O misterioso caso do jovem que teve barriga aberta, na Praia do Ermitão, em Guarapari, chocou o Estado. Gabriel Muniz, de 21 anos, a vítima do crime, que ocorreu em 16 de janeiro, resolveu se manifestar pela primeira vez nas redes sociais, trazendo a versão que entende como verdadeira. Ele publicou neste domingo (1), três meses após a ocorrência, um vídeo no Instagram contando sua versão sobre a madrugada de horror que viveu.
O caso aconteceu quando o estudante, que estava em companhia da namorada, Lívia Lima Simões Paiva Pereira, teve o abdômen ferido e parte do intestino exposto. Apesar de a jovem ser acusada como autora do crime, Gabriel nega a participação da garota e crítica as investigações que a levaram ser denunciada e se tornar ré na Justiça.
Ele alega que uma terceira pessoa agrediu tanto ele quanto a namorada e que, além das lesões, eles foram também vítimas de roubo.
No testemunho dele, o rapaz nega diversos pontos que vêm sendo trazidos pelas autoridades, além de pontuar que os vídeos exibidos nas mídias, até o momento, só mostraram um acesso do parque, quando existem outros pelos quais uma terceira pessoa, um suposto agressor, poderia ter escapado. Além disso, Gabriel garante que a namorada é inocente e que seria igualmente vítima de uma tentativa de latrocínio, que é o crime de roubo seguido de morte.
Entenda narrativa do jovem que teve parte do intestino arrancado:
"Primeiro de tudo: é óbvio que minha namorada não tem nada a ver com isso. Ela, assim como eu, é uma vítima desse acontecimento. Fica claro que tinha uma terceira pessoa ali, que fez isso com nós dois - eu não fui o único que sofreu algum trauma ou ferimento", disse. Segundo Muniz, a namorada sofreu escoriações na mão e na cabeça, sendo que o segundo foi considerado um traumatismo craniano-encefálico, que causa desmaio na maioria das vezes. Ela também teria tido ferimentos de defesa nas mãos, quando, para se proteger de uma agressão, acaba fazendo movimentos. Até hoje, de acordo com o rapaz, a namorada tem cortes, pontos e quelóides.
"Nós fomos roubados, é um fato. Infelizmente isso parece que não foi levado em conta. Foi roubado de mim um celular e uma caixinha de som e minha namorada tinha na bolsa dela R$ 80, dos quais foram deixados R$ 6 ou 4 jogados pela areia. Foi vasculhada a bolsa dela e estava tudo jogado quando todo mundo chegou", contou.
O local onde estava o casal, segundo Muniz, teria outras entradas de fácil acesso. "Lá é um parque aberto, com entradas pela região da mata e das pedras, além de uma portaria, que foi por onde a gente entrou, que conta com duas câmeras que ficam só no início. Estão mostrando nas reportagens que é como se fosse o único acesso, mas não estão levando em conta outras possibilidades, que abrange a que provavelmente a terceira pessoa (criminoso) fugiu. Lá é tão de fácil acesso que, no próprio dia, entrando no morro, demos de cara com três ou quatro pescadores. As pessoas vão lá com liberdade e facilmente quem fez isso fugiu pelas pedras ou pela mata", relatou.
Sobre a participação da mãe da namorada, Muniz explicou que foi fundamental. "A mãe dela tentou ligar mais de 100 vezes para nós dois, temos registro de chamadas. Quando conseguimos achar o celular dela, o meu já tinha sido roubado. E ao encontrar o aparelho, foi quando pudemos pedir o resgate que salvou a gente. Sem isso não sei o que teria acontecido", desabafou.
O jovem de 21 anos afirmou que o mais importante sobre o caso é que uma lembrança permaneceu e que esclarece que a namorada não teve culpa. Ele conta que lembra de estar sendo golpeado e de ter tido a cabeça balançando. Neste instante, teria visto a namorada deitada na canga, a 10 metros dele, aproximadamente. "Isso para mim mata tudo. Fora que o cirurgião facial que me operou disse que não era possível ter aquelas lesões no rosto que tivessem sido causadas por uma pessoa de 1,60m e 48kg, mas apenas por um objeto contundente e com os punhos. Quem fez as lesões provavelmente foi uma pessoa canhota, já que elas se concentram na parte direita do rosto", disse. Para confirmar as fraturas na face, o rapaz mostrou no vídeo um laudo comprobatório.
Muniz narrou ainda, no vídeo para o Instagram, que alguns jornais afirmaram que houve uso de fentanil, substância que impede a sensação de dor. "Isso é mentira. É falso o laudo que diz que eu tava com altas dosagens de fentanil no meu sangue", afirmou.
Segundo a vítima, as imagens que circularam do dia do crime não são as únicas que podem ser disponibilizadas, mas haveria outras. Ele diz que só aparece o momento do resgate dele e não é mostrado o momento que os pais da namorada tentam prestar socorro, em desespero. "O pai dela tenta pular o muro para tentar me achar. Ela também foi muito machucada. Depois de tudo que vi e senti, não teria como ser diferente a minha posição. É óbvio que ela não teve a ver com isso, ela é uma vítima que está sofrendo muito. Nossa família tem um choque muito grande e isso atrapalha meu tratamento, a vida dela, minha vida pessoal. Está sendo um pesadelo para nós e eu senti que esse vídeo deveria ter sido feito até antes. Não queríamos essa exposição, mas chegou em um patamar que a gente não pode deixar de falar. Espero que tenha sido esclarecido para quem quer saber mesmo a verdade", finalizou.
A Polícia Civil e o Ministério Público do Espírito Santo, órgãos responsáveis pelas investigações do caso, foram procurados para falar sobre as críticas feitas pelo jovem.
Em nota a PC disse que "não há atualização do caso por parte da Polícia Civil. Todas as informações foram repassadas durante coletiva de imprensa realizada no dia 27 de abril. As investigações foram concluídas e o inquérito encaminhado ao Ministério Público, que realizou denúncia, acatada pelo Poder Judiciário. A partir desse momento, qualquer questionamento deve ser feito à Justiça".
Um crime que aconteceu no dia 16 de janeiro na Praia do Ermitão, em Guarapari, se tornou um dos assuntos mais comentados na internet. A jovem de 20 anos relatou à polícia que, após ir até o local com o namorado para fazer um luau, os dois consumiram drogas e bebidas alcoólicas, e acordaram com marcas de agressão. Ela disse que teve um apagão e não se lembra do que aconteceu.
O rapaz de 21 anos teve o abdômen perfurado e parte do intestino exposto. Ele ficou internado duas vezes no hospital e diz que foi atacado por um grupo de pessoas em uma tentativa de assalto.
O caso foi um mistério para a Polícia Civil, mas acabou com a menina indiciada pelo cometimento das agressões. Vários questionamentos ficaram sem respostas, entre eles a motivação do crime. As imagens de monitoramento do Parque do Morro da Pescaria, que dá acesso à praia, foram recolhidas e ajudaram na investigação.
Parte desse conteúdo foi obtido por A Gazeta e mostra o momento em que o casal chega ao parque, por volta das 21h do dia 15, e depois, quando o rapaz é socorrido pelo Samu, às 6h do dia 16. Foi um intervalo de 9 horas.
O jovem de 21 anos que foi socorrido na Praia do Ermitão, em Guarapari, com o abdômen ferido e parte do intestino exposto, relatou que ele e a namorada tiveram alucinações fortes cinco minutos após fazerem o uso de droga.
O depoimento prestado à Polícia Civil faz parte das investigações feitas sobre o caso e foi citado no relatório final do inquérito policial. A Gazeta teve acesso em primeira mão ao documento, que concluiu pelo indiciamento de Lívia Lima Simões Paiva Pereira, namorada do rapaz.
O relatório serviu de base para a denúncia formulada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que apontou ser a jovem a autora das lesões. No último dia 19 a Justiça aceitou a denúncia, e Lívia se tornou ré em uma ação penal. Ela vai responder por lesão corporal grave e, caso seja condenada, a pena é de reclusão de 2 a 8 anos.
Em seu depoimento, o jovem de 21 anos relata que entraram no Parque Morro da Pescaria pelas pedras e que no caminho encontraram com quatro pescadores. Diz ainda que tomaram vinho, cerca de duas taças cada um, ficaram ouvindo música, fizeram sexo e mergulharam.
Depois de um tempo retornaram para a areia, se secaram, ficaram conversando e utilizaram um “quadradinho” de LSD (droga sintética). Cinco minutos depois, segundo o relato do jovem, Lívia começou a ter alucinações visuais, primeiro, “vendo alguma coisa no céu, que o céu estava se mexendo”. Na sequência ele também começou a sentir os mesmos efeitos.
Eles permaneceram na areia por cerca de 20 minutos, conversando e tendo alucinações. A partir deste momento o jovem relata que as informações são confusas mas que se recorda de estar sentindo muito medo. “Estava correndo muito, apavorado e correndo de alguma coisa”, disse o jovem.
Declarou ainda em seu depoimento se recordar de “uma sensação de pavor de alguma coisa que o chocou muito e que começou a correr”, sem conseguir explicar o que era. Informou ainda que se recordava de, neste momento, “ter sido atingido por alguma coisa”, “que recebeu uma pancada e que foi atingido várias vezes na barriga”.
Os momentos de pavor, segundo o jovem, ocorreram quando eles decidiram andar pelas pedras e pela trilha. “Que foi quando estava sentido muito pavor o momento que se recorda de ter sido lesionado na cabeça”, diz o texto do depoimento.
Para a Polícia Civil, o jovem relatou que “não havia outras pessoas na praia junto com eles”. Afirmou ainda que acredita que Lívia se feriu ao tentar defendê-lo de alguma agressão praticada por uma terceira pessoa, pois estavam sob efeito da droga e em total vulnerabilidade no local. O jovem afirmou ainda que ele e Lívia continuam juntos e que ela o visita periodicamente.
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