Esta matéria contou com a colaboração de Anelize Roriz Nunes, do Centro de Documentação (Cedoc) do jornal A Gazeta
Quatro jovens foram mortos na Ilha Doutor Américo de Oliveira, na Baía de Vitória, na tarde da última segunda-feira (28). Com vários detalhes da história vindo à tona, a reportagem de A Gazeta fez um levantamento de outras cinco chacinas que aconteceram no Espírito Santo nos últimos 23 anos e que causaram grande comoção entre os capixabas.
A chacina na llha trouxe à memória tempos sombrios de violência no Estado. Os crimes resgatados aconteceram em Viana, Santa Leopoldina, Cariacica e Mantenópolis. Ao todo, 25 pessoas filhos, filhas, irmãos, irmãs, pais, mães, tios, tias, amigos foram chacinadas. A particularidade de cada caso e a brutalidade com que os acusados executaram o crime é o que chama atenção. Relembre os casos.
A chacina aconteceu em Viana, em 1997, quando sete homens foram mortos após terem roubado um porco da propriedade de um produtor rural, identificado como Manoel Lemos, de 54 anos. Na época, era a maior chacina já registrada no Espírito Santo.
De acordo com apuração feita pelo jornal A Gazeta em abril de 1997, alguns dos homens tentaram pegar o porco em um lixão do bairro São Francisco, em Cariacica, na divisa com Vila Bethânia, em Viana. Eles teriam sido surpreendidos por cavaleiros, quando houve um sério desentendimento entre eles. A promessa de agressão ficou no ar.
No dia da chacina, os sete homens teriam chegado em Vila Bethânia na Kombi amarela, na qual os corpos foram encontrados. Eles teriam tomado algumas cervejas e, em seguida, foram para um forró em uma escola local.
Lá, foram identificados pelos cavaleiros, que esperaram o momento que eles saíram para rendê-los. Os sete foram levados para um local afastado, onde foram mortos e tiveram os corpos jogados na Kombi, que foi abandonada na localidade de Tanque.
Manoel, o produtor rural suposto dono do porco, foi morto há menos de um mês, no dia 13 de setembro deste ano, em Cariacica. Ele foi apontado pelo Ministério Público do Espírito Santo como um dos participantes da chacina.
De acordo com apuração feita pela reportagem de A Gazeta, a polícia acredita que uma das hipóteses da motivação da morte de Manoel, que aconteceu recentemente, seja vingança. Ele foi executado e teve aproximadamente 10 perfurações pelo corpo. O carro dele também ficou cheio de marcas de tiros.
Seis pessoas, a maioria da mesma família, foram assassinadas em 2002. O ex-prefeito de Santa Leopoldina Idemar Endringer era acusado de comandar a chacina. Ele foi indiciado pela Polícia Civil e posteriormente denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo.
De acordo com a acusação, Idemar tinha interesse nas terras onde as vítimas da chacina moravam. Na chácara, três gerações da família Pagung foram assassinadas com golpes de foice e pedradas. Em junho de 2019, ele foi absolvido das acusações.
Na época do crime, os moradores de Santa Leopoldina ficaram revoltados e fizeram manifestações pedindo por justiça. Uma multidão chegou ao ir ao enterro das vítimas chacinadas em torno de 500 pessoas, de acordo com reportagem à época.
Na chacina, foram assassinadas seis pessoas: Nicolau Pagung, de 53 anos; Maria de Lourdes Cruz Pagung, de 43 anos; Fabiana Pagung, de 14 anos, e Luciana Pagung, de 16; além do casal Orlando Cruz de Mendonça, 69 anos, e Lena de Souza, 70 anos.
O próprio prefeito chegou a decretar ponto facultativo na cidade, na época, e deu uma declaração de que conhecia a família. "Conhecia muito bem. É uma situação que nunca esperávamos passar aqui, por que era uma família muito querida na cidade", disse na ocasião.
O agricultor Dirceu Berger foi condenado a 32 anos de prisão por participação no crime. Ele foi o último suspeito a ser julgado pelas mortes. Também foram condenados o proprietário rural Adolpho Seick, e o filho dele, Ermindo, a 36 e 34 anos de prisão respectivamente. O réu confesso, Luiz Felisberto Santana, também foi condenado, a 35 anos de prisão.
Crime aconteceu na localidade de Vila Cajueiro, na comunidade de Pedro Fontes, zona rural de Cariacica, no ano de 2011, onde quatro jovens foram mortos. A investigação apontou que eles foram assassinados porque estavam furtando latinhas no terreno de uma boate pertencente a um dos acusados do crime, localizada em Alto Lage.
As vítimas, encontradas com as mãos amarradas com arames, em duplas, foram identificadas como: Wagner Duarte da Silva, de 28 anos; Josué Eduardo Santos de Souza, de 17 anos e Fabrício Ribeiro Santos. A outra vítima não teve o nome divulgado. Segundo o delegado Fabrício Dutra na época, as vítimas sofreram uma forte tortura psicológica, já que uma viu a outra sendo executada e foram agredidas por ao menos duas horas.
Leandro Assis da Silva, 28 anos, e a esposa, Eliana Costa Real, foram presos no balneário de Guriri, por suspeita de marticipação nas mortes. Na casa onde eles foram apreendidos 6 quilos de pasta base de cocaína, R$ 29 mil em dinheiro, R$ 14 mil em cheques, sete celulares e um tatu abatido.
No momento em que recebeu voz de prisão, o rapaz se identificou com nome falso e tentou fugir pulando o muro da casa, mas se deparou com o cerco da polícia. Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil na época, Leandro e a mulher foram autuados por: matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida; uso de documento falso; violar direitos de autor e os que lhe são conexos (pois foram encontrados CD e DVD falsificado); tráfico e associação ao tráfico de drogas.
Quatro homens foram assassinados e uma mulher ficou ferida na manhã de 16 de julho de 2015 em uma casa localizada na Rua Natanael de Souza, bairro Nova Esperança II, em Cariacica.
O crime aconteceu por volta das 8h20. Segundo a polícia, a residência era usada para orgias e consumo de drogas. Na madrugada, quatro homens e três mulheres participavam de uma festa no local. Além deles, há a informação de que um bebê também estava na casa.
Pela manhã, sete homens encapuzados bateram na porta da residência e anunciaram que eram policiais. Quando uma das vítimas abriu a porta, os assassinos entraram no local, pediram para as mulheres deixarem a casa e começaram a atirar.
Um dos homens ainda tentou correr pela rua, mas morreu a poucos metros da casa. Uma das mulheres foi baleada na coxa. Ela foi socorrida e levada para um hospital da região. Após o crime, os assassinos deixaram o local caminhando.
Quatro pessoas foram assassinadas após serem atingidas por cerca de trinta tiros em Mantenópolis. De acordo com a Polícia Militar, populares ligaram informando que ouviram muitos tiros no distrito de Santa Luzia na noite de 12 de maio de 2018.
Quando os militares chegaram ao local, na estrada para Santa Luzia, no bairro do Raul, por volta de 21h30, constataram que duas pessoas haviam sido atingidas por muitos tiros e já estavam mortas dentro do veículo, que também tinha várias perfurações. No veículo estavam Adriana de Barros Teixeira, 23 anos, e Matheus Henrique Silva da Lapa, 19 anos. A jovem foi atingida por cerca de 14 tiros na cabeça, costas e braços. Já Matheus foi morto com cerca de cinco tiros. Ele havia fugido do presídio de Mantena no dia 22 de fevereiro daquele ano.
Também hávia vítimas fora do veículo. Um homem foi encontrado caído atrás de uma residência próxima ao local. Ele foi identificado como Ejoilson Martins dos Santos, 32 anos, mais conhecido como Mascotinho. A vítima tinha várias passagens pela polícia e foi atingida por cinco tiros. A perícia da Polícia Civil esteve no local e constatou que as cápsulas eram de pistola 9 milímetros e a maioria dos disparos foi feita na direção da cabeça das vítimas.
Weliton Silva dos Santos, 29 anos, também foi vítima dos disparos e chegou a ficar internado desde que foi encontrado ofegante e pedindo socorro na estrada da localidade de Serra do Turvo, na divisa de Mantenópolis com Mantena, em Minas Gerais, naquele dia 12. Cerca de uma semana depois, ele morreu no hospital. A causa da morte foi diagnosticada como hemorragia e contusão cerebral em decorrência dos disparos que sofreu.
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