Guilherme Rocha, de 37 anos, era músico, bacharel em direito, capoeirista e empresário. Ele foi morto com um tiro no ombro que atravessou o peito pelo soldado da Polícia Militar Lucas Torrezani, de 28 anos, na madrugada desta segunda-feira (17), dentro de um condomínio em Jardim Camburi, Vitória.
Pai de Guilherme, o médico legista aposentado Glício da Cruz do Soares perdeu um filho vítima de acidente de trânsito há cerca de cinco anos e trabalhou por décadas no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. Na manhã desta segunda-feira, o médico voltou ao antigo local de trabalho para liberar o corpo do filho.
O médico ainda disse que, sem Guilherme, a casa da família vai ficar mais triste. "Guilherme era era uma pessoa realmente tranquila, brincalhão, gozador, contador de casos, excelente cozinheiro, então, realmente era a alegria da casa."
Além de Guilherme e o que morreu vítima de acidente, Glício tem outro filho.
Yan Paiva, amigo do músico, disse que Guilherme morava no condomínio com a esposa e a enteada de 12 anos e a menina viu o padrasto ser assassinado. "Eles moram no primeiro andar e ele foi morto embaixo com a menina olhando pela janela. Ninguém pôde nem ajudar porque o policial disse que ninguém podia encostar, que tinha que esperar o Samu chegar."
O amigo relatou que Guilherme nunca se envolveu em confusão e era querido por muitas pessoas. "Pessoa fantástica, tinha amizade com todo mundo, filho de médico, teve uma ótima educação, amigo de todo mundo. Nunca vi na minha vida, nem empurrão, nem nada, só resenha, gente fina, cara de bem com a vida", disse Yan Paiva.
Muitos amigos do músico também se manifestaram pelas redes sociais lamentando a morte de Guilherme.
"Obrigado amigo por tudo que fez por nós, pela música e pelas pessoas. Obrigado por tudo! Você está eternizado em nossos corações", diz a publicação do Te Pego La Fora, um dos blocos onde o percussionista tocava.
"Esse cara não tinha o direito de tirar a vida dele, o mundo está estranho demais! Deus tem misericórdia de todos! Triste demais", publicou uma amiga do músico nas redes sociais.
Mônica Bicalho, síndica do condomínio onde morava o músico e o soldado da PM, contou que, ao contrário do que disse o militar aos policiais que atenderam a ocorrência, a vítima não reagiu e nem tentou desarmar o militar.
"Não houve agressão nenhuma. Em momento algum a vítima reagiu, pelo contrário, a vítima entrou com o braço pra trás, conversou numa boa e a pessoa que matou ainda deu uma coronhada na cabeça dela. Guilherme simplesmente pediu 'gente, eu preciso dormir, são três horas da manhã' e ele simplesmente sacou a arma", declarou a síndica.
A síndica revelou, ainda, que o militar tinha o hábito de beber na área comum do condomínio e isso incomodava muitas pessoas.
Durante a madrugada desta segunda, mais uma vez o músico Guilherme pediu que o policial parasse de incomodar ele e os vizinhos.
"Nessa madrugada eles foram para lá de novo beber. Deu mais ou menos umas 2h e pouco e a esposa da vítima mandou a mensagem para o meu celular, pediu o celular do condomínio falando que estava realmente acontecendo de novo que eles estavam bebendo, gritando, dançando lá e que o marido dela já tinha ido lá pedir para ele parar, e na terceira vez que ele foi aconteceu o fato: o PM sacou a arma e atirou nele."
Mônica declarou, ainda, que o PM chegou a ser notificado pelo condomínio algumas vezes. "Enquanto condomínio nós fizemos tudo dentro da lei: primeiro a notificação verbal, depois a notificação por escrito e ainda não deu tempo, infelizmente, não chegou a dar tempo da gente dar a multa."
De acordo com o boletim de ocorrência da PM, militares foram acionados por volta de 3h pela síndica de um condomínio na avenida Augusto Emílio Estelita Lins. Quando chegaram ao local, o militar estava com a arma nas mãos e Guilherme caído no chão.
O PM contou aos policiais que estava bebendo com amigos perto da entrada do Bloco 1, onde mora, quando a vítima teria o atacado e tentado desarmá-lo. O militar disse que reagiu e atirou uma vez com sua pistola .40 no vizinho. O tiro foi atingiu o ombro esquerdo da vítima e atravessou o peito do homem. Além disso, atingiu um carro que estava próximo.
O boletim da PM diz ainda que o copo do militar ainda estava com bebida alcoólica e ele apresenta "odor etílico ao falar". Segundo moradores, cinco ocorrências internas haviam sido registradas no condomínio em razão de desentendimentos entre vítima e policial.
Uma moradora, que pediu para não ser identificada, contou que depois de matar o vizinho, o PM esboçou frieza, o que deixou alguns moradores indignados.
Moradores também relataram que. antes do desentendimento, havia som alto no local e que geralmente esse era o motivo das desavenças entre o policial e o vizinho.
A arma do militar foi recolhida pela Polícia Civil. O caso foi registrado como homicídio no Plantão do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP) de Vitória.
De acordo com o site da Transparência, o militar que matou o vizinho entrou na Polícia Militar em 2020.
A Polícia Civil informou que o policial militar foi ouvido e liberado após a autoridade policial entender que não havia elementos suficientes para lavrar auto de prisão em flagrante.
"O caso é investigado pela Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória e outras informações não serão divulgadas, no momento, para não atrapalhar as investigações", informou a assessoria.
Até a publicação desta reportagem, o g1 não havia obtido contato do PM e de sua defesa.
*Com informações de Caíque Verli, g1 ES e TV Gazeta
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