Procurado no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, onde chegou a ficar escondido no ano passado, Fernando Moraes Pimenta, o Marujo, de 31 anos, foi preso nesta sexta-feira (8), no bairro Bonfim, em Vitória. Ele era o número um na lista dos mais procurados do Estado, estava foragido desde 2017 e tem uma extensa ficha criminal.
Em 2022, A Gazeta publicou uma reportagem que apresentava o perfil do criminoso. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), são pelo menos seis mandados de prisão em aberto.
Segundo a Polícia Civil, Marujo é o chefe do tráfico de drogas do Bairro da Penha e Bonfim, na Capital. Ele responde diretamente à cúpula da liderança do Primeiro Comando de Vitória (PCV), facção que comanda a região e se estende a vários bairros – não só na Grande Vitória como no interior do Estado.
Como a cúpula da facção está na cadeia, Marujo, que até esta sexta-feira (8) estava do lado de fora, colocava em prática as ordens dos líderes. Ele chegou a ficar escondido no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, dentro de áreas comandadas pelo Comando Vermelho (CV), grupo com quem o PCV é aliado. Em outubro do ano passado, ele retornou ao Espírito Santo.
O superintendente de Polícia Especializada (SPE), delegado Romualdo Gianordoli, explicou que o criminoso coordenava a base do PCV no Território do Bem, que corresponde ao Bairro da Penha e adjacências, além de outros municípios como Aracruz, Linhares, Vila Velha, Serra.
Os mandados de prisão em aberto de Marujo são por diversos crimes: homicídio qualificado, tráfico de drogas, associação ao tráfico, organização criminosa e corrupção de menores.
De acordo com os dados do Portal do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP), Marujo tem um mandado de prisão expedido em 2019, um em 2020, um em 2021, um em 2022 e dois em 2023.
Uma das últimas "aparições" de Marujo foi em abril de 2022, durante uma operação da Polícia Civil. Enquanto os agentes faziam buscas na casa do pai dele, o traficante teve a ousadia de fazer uma chamada de vídeo com uma tia e pedir para que ela passasse o telefone para o delegado Marcelo Cavalcanti, titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
À época, ele disse que o pai poderia passar mal devido à ação. O delegado não quis atender. "A surpresa foi quando um policial me indagou quando estávamos fazendo a busca acerca do Marujo no telefone, uma chamada de vídeo pedindo para falar com o delegado responsável. Logicamente não falamos com ele, não temos nada a falar com ele. Marujo tem que prestar contas à Justiça!", afirmou Cavalcanti, na ocasião.
Na época, a polícia encontrou um esconderijo que ficava atrás de um guarda-roupa em um quarto da residência e dava acesso a um vão de aproximadamente 30 centímetros de largura, provavelmente usado por criminosos para fugir de buscas policiais. De acordo com o delegado Marcelo Cavalcanti, o mandado permitia que a polícia fizesse até escavações na casa do pai de Marujo.
Nesta sexta-feira (8), Marujo foi encontrado escondido em espécie de bunker, também na casa do pai. Conforme informações divulgadas pela Polícia Civil, o esconderijo contava com tecnologia para abrir e fechar o espaço, onde ele guardava um cilindro de oxigênio para auxiliar a respiração e permanecia armado com um fuzil.
O chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), delegado Ricardo Almeida, explicou que esse esconderijo não tem relação com o de 2022. São buracos diferentes.
Em 2019, uma megaoperação terminou na prisão do irmão dele, José Renato Pimenta Júnior. Dois anos depois, outro irmão foi capturado, Thiago Moraes Pereira Pimenta. Todos eles são acusados de associação ao tráfico de drogas.
Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, esteve à frente de ataques na Capital durante os anos que era procurado. Um dos mais notórios foi em outubro de 2022, quando ao menos seis ônibus foram atacados por criminosos após a morte de Jonathan Candida Cardoso, de 26 anos, cuja função era realizar a segurança do chefe do PCV. Além dos ônibus, um carro de reportagem da TV Tribuna foi incendiado.
Um coletivo foi metralhado na região do Bonfim, quatro ônibus foram incendiados em Consolação, Santo Antônio, Enseada do Suá e Parque Moscoso. Outro ônibus se tornou alvo de criminosos na Rodovia do Contorno, na Serra.
No dia dos ataques, a Polícia Militar havia recebido uma denúncia de que Fernando Moraes Pimenta estava na escadaria Alexandre Rodrigues, no Bonfim, com seguranças munidos de armamento pesado. Durante a correria e a troca de tiros, Jonathan Candida Cardoso foi encontrado caído no chão portando uma arma e munições. Ele chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu.
O Primeiro Comando de Vitória (PCV), do qual Fernando Moraes Pimenta é o líder, é investigado há anos pela polícia. Um relatório de mais de 500 páginas, ao qual a reportagem da TV Gazeta, teve acesso, mostra uma verdadeira rede de colaboração e troca de informações entre traficantes capixabas e bandidos do Rio de Janeiro, além de reforçar o poder da cúpula da facção, que, mesmo da cadeia, dita todas as decisões de Marujo.
A investigação aponta que é de dentro do presídio que o chefe da organização do Bairro da Penha controla tudo que acontece: desde compra das drogas até a distribuição aos pontos de venda. Carlos Alberto Furtado, o Nego Beto, é o principal fundador do PCV e a quem Marujo responde diretamente.
Mesmo da cadeia, Beto sabe quantas armas o grupo tem, quanto elas valem e até com quem está cada armamento. De acordo com a polícia, são os advogados que levam as informações até o chefe e as ordens dele ao grupo criminoso.
Foi para Beto que Marujo enviou uma mensagem pedindo para se esconder no Rio de Janeiro, como mostra o relatório. Na carta, Marujo diz que a polícia está sufocando, chegando cada vez mais perto. Por isso, ele queria passar um tempo no Rio para a "poeira baixar". Quem daria abrigo a ele no Estado vizinho seria o chefe do tráfico do Complexo da Penha e da favela de Manguinhos, na Zona Norte carioca.
"Inicialmente, eles usavam o Rio de Janeiro para comprar armas e drogas. Posteriormente, revelou-se que eles usam para se esconder também, e isso dificulta a ação da polícia na função principal que é prendê-los", disse o delegado Marcelo Cavalcanti, da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, em entrevista à TV Gazeta na época.
Mesmo do RJ, ele mantinha o controle sobre as ações dos traficantes, que enviavam fotos dos pontos de venda de drogas e da movimentação da polícia, inclusive com a utilização de drones. Fotos de rádios mostram que os criminosos conseguem monitorar até a frequência de comunicação de batalhões da Polícia Militar.
Há ainda a suspeita de que agentes públicos teriam avisado para criminosos com antecedência sobre operações policiais que estavam para acontecer.
Sobre a informação de que advogados estariam fazendo o "leva e traz" para Marujo, a Secretaria Estadual da Justiça (Sejus) informou, na época, que "o atendimento de advogados no sistema prisional ocorre em consonância com a legislação em vigor e ressalta que não há número específico de visitas para esses profissionais. Advogados têm a prerrogativa de estabelecer diálogo com seus clientes, de maneira privada, independente do horário, respeitando os protocolos de segurança vigentes e regulamentados nas unidades prisionais".
Nesta sexta-feira (8), terminou as buscas por Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo. Ele foi preso no bairro Bonfim, em Vitória. Ele foi encontrado em um esconderijo – uma espécie de bunker – na casa do pai dele.
Conforme informações divulgadas pela Polícia Civil, o esconderijo de Marujo contava com tecnologia para abrir e fechar o espaço, onde ele guardava um cilindro de oxigênio para auxiliar a respiração e permanecia armado com um fuzil. O material encontrado no local foi apreendido.
Em coletiva de imprensa realizada no fim da manhã desta sexta-feira (8), a Polícia Civil detalhou que Marujo raramente saía da região entre o Bonfim e o Bairro da Penha. O traficante entendia, segundo a polícia, que o bunker era um local seguro. Após a chegada da polícia à casa, o pai de Marujo quebrou parte da parede, e o traficante saiu rendido, com as mãos para o alto.
Segundo o delegado-geral da Polícia Civil do Espírito Santo, José Darcy Arruda, foram quatro meses de planejamento da prisão. "Muita dedicação. Hoje então tiveram a certeza e tiveram êxito de encontrar. De fato, uma operação comum não o encontraria", afirmou.
Marujo saiu do bunker com as mãos para cima, sem camisa e com short. Após sair do local, ele foi algemado e levado para uma viatura aberta, onde houve uma comemoração dos policiais que participaram da prisão. Depois, o criminoso foi levado para a Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP).
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