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Reviravolta: PM é indiciado por fraude processual e assassinato de jovem no ES

Reviravolta: PM é indiciado por fraude processual e assassinato de jovem no ES

O cabo Allyson Miranda foi indiciado por homicídio e fraude, e Bruno Costa por fraude. Policiais alegaram que a causa foi um acidente de moto, mas perícia revelou que a vítima foi morta com um tiro na nuca

Publicado em 6 de dezembro de 2024 às 16:41

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De um lado, a moto próxima ao corpo da vítima; do outro, o jovem Gustavo Barbosa Batista, de 22 anos
De um lado, a moto próxima ao corpo da vítima; do outro, o jovem Gustavo Barbosa Batista, de 22 anos. (Montagem/A Gazeta )

A Polícia Civil concluiu que a morte do jovem Gustavo Barbosa Batista, de 22 anos, inicialmente registrada como acidente de trânsito, foi, na verdade, um homicídio. O caso ocorreu em 13 de novembro, no distrito de São José, em Mantenópolis, no Noroeste do Espírito Santo

Segundo a Polícia Civil, o suspeito pelo crime é o cabo da Polícia Militar Allyson Augusto de Miranda, indiciado nessa quarta-feira (4) pelos crimes de homicídio e fraude processual. O cabo Bruno Costa de Oliveira, responsável pela formalização do Boletim de Ocorrência na data do crime, também foi indiciado por fraude processual.

A Gazeta apurou com investigadores que a fraude, crime pelo qual os dois foram indiciados, ocorreu por criarem uma narrativa diferente do que, de fato, aconteceu.

Em nota, a Polícia Civil detalhou que o inquérito policial, presidido pela Delegacia de Polícia (DP) de Mantenópolis, foi concluído no dia 4 de dezembro deste ano e resultou no indiciamento do policial militar Bruno Costa de Oliveira, que redigiu o boletim de ocorrência pelo crime de fraude processual. Já o outro policial militar – Allyson Augusto de Miranda – foi indiciado pelo crime de homicídio e fraude processual.

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A Polícia Civil alegou que não houve representação pela prisão, pois a corporação entendeu que não estavam evidenciados os requisitos para decretação da prisão preventiva. A Gazeta questionou sobre o que seria necessário para que a Polícia Civil solicite a prisão preventiva como no caso em questão.

Em nova resposta, a PC informou que "de acordo com o Código de Processo Penal, a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal".

Armas apreendidas e transferência

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que o boletim de ocorrência registrado no dia do fato relata que "os militares foram acionados para atender a uma ocorrência de um motociclista caído na via que liga os distritos de São José à área central de Mantenópolis".

Segundo a corporação, conforme consta na ocorrência, "no local, a equipe constatou que o motociclista estava em óbito, aparentemente devido a um acidente de trânsito", e que "a equipe de perícia foi acionada e realizou os exames no local".

A Polícia Militar detalha que "nos dias subsequentes, surgiram denúncias indicando a presença de uma perfuração na região da nuca do motociclista, sugerindo que os policiais estariam envolvidos em disparos que teriam causado o óbito", e que "diante das informações, as Polícias Militar e Civil iniciaram diligências investigativas, com a abertura de procedimentos para apurar as denúncias e identificar a veracidade dos fatos". 

A corporação informou que 'os policiais militares de serviço no dia do incidente, incluindo o cabo Bruno Costa de Oliveira (Cb Costa) e o cabo Allyson Augusto de Miranda (Cb Allyson), foram ouvidos, e tiveram as armas apreendidas para investigação'. A Polícia Militar acrescentou que, "para garantir a integridade do processo e evitar qualquer influência no andamento das investigações, ambos foram transferidos para outra localidade – sem especificar qual – e permanecem à disposição da Justiça".

A Polícia Militar finalizou afirmando que "reitera o compromisso com a transparência, legalidade e imparcialidade na apuração dos fatos" e destacou que "todas as medidas estão sendo adotadas para assegurar que o processo ocorra de forma justa, garantindo os direitos constitucionais de presunção de inocência, ampla defesa, contraditório e devido processo legal, conforme previsto na Constituição Federal".

Gustavo Barbosa Batista, 22 anos
Gustavo Barbosa Batista tinha foi morto com um disparo na nuca efetuado por um policial. (Acervo pessoal / Montagem A Gazeta )

Próximos passos

Após a conclusão do inquérito policial, o relatório, indicando o indiciamento dos investigados, é enviado ao Ministério Público. Cabe ao MP decidir se apresenta ou não a denúncia à Justiça, que, por sua vez, avalia se acata o pedido. Caso seja acolhida, os investigados tornam-se réus.

A Gazeta procurou o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) sobre o caso de Mantenópolis. O MPES informou que "se solidariza com a família da vítima e com a sociedade em razão do grave crime praticado" e comunicou "que aguarda o recebimento do inquérito policial do caso em questão, para análise e adoção das providências necessárias". 

A Associação das Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo (ASPRA-ES) informou que tomou "ciência do caso do policial militar, Cabo Allyson Augusto de Miranda e Cabo Bruno Costa de Oliveira", e que está "acompanhando o caso de perto". Acrescentou ainda que o "setor jurídico (da ASPRA) já entrou na representação legal do militar".

A Gazeta também busca contato com as defesas dos militares citados, mantendo o espaço disponível para manifestação.

A importância da perícia 

A reportagem de A Gazeta teve acesso à declaração de óbito assinada por um médico legista da Seção Regional de Medicina Legal (SML) de Colatina, para onde o corpo de Gustavo Barbosa Batista foi levado após ser recolhido no local do crime. O documento confirma que a causa da morte foi um tiro na nuca, e não um acidente, como registrado pelos policiais militares envolvidos na ocorrência. O legista lista a causa da morte do jovem:

  • Paralisia bulbar;
  • Lesão perfurocotusa bulbar;
  • Ferimento perfuro contundente por Projétil de Arma de Fogo (PAF).

Trecho da Declaração de Óbito feita por médico legista do SML de Colatina
Trecho da declaração de óbito feita por médico legista do SML de Colatina. (Acervo pessoal )

Na época do fato, uma fonte da Polícia Científica consultada por A Gazeta, leu a declaração de óbito e traduziu os termos técnicos apontados como causadores do óbito: "Ele levou um tiro na nuca (região bulbar), o que causou paralisia do bulbo e, consequentemente, paralisia respiratória. O bulbo é o centro respiratório que controla os movimentos dos pulmões", detalhou.

Cronologia do crime

  • Um jovem de 22 anos, identificado como Gustavo Barbosa Batista, morreu na noite da quarta-feira (13 de novembro), no distrito de São José, na zona rural de Mantenópolis. O corpo dele estava ao lado da moto. 

  • O caso foi registrado como acidente pelos policiais militares que atenderam a ocorrência — identificados no boletim de ocorrência, ao qual A Gazeta teve acesso, como os cabos Allyson Augusto de Miranda e Bruno Costa de Oliveira.

  • Entretanto, após o corpo passar por perícia, o médico legista da Seção Regional de Medicina Legal (SML) de Colatina incluiu na declaração de óbito, igualmente obtida por A Gazeta, que a causa da morte foi um tiro na nuca. O rapaz, que trabalhava como mecânico, deixou esposa e uma filha de um ano e seis meses.

  • Na época do fato, A Gazeta conversou com a esposa do jovem morto, que deu detalhes. "Ele saiu de casa por volta das 18h30 (do dia 13 de novembro) e disse que ia fazer umas manobras de moto, ele gostava disso. Por volta das 19h, recebi a notícia de que ele estava caído perto de São José, morto, e que a polícia já estava lá. Fui até o local e apenas me informaram que ele estava morto. Os amigos que estavam andando de moto com ele disseram que houve uma ordem de parada por parte dos policiais, e que ele não obedeceu, e com isso a polícia atirou nele, e a perícia confirmou que havia um tiro na nuca", disse a esposa do jovem, que pediu para não ser identificada, por medo de represálias.

  • De acordo com a família, Gustavo morava em Santa Luzia do Azul e foi ao distrito de São José para fazer manobras de moto, uma prática considerada comum na comunidade.

Aspas de citação

Um amigo que estava com ele me disse que ele tentou acelerar a moto, mas ouviu um tiro e a moto parou na hora

Esposa de jovem assassinado
Em entrevista para A Gazeta
Aspas de citação

O corpo de Gustavo Barbosa Batista, de 22 anos, foi velado na noite seguinte ao crime - 14 de novembro - e foi sepultado no dia 15, feriado de Proclamação da República, na comunidade de São Lourenço, em Alto Rio Novo, município vizinho a Mantenópolis.

Jovem morto foi sepultado nesta sexta-feira (15); foto mostra túmulo da vítima
Jovem morto foi sepultado na sexta-feira (15), dois dias após o crime, em Mantenópolis. (Acervo pessoal)

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