Três meninos, que estavam desaparecidos havia um ano, foram encontrados no último fim de semana, no Litoral Sul do Espírito Santo, em situação análoga à escravidão. Em entrevista ao repórter Caio Dias, da TV Gazeta Sul, o secretário Municipal de Segurança e Defesa Social de Marataízes, Anderson Gouveia, explicou como foi a ação que desvendou o caso.
Foi por meio de uma denúncia que essa ação começou, na noite de sexta-feira (20). O K9 recebeu uma denúncia. Por essa denúncia, os agentes fizeram contato com o nosso videomonitoramento, pedindo que monitorasse uma mulher andando com uma criança na Avenida Rubens Rangel, aqui em Marataízes. Feito isso, os agentes do videomonitoramento, com os guardas patrimoniais, conseguiram identificar essa mulher em uma primeira imagem, próxima do posto de gasolina da Cidade Nova. Continuando o acompanhamento, eles (mulher e criança) pararam em uma lanchonete em Marataízes, no bairro Ilmenita. Dessa forma, os agentes do videomonitoramento fizeram contato com o K9, que se deslocou até o local e fez a abordagem a essa mulher e à criança, diante da denúncia de que a mulher teria sequestrado a criança há um ano, em Cachoeiro de Itapemirim, e estava aqui na nossa cidade.
Feito isso, na abordagem, a mulher tentou mentir, falar que não era ela, se negou a apresentar documento, a Guarda fez uma revista pessoal nela e encontrou uma identidade que comprovava que ela era a mulher procurada por este crime. A criança também foi interpelada. Em um primeiro momento, ela mentiu, porque a mulher a todo momento a coagia, não deixava ela falar a verdade. O K9 e o Conselho Tutelar, que foi acionado, prosseguiram para a Delegacia de Itapemirim, onde os fatos começaram a ser esclarecidos pela equipe de plantão e a GCM de Marataízes.
Ali, ficou-se sabendo que, na cidade de Piúma, tinha uma outra ramificação dessa quadrilha com mais duas crianças naquele local. O avançar da hora não permitia que a Guarda Municipal e Polícia Civil adentrassem na residência e foi feita uma ação na manhã de sábado (21), no local apontado por essa mulher que fazia parte dessa quadrilha. Dentro da residência, estavam as duas crianças em um trabalho, praticamente escravo, em que elas eram obrigadas a vender e a pedir dinheiro, vender cocadas e pedir dinheiro em bares e restaurantes de Piúma e Marataízes. A quadrilha foi desfeita, as mulheres autuadas em flagrante e as crianças repatriadas a seus lares.
Uma situação muito adversa, as crianças tinham sinais de maus-tratos, que não estavam bem acondicionadas naquele local. A alimentação parecia não ser a adequada. Era um trabalho realmente análogo à escravidão que elas viviam. Vale lembrar que uma criança tentando falar a verdade na delegacia e a mulher sempre a coagia. As crianças tinham muito medo dessas mulheres, por isso faziam esse tipo de trabalho. No videomonitoramento, conseguimos observar a mulher muito próxima da criança nas ruas. Ela não ficava junta, mas quando a criança começava a conversar, chegava perto e coagia a criança para fazer os trabalhos análogos à escravidão nesse um ano em que ficou em poder dessas crianças.
Isso. Segundo as apurações, essa quadrilha ficava em Piúma e sempre vinha para Marataízes, com uma das crianças para poder fazer esse trabalho flagrado pelo videomonitoramento.
Não podemos passar muitas informações, pois o caso está em investigação com a Polícia Civil. Vou deixar a cargo do delegado. Ele vai poder falar o que pode ser dito, para não prejudicar as investigações.
Não sei se elas continuaram presas ou se vão responder em liberdade. Esse também é um fato que precisa ser apurado na Polícia Civil.
Sim. Há um ano, o pai fez uma ocorrência na Delegacia de Cachoeiro, registrando esse sequestro das crianças e, de lá para cá, ele vinha sempre buscando achar essas crianças com a Polícia Civil. Não sei informar se Marataízes e Piúma foram os destinos principais delas ou se elas passaram por outros municípios para fazer esse tipo de trabalho.
Sim. Todas foram repatriadas às famílias na noite de sexta-feira (20) e no sábado (21).
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil enviou informações disponibilizadas pelo titular da Delegacia Regional de Itapemirim, delegado Djalma Pereira Lemos. De acordo com o delegado, na sexta-feira (20), foram apresentados na delegacia uma mulher de 23 anos e um menino de 12 anos, identificado como sobrinho da apresentada.
“Após a autoridade policial ouvir as partes, adotou a decisão de convidar o pai do adolescente, o qual já estava de posse do Termo Judicial de modificação liminar de guarda do filho, e este foi reintegrado à posse do pai”, diz a nota.
Segundo a Polícia Civil, não houve autuação da mulher, pois o adolescente, supostamente vítima de sequestro, se encontrava com a mãe e em companhia da tia.
Sobre a denúncia de trabalho infantil, a polícia disse que o fato estará sendo objeto de investigação, pois devido ao horário da apresentação das partes e não havendo o crime de sequestro ou cárcere privado, se entendeu que será necessária uma investigação.
O caso segue sob investigação da Delegacia de Marataízes, onde caberá ao delegado titular tomar as medidas que entender mais adequada para apuração dos fatos.
Quanto aos fatos de sequestro e cárcere privado, não existe qualquer medida judicial em desfavor da conduzida, sendo esta ouvida e liberada.
Em conversa com a reportagem, o advogado dos pais das crianças, Caio Zampirolli de Souza, afirmou que as crianças — dois irmãos e um primo — já estão com os pais, e disse que as mães são irmãs.
Ainda segundo a defesa, os pais dos meninos — de 12, 14 e 8 anos — haviam conquistado na Justiça a guarda dos filhos, mas as mães fugiram de Cachoeiro com os filhos para o litoral. “Eles moravam em uma quitinete, apertados. As mães, que são irmãs, fabricavam os doces e os dois maiores vendiam. O menor ajudava a embalar”, contou. Para não identificar a criança e os adolescentes, os nomes dos pais não estão sendo divulgados na matéria.
A Polícia Civil enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.
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