusados de abusar, ameaçar e manter em cárcere privado, menores de idade na Grande Vitória. Entre os presos estão um professor de luta, dois caminhoneiros, vendedor, vigia de obras e outros, incluindo dois jovens de 21 anos e um de 18. As prisões aconteceram por meio da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), entre o final de dezembro último e o começo deste mês.
A operação, segundo a corporação, visa resguardar vítimas de crimes graves que estavam sendo ameaçadas e/ou constrangidas pelos autores que cometeram os crimes em seu desfavor. A ação ocorreu do dia 19 de dezembro de 2022 até a última segunda-feira (9). As prisões ocorreram em Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica.
De acordo com a titular da DPCA, delegada Rhaiana Bremenkamp, a Operação Lar Seguro tem esse nome porque a polícia foi procurada ao final do ano por vítimas de crimes graves, que afetam a dignidade sexual das crianças, que passaram a ser perseguidas por seus abusadores.
“Chamou nossa atenção que vieram muitos vasos ao mesmo tempo, e montamos essa operação. Foram cumpridos três mandados de busca e apreensão, cinco prisões temporárias, quatro preventivas e uma em flagrante dentro da delegacia. Chama atenção que seis dessas prisões foram em razão estupro de vulnerável, onde a vítima é menor de 14 anos”, explicou a delegada.
A delegada explicou que o nome da operação é também com objetivo de dar tranquilidade às vítimas dentro de casa. Ela ressalta que crimes de abuso sexual, principalmente envolvendo crianças, ocorrem por familiares e pessoas próximas.
Em um dos casos, dois irmãos foram abusados pelo próprio tio. O caso só chegou até a polícia após a menina de 10 anos revelar o abuso que ela e o irmão de 11 anos vinham sofrendo. A vítima contou que o irmão havia pedido segredo, pois tinha medo da tia, companheira do abusador, ficar com raiva.
A menina relatou vir sendo abusada desde os cinco anos, e disse que o irmão começou a ser vítima dos abusos aos seis anos. “A partir do momento que houve a denúncia e o tio foi intimidado pela delegacia, o acusado passou a perseguir essa criança de 10 anos, inclusive indo à escola dele. Passou também a ir atrás da mãe das crianças no trabalho dela, que teve que se demitir”, contou a delegada Rhaiana Bremenkamp.
A delegada ainda relata que o menino de 11 anos, abusado desde os seis, contou que antes e depois dos abusos o acusado passava a ser mais gentil com ele e a irmã. O garoto também disse estar com vergonha de ser vítima dos crimes. Já a irmã disse saber que somente os pais acreditariam neles, enquanto a família desacreditaria. “E é verdade, somente os pais acreditaram, ninguém mais acreditou, até hoje”, disse a delegada.
Em outro caso, uma menina de 13 anos não se aceita como vítima sexual. A família só percebeu que ela era abusada devido a mudanças no comportamento da vítima, que passou a ser mais agressiva e depressiva. “Uma coisa que me chama atenção nessa criança é que ela trata o abusador dela como a melhor pessoa que conheceu”, contou a delegada Rhaiana Bremenkamp.
O delegado-adjunto da DPCA, Vinicius Fandino Landeira, pontuou que, nesse caso o acusado, um professor de luta de 33 anos, não via problema na relação com a criança de 13 anos.
“O legislador diz de forma absoluta que se relacionar com crianças abaixo de 14 anos é crime. Configura estrupo de vulnerável. Não existe relacionamento consensual com crianças de 14 anos, é crime e pronto. Não há o que se discutir”, afirmou o delegado.
Um jovem de 21 anos foi preso por manter em cárcere privado e agredir uma adolescente, de 15 anos, com quem se relacionava. A vítima chegou a fugir e correr para dentro de uma delegacia e pedir ajuda. Ainda assim, o homem, mesmo dentro da delegacia, ameaçou a menor.
O delegado-adjunto da DPCA, Vinicius Fandino Landeira contou que a adolescente explicou que há dois meses estava presa dentro de casa, pois o namorado tinha ciúmes do primeiro companheiro da menina.
“Ele não deixou ela sair de casa. Nesse dia ela conseguiu sair dizendo que ia para casa de um amigo e ele foi atrás dela dentro do ônibus. Ela saltou próximo da delegacia e quando chegou perto do DPCA, correu para dentro da delegacia. Ele foi atrás. Até a gente entender o que estava acontecendo, demorou um pouco. Ele foi tirado da delegacia e não satisfeito, voltou. Mas nesse meio tempo, já tínhamos conversado com a vítima e esclarecido a situação. Realizamos a prisão em flagrante", disse o delegado-adjunto.
Em nenhum momento o homem negou o crime. A menor de idade está grávida do acusado e já tem um filho, com o primeiro namorado, o que provocou ciúmes no sujeito.
Segundo a delegada-adjunta da DPCA, Thais Cruz, um dos casos chegou a delegacia após uma mulher procurar o DPCA informando haver fugido do interior de Minas Gerais em razão do relacionamento abusivo que vivia com um homem. Após o fim da relação, ela percebeu uma mudança no comportamento da filha de 14 anos.
Ao questionar a filha, ela contou que o ex-padrasto fez um vídeo onde abusava da menina e fez uma montagem onde ameaçava a criança dizendo que enviaria os vídeos aos familiares dela se não contasse onde a mãe está. Por conta do abuso, a vítima está em depressão profunda.
A titular da DPCA, delegada Rhaiana Bremenkamp, destaca para os sinais que os filhos dão quando estão sendo vítimas de abusos. De acordo com ela, o principal sinal é a mudança de comportamento nas vítimas.
“Crianças pequenas demonstram através de algumas coisas, se não faz xixi na cama, volta a fazer. A criança que não gosta de jeito nenhum de chegar perto daquele adulto. O abusador normalmente ameaça a vítima dizendo que ninguém iria acreditar nelas, que os pais vão bater nela se descobrirem. Temos que prestar atenção nas nossas crianças”, disse.
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