O jovem de 21 anos que foi socorrido na Praia do Ermitão, em Guarapari, com o abdômen ferido e parte do intestino exposto, relatou que ele e a namorada tiveram alucinações fortes cinco minutos após fazerem o uso de droga. O caso aconteceu na madrugada do dia 16 de janeiro.
O depoimento prestado à Polícia Civil faz parte das investigações feitas sobre o caso e foi citado no relatório final do inquérito policial. A Gazeta teve acesso em primeira mão ao documento, que concluiu pelo indiciamento de Lívia Lima Simões Paiva Pereira, namorada do rapaz.
O relatório serviu de base para a denúncia formulada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que apontou ser a jovem a autora das lesões. No último dia 19 a Justiça aceitou a denúncia, e Lívia se tornou ré em uma ação penal. Ela vai responder por lesão corporal grave e, caso seja condenada, a pena é de reclusão de 2 a 8 anos.
Em seu depoimento, o jovem de 21 anos relata que entraram no Parque Morro da Pescaria pelas pedras e que no caminho encontraram com quatro pescadores. Diz ainda que tomaram vinho, cerca de duas taças cada um, ficaram ouvindo música, fizeram sexo e mergulharam.
Depois de um tempo retornaram para a areia, se secaram, ficaram conversando e utilizaram um “quadradinho” de LSD (droga sintética). Cinco minutos depois, segundo o relato do jovem, Lívia começou a ter alucinações visuais, primeiro, “vendo alguma coisa no céu, que o céu estava se mexendo”. Na sequência ele também começou a sentir os mesmos efeitos.
Eles permaneceram na areia por cerca de 20 minutos, conversando e tendo alucinações. A partir deste momento o jovem relata que as informações são confusas mas que se recorda de estar sentindo muito medo. “Estava correndo muito, apavorado e correndo de alguma coisa”, disse o jovem.
Declarou ainda em seu depoimento se recordar de “uma sensação de pavor de alguma coisa que o chocou muito e que começou a correr”, sem conseguir explicar o que era. Informou ainda que se recordava de, neste momento, “ter sido atingido por alguma coisa”, “que recebeu uma pancada e que foi atingido várias vezes na barriga”.
Os momentos de pavor, segundo o jovem, ocorreram quando eles decidiram andar pelas pedras e pela trilha. “Que foi quando estava sentido muito pavor o momento que se recorda de ter sido lesionado na cabeça”, diz o texto do depoimento.
Para a Polícia Civil, o jovem relatou que “não havia outras pessoas na praia junto com eles”. Afirmou ainda que acredita que Lívia se feriu ao tentar defendê-lo de alguma agressão praticada por uma terceira pessoa, pois estavam sob efeito da droga e em total vulnerabilidade no local. O jovem afirmou ainda que ele e Lívia continuam juntos e que ela o visita periodicamente.
Lívia, também em seu depoimento, confirma que ela e o namorado tomaram cerca de duas taças de vinho, que correspondiam a menos da metade da garrafa. Confirma que ficaram na areia, conversaram, tomaram banho de mar e depois fizeram uso da droga. A partir daí, relata não se lembrar do que aconteceu.
Diz que só retomou a consciência algum tempo depois, “quando ainda estava escuro”, e percebeu que o namorado reclamava de frio. Foi então que ela percebeu que ele estava com a barriga machucada e que ela tinha lesões nas mãos, testa, lábio, braços e pernas.
Ela informou ainda que não acredita que se agrediram mutuamente, que não sabe o que aconteceu, e que o único objeto cortante que possuía era uma garrafa de vinho. Observou ainda que o namorado é mais forte do que ela, “não sendo plausível que ela pudesse agredi-lo de tal forma”.
Relatou ainda, em depoimento, “que não havia nenhum motivo para que brigassem e se lesionassem”, “porque estavam felizes naquele momento”.
Informou ainda que, ao receber atendimento médico, foi a ela relatada que as lesões que apresentava estavam mais concentradas no lado direito de seu rosto, de modo que deveriam ter sido causadas por uma pessoa canhota. E ainda que os golpes tinham muita força e que ela não teria força suficiente para desferi-los.
A investigação aponta que o casal relatou ter ingerido drogas e “experimentado um estado psíquico alterado, com alucinações típicas do uso de LSD”. Informa ainda que, pelas provas colhidas, que os jovens acordaram por volta das 2h, com uma ligação da mãe da Lívia. A jovem teria ido até a portaria do parque pedir ajuda e que o socorro chegou por volta das 5h20.
É relatado que buscou-se ouvir todas as pessoas que tiveram contato com os jovens e conclui que, no momento em que os fatos ocorreram, estavam no local apenas o casal de namorados. “Não há informações de que outras pessoas tenham ido ao local”, relata o texto.
A informação, segundo a polícia, é pautada no fato de que os funcionários do parque terem relatado que não notaram pessoas no local. “Além disso, as imagens do sistema de videomonitoramento mostram apenas a vítima e a autora (Lívia) entrando e saindo do local”, diz o texto relatório.
Informa ainda que a mãe da vítima relata ter ficado com a filha ao telefone por cerca de 50 minutos e que não ouviu, neste período, voz de outra pessoa. “Em que pese a vítima e autora (Lívia) afirmarem que não se recordam do que ocorreu, não é possível que terceiros tenham causado as lesões, visto que apenas o casal estava na Praia do Ermitão”, é dito no relatório.
O advogado Lecio Machado não foi localizado para se manifestar sobre a decisão. Assim que a reportagem obtiver um retorno, esta matéria será atualizada.
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