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Professora de inglês baleada em ataque em Aracruz está em coma induzido

Professora de inglês baleada em ataque em Aracruz está em coma induzido

Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, é mãe de três filhos; segundo o marido da educadora, ela está em coma induzido e intubada no Hospital Jayme Santos Neves

Publicado em 29 de novembro de 2022 às 10:23

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Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, levou cinco tiros em ataque a escolas em Aracruz
Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, levou cinco tiros em ataque a escolas em Aracruz. (Acervo pessoal)

A professora de inglês Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, é uma das vítimas do ataque a duas escolas em Aracruz, no Norte do Espírito Santo, na manhã da última sexta-feira (25). A educadora foi baleada com cinco tiros, que atingiram pernas, quadril, abdômen e tórax. Segundo a família, a vítima está em coma induzido e intubada no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, na Grande Vitória, e sem previsão de alta.

Degina tem um casal de filhos gêmeos de sete anos e um bebê de oito meses, que ainda é amamentado com leite materno. O marido da professora, o técnico mecânico Leandro Fernandes, conversou com a reportagem na manhã desta terça-feira (29). Ele contou que a esposa sofreu ao ser baleada e, posteriormente, com a impossibilidade de amamentar.

"Ela acordava de madrugada para dar de mamar para o nosso filho. Graças a Deus tinha muito leite e os seios ficavam tão cheios de doer. Eu tive que entrar com fórmula para alimentar nosso filho, mas isso não é nada, no tanto que minha esposa deve estar sofrendo", disse.

Até a última atualização desta reportagem, no total, cinco vítimas ainda estavam internadas em hospitais do Espírito Santo. O atentado deixou quatro mortos e 12 feridos.

Notícia do atentado

O técnico mecânico contou que a esposa é professora há 11 anos, cinco deles dedicados à Escola Estadual Primo Pitti, alvo do primeiro ataque do suspeito. O marido estava trabalhando quando soube dos tiros na escola.

"Umas amigas do trabalham começaram a me perguntar se eu estava sabendo dos tiros na escola. Disseram que entraram lá para assaltar. Perguntavam se Degina estava trabalhando e eu disse que sim. Comecei a ligar para ela e o desespero foi aumentando", relatou.

Leandro disse que seu carro não tinha combustível suficiente para se deslocar até o trabalho da esposa e se parasse em um posto de combustíveis perderia mais tempo. A empresa onde trabalha cedeu um veículo para o funcionário buscar informações.

Degina foi levada de helicóptero de Aracruz ao Hospital Jayme Santos Neves
Degina foi levada de helicóptero de Aracruz ao Hospital Jayme Santos Neves . (Divulgação/Notaer)

"Ajoelhei, orei e pedi a Deus que protege ela de todo mau. Fui dirigindo, orando e chorando do meu trabalho até a escola. Ao chegar lá, vi muitas ambulâncias e viaturas da polícia. Um grupo de professores, que não estava machucado, me recebeu aos prantos. Pensei que minha esposa tinha sido vítima e morrido ali mesmo. Fui informado que ela estava tão ferida que foi socorrida de helicóptero. Aí me enchi de esperança", relembrou.

O técnico mecânico visitou a esposa pela primeira vez no sábado (26). Disse que ficou impressionado ao encontrar a esposa tão ferida.

Recuperação

Leandro disse que a esposa está sendo muito bem tratada, mas o estado de saúde é muito grave. Degina estava na sala dos professores e foi atingida por cinco tiros. Segundo o marido, a professora levou tiros no tórax, no abdômen e nas pernas. Em uma das pernas, teve fratura exposta.

"A evolução dela está sendo bom, mas o quadro ainda é bem grave. Ela está em coma e intubada. Ela não poder ter infecção de jeito nenhum. O intestino foi muito afetado pelos fragmentos da bala. Minha esposa é uma mulher muito forte e guerreira, está lutando pelos filhos. Vamos seguir firma na Vitória, cada dia é um milagre.

Segundo o último boletim enviado pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa) na noite de segunda-feira (28), a professora segue internada na unidade em UTI em grave estado geral.

Família

Leandro disse que depois do ocorrido, a vida da família virou de cabeça para baixo. Os três filhos do casal estão sendo cuidados pelo irmão do técnico mecânico, pela sogra e por amigos da igreja.

Disse que contou para os gêmeos o que realmente aconteceu com a mãe. "Preferimos contar logo e falamos com muito cuidado. Falei de um jeitimho que entendessem. Eles estão sentindo falta da mãe com certeza. O bebê ainda não entende o que estamos passando. Mas sente falta do peito da mãe. ele é muito bonzinho", relatou.

Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, com a família
Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, com a família. (Acervo pessoal)

Leandro está afastado do trabalho por 10 dias. Nesse tempo se divide entre os filhos e as visitas à esposa no hospital todas as manhãs.

Ele já está pensando como vai receber a Degina em casa depois de ter alta. "Eu já estou me mobilizando para adequar nossa casa. Sei que a recuperação será demorada, ela vai precisar usar cadeira de rodas. Minha família e os amigos da igreja estão prontos para ajudar no que for preciso", disse.

Justiça

O g1 questionou ao marido da Degina qual seria a visão dele sobre o ocorrido, Leandro disse que quer a paz e que justiça seja feita.

"Espero que todo mundo fique em paz, mas quero que a justiça seja feita. Que seja tudo muito bem investigado para que os indivíduos que causaram essa tragédia paguem pelo que fizeram", afirmou.

O marido acredita que o pai do jovem também é responsável pelo o que aconteceu e disse que sozinho faz vários questionamentos.

"Tenho certeza que o pai dele também é responsável. O filho não iria conseguir dar tiros daquele jeito. Como que aprendeu a dirigir? Eu realmente tenho certeza de que o pai dele deve ter tido uma boa influência. Como pai, eu sei que precisamos ficar de olho em tudo que nossos filhos fazem, como não percebeu que as armas estavam sendo mexidas?

Enquanto as perguntas do marido de Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes não são respondidas, a família pede orações para ela, para as professoras e alunos feridos e para a comunidade que ainda sofre com os impactos dessa tragédia.

Assassino guardou armas, almoçou e foi para casa de praia após atacar escolas

Durante coletiva de imprensa para detalhar o andamento das investigações sobre o ataque as escolas de Aracruz, no Espírito Santo na última sexta-feira (25), a Polícia Civil informou que o assassino de 16 anos guardou as armas, almoçou e seguiu para a casa de praia com os pais depois de invadir as duas escolas.

Ao todo, quatro pessoas morreram e mais de 10 ficaram feridas. O ataque teve início por volta de 9h30, e o adolescente foi apreendido por volta de 14h10. Segundo o superintendente de polícia e delegado João Francisco Filho, o criminoso agiu naturalmente do ataque até a prisão.

"Ele volta pra casa em Coqueiral, pega todos os objetos que usou na ação e guarda para que os pais não desconfiassem que ele tinha usado. Coloca tudo onde estava e fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam, e ele reage naturalmente", contou o delegado.

A polícia ainda afirmou que os pais comentaram com o filho sobre o ataque e que ele agiu naturalmente. Em seguida, foi com eles até a casa de praia que tinha, onde foi preso.

Atirador diz que não escolheu vítimas

De acordo com a polícia, as investigações preliminares mostram que o atirador não teria escolhido as vítimas, mas feito disparos aleatórios.

"Ele disse que escolheu aleatoriamente as vítimas. Como a primeira sala era a dos professores, foi a sala que ele teve acessos mais fácil", conta o delegado.

De acordo com o delegado André Jareta, na sala dos professores, ele descarregou as munições que tinha em uma das armas duas vezes. "Ele já entra na sala dos professores atirando, esgota as munições que tinha, sai da sala, troca de carregador, volta para a sala dos professores e descarrega a arma novamente", diz.

Das quatro mortes, três foram de professoras baleadas na ação. Entre as cinco pessoas ainda hospitalizadas, três são professoras. Apesar da fala do atirador de que não teria escolhido as vítimas, a polícia informou que vai aprofundar as investigações para entender se houve alguma motivação.

Pai PM vai ser investigado pela corporação

Após ter confessado o crime, a polícia disse que o assassino foi à casa da família com os agentes e apontou onde estavam as armas e a roupa que usava.

O armamento era do pai, um policial militar. Segundo a polícia, uma delas, de registro pessoal, estava em uma caixa trancada com cadeado no quarto, e a segunda escondida em uma gaveta. A polícia apura como o adolescente teve acesso a elas.

Desde o crime, a polícia traz questionamentos sobre o acesso e habilidade de manuseio do armamento pelo adolescente. Nesta segunda-feira (28), a PM informou que vai abrir processo disciplinar para investigar a conduta do pai do atirador.

"Está sendo instaurado hoje um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias na qual o autor teve acesso às duas armas dele, uma da corporação e uma de registro pessoal, além das balas", informou o ️comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus.

O delegado João Francisco Filho reforçou, no entanto, que as armas não estavam em local de fácil acesso.

Simpatizante do nazismo

No dia do crime, o criminoso usava uma roupa com estampa militar e símbolos nazistas. De acordo com a polícia, em seu depoimento, ele confessou ter proximidade com ideias nazistas.

Apesar de ter negado que teve ajuda de terceiros na ação, a polícia disse que investiga se há envolvimento ou participação em grupos extremistas que possam ter ajudado ou incentivado ao ataque.

O celular do assassino foi apreendido e tem ordem judicial para passar por perícia, o que deve acontecer nos próximos dias.

Pai de vítima de ataque fala pela primeira vez

O pai da menina Selena Sagrillo, morta no ataque a escolas em Aracruz, o represente comercial Érick Serafim Zuccolotto, falou neste domingo (27) pela primeira vez sobre o ataque e disse em um vídeo que o mínimo que a família vai buscar é justiça.

"O mínimo que a gente vai buscar agora é justiça. Ele claramente tinha muito ódio no coração, e isso não é algo que surge da noite para o dia. Além de tudo, ele planejou, foi frio até na hora de confessar o crime", disse o representante comercial.

No mesmo vídeo, Érick disse que a família vai entrar com um processo contra o pai do assassino, que é policial militar.

O representante comercial também falou sobre a dor da perda da filha.

Na foto, Selena Sagrillo aparece ao centro, entre pai e mãe
Na foto, Selena Sagrillo aparece ao centro, entre pai e mãe. (Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto/Arquivo pessoal)

"Já desabei várias vezes. Desde sexta-feira, sobrou só um vazio dentro de mim. Não estou vendo a hora passar. Estou parado olhando pro nada o dia inteiro. Uma dor absurda", declarou o pai de Selena.

Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto, mãe menina Selena Sagrillo, divulgou, na noite de sábado, uma carta em que compartilha o sofrimento pela perda da menina e pede amor, piedade e segurança para crianças. A mãe de Selena também disse que perdeu a filha para o ódio.

Polícia investiga participação de outras pessoas em ataque

Em depoimento à polícia, o atirador disse ter agido sozinho no crime, mas a polícia investiga o envolvimento de outras pessoas. A informação foi dada pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), neste domingo (27).

"Ele disse que agiu sozinho, mas isso não é suficiente para a polícia. A polícia vai de fato fazer toda a investigação técnica", informou Casagrande.

Entre os pontos investigados estão o acesso e habilidade com armas, saber dirigir e ter acesso ao carro. Além do envolvimento com grupos extremistas. No dia do crime, ele usava vestimentas com um símbolo nazista.

"A investigação que vai dizer como ele, com 16 anos, tinha tanta habilidade com armas e como ele conseguiu carregar e recarregar", disse o governador.

A polícia apura se há envolvimento do pai, policial militar, já que as armas usadas no ataque são dele. "A PM está sim no processo de investigação, mas é a Polícia Civil que vai dizer se de fato teve cumplicidade", disse o governador. Ele não informou se o PM já foi ouvido pela polícia.

Casagrande ainda disse que a polícia apreendeu o telefone e o computador do assassino para apurar se ele tinha relação com grupos extremistas.

"Nós temos acesso ao seu telefone, aos seus computadores, aos interrogatórios, então é um processo de investigação para ver se ele tinha algum envolvimento com algum grupo de fora neonazista".

De acordo com a Polícia Civil, o assassino que atacou as duas escolas, por ter 16 anos, vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. O número é menor que o de vítimas no ataque porque algumas não foram baleadas, mas se feriram na correria dos alunos em fuga.

Homenagem a vítimas

Neste domingo de manhã, indígenas, membros de várias igrejas e religiões, além de amigos e familiares participaram de uma homenagem às vítimas dos ataques. Imagens da homenagem mostram que o grupo percorre o trajeto entre as duas escolas cantando e fazendo orações. 

Vítimas

Quatro pessoas morreram no ataque que aconteceu na sexta-feira. As vítimas são a estudante Selena Sagrillo, de 12 anos, e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos, Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos, e Flávia Amboss Merçon Leonardo.

Selena Sagrillo, Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amoss, vítimas do ataque a escolas em Aracruz
Selena Sagrillo, Maria da Penha Banhos, Cybelle Bezerra e Flavia Amoss, vítimas do ataque a escolas em Aracruz . (Reprodução)

Os corpos de Selena e Maria da Penha foram enterrados no início da tarde de sábado. Já a família de Cybelle preferiu que o corpo dela fosse cremado e levado para Pernambuco, onde a família mora.

A professora Flávia morreu no sábado e foi enterrada neste domingo em um cemitério na Serra.

O ataque

O ataque a duas escolas deixou quatro mortos e outros 12 feridos em Aracruz. A investigação apontou que o ataque foi planejado por dois anos e que o criminoso usou duas armas do pai, um policial militar. O assassino tem 16 anos e estudou até junho no colégio estadual atacado, segundo o governador do estado, Renato Casagrande (PSB).

Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. Aracruz, onde o ataque aconteceu, fica a 85 km ao norte da capital.

Polícia Militar, Polícia Civil, Perícia e Rabecão na escola estadual Primo Bitti, em Aracruz, onde ocorreu ataque por atirador
Polícia Militar, Polícia Civil, Perícia e Rabecão na escola estadual Primo Bitti, em Aracruz, onde ocorreu ataque por atirador. (Fernando Madeira)

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino invadiu a escola estadual com uma pistola e fez vários disparos assim que entrou no estabelecimento de ensino. Depois, foi até a sala dos professores e fez novos disparos. Na unidade, duas professoras foram mortas.

Na sequência, o atirador deixou o local em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral, que fica na região. Na unidade, uma aluna foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu em um carro. Ele foi apreendido ainda na tarde de sexta.

Neste sábado, a Polícia Civil informou que o criminoso vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas.

Com informações do G1ES

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