Uma história que é difícil de acreditar: o professor de 44 anos, preso após denúncias de estupro, fez pelo menos 21 vítimas, todas alunas dele, com idades entre nove e 16 anos, ao longo dos anos em que lecionou no Ensino Fundamental em escolas de Cariacica e Vila Velha. A Polícia Civil descobriu os casos após cinco alunas de nove anos relatarem sobre abusos cometidos no primeiro dia de trabalho do suspeito, como substituto, em 4 de novembro deste ano.
O professor, segundo as investigações, dá aulas desde 2013. O nome dele não foi divulgado pela Polícia Civil e os processos em que ele está envolvido estão em sigilo, visto que envolvem menores de idade. Por estes motivos, ele não está sendo identificado na reportagem.
Tudo veio à tona no dia 4 de novembro deste ano. Neste dia, cinco alunas de 9 anos, com seus responsáveis, foram até a Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) para registrar boletins de ocorrência contra o professor substituto, que tinha começado naquele mesmo dia em uma escola de Cariacica. Segundo as vítimas, o suspeito passou a mão nas partes íntimas delas.
A partir daí, a polícia começou a fazer levantamentos e encontrou casos de outras duas alunas, que na época também tinham 9 anos, e foram abusadas pelo suspeito em outra escola de Cariacica. No dia 10 de novembro, ele foi preso de forma preventiva, na própria casa em Vila Velha.
As investigações continuaram e os policiais descobriram que, entre 2014 e 2019, o professor deu aula em Vila Velha. "Durante esse período havia diversas reclamações de alunas e pais de alunas a respeito da conduta dele. Ainda não havia registro de boletim de ocorrência para apurar esses fatos, porém nós identificamos essa documentação referente a reclamação de alunas e instauramos inquérito policial para apurar", detalhou o delegado Leonardo Vanaz, adjunto da DPCA.
Uma das vítimas de Vila Velha deu depoimento à polícia e contou uma história que chamou a atenção até o delegado. O caso ocorreu em 2014. Na época, a jovem tinha 14 anos. "Ela começou a ser perseguida por ele no ônibus em que ia para a escola. Ele começou a mostrar vídeos pornográficos no ônibus, a dar em cima, também começou a constranger ela durante as aulas", disse o delegado.
Em determinado dia na escola, a vítima pediu para ir ao banheiro durante a aula. O professor a perseguiu até lá. "Ele encurralou a vítima e teria praticado beijo forçado, mordidas e outros atos libidinosos. Ela narra que, na época, a família optou por não levar adiante e nem registrar boletim de ocorrência, acabou que esse fato está sendo investigado agora", completou Vanaz.
O professor, segundo a polícia, deu aula em escolas municipais e estaduais. Após ser preso, em depoimento, ele ainda se disse "carismático". "Ele alega que sempre teve um perfil carismático e que, por estar em escolas com crianças mais carentes, sempre foi uma pessoa de abraçar muito, de toques, e disse que era muito permissivo, que esse foi o erro dele. Mas o que foi apurado é que não eram gestos de carinho, eram gestos sexualizados", relatou a delegada Gabriella Zaché, adjunta da DPCA.
Segundo as investigações, as escolas faziam uma apuração interna e orientavam os pais a registrarem a ocorrência. "A gente sempre orienta as escolas e também os pais que prestem atenção no comportamento dos seus filhos, que busquem saber da rotina dos seus filhos na escola e que a qualquer indício de crime registre imediatamente na delegacia", disse o delegado Leonardo.
Ele ainda ponderou que, em alguns casos, há um receio dos pais na hora da denúncia. "É possível haver uma inibição por parte dos pais de registrar esses crimes, primeiro porque podem entender que o processo criminal pode gerar um constrangimento para a criança e também porque esse professor tinha uma posição social, era carismático, conhecido por todos."
A polícia acredita que mais vítimas do criminoso podem aparecer. Qualquer pessoa pode procurar a DPCA, em Jucutuquara, Vitória, para registrar um boletim de ocorrência ou ajudar nas investigações.
Na semana passada, a repórter Jaciele Simoura, de A Gazeta, já havia adiantado sobre a prisão do professor. Na ocasião, a Prefeitura de Cariacica informou que "foi instaurado um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que resultou na demissão, publicada no dia 12 de novembro no Diário Oficial. Além da demissão, ele também está incompatibilizado de assumir qualquer cargo público pelo período de oito anos".
A Prefeitura de Vila Velha disse que "o professor teve contrato rescindido pela Secretaria de Educação de Vila Velha em 2018/2019. Após medidas internas e solicitação de ordem de restrição, o profissional ficou impedido de retornar à rede municipal de ensino".
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou, em nota, que "o professor atuou na Rede Estadual de Ensino como DT (designação temporária) em Vila Velha até o ano de 2021".
O crime de estupro de vulnerável, previsto no art. 217A do Código Penal, prevê que é considerado estupro de vulnerável ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos.
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