Os grupos empresariais investigados pela Polícia Federal no âmbito da Operação Anomia, realizada nesta quinta-feira (13), desviavam medicamentos de hospitais públicos do Espírito Santo. O esquema era possível com o auxílio de um servidor público que recebia 10% de propina. Os nomes dos envolvidos e das unidades hospitalares não foram divulgados pela corporação.
De acordo com o delegado Arcelino Vieira Damasceno, a empresa fazia a venda de determinado medicamento, o entregava e o incorporava à farmácia do hospital. Logo depois, revendia o mesmo produto a outra unidade hospitalar e o retirava do estoque do primeiro hospital.
“O empresário recebia duas vezes do Estado. Vendia no primeiro momento, entregava, e a segunda venda ele retirava do hospital e levava até o segundo contrato dele. O Hospital Infantil de Vitória foi detectado nessa situação. As investigações vão continuar, porque o foco atual é exatamente o foco nos empresários que tinham vários contratos. A gente precisa ainda amadurecer um pouco mais de investigação para afirmar quais outros hospitais foram afetados.”
Durante as apurações, foram colhidos indícios de que, com a conivência do servidor público, os empresários usavam a central de abastecimento farmacêutico do hospital como extensão de seus estoques, retirando materiais para vender novamente a outros clientes.
Conforme explicou Damasceno, algumas empresas eram contratadas para fornecer medicamentos que, muitas vezes, o hospital não precisava.
“Eram medicamentos que a empresa precisava vender e, por isso, havia a indicação deles, e o hospital fazia a aquisição desses medicamentos muitas vezes sem necessidade. Por que afirmamos que não havia necessidade? Porque esses medicamentos não eram utilizados. Eram adquiridos e ficavam em estoque por muitos anos ali até o vencimento. Encontramos também indicação de que havia pagamentos por medicamentos que não eram entregues. Eram notas fiscais muitas vezes falsas, e aí havia o pagamento. Encontramos também situações de que o estoque do hospital servia ao interesse da empresa”, destacou.
A operação resultou na implementação de 26 ordens de sequestro/bloqueio de bens e valores no montante de R$ 3.843.552,50, relacionado à propina paga no período.
"Nós investigamos hoje nesse inquérito cinco grupos empresariais que foram objeto de buscas e apreensão. Os bloqueios ocorreram na ordem de R$ 3,8 milhões, porque é o valor que a investigação apontou como pagamento de propina. Ficamos inclusive, com base em bilhetes e manuscritos encontrados na primeira fase da operação, que as empresas faziam o pagamento na ordem de 10% de tudo que recebiam. Por isso, esse valor bloqueado hoje é exatamente o valor que nós calculamos que foi o valor pago de propina", detalhou o delegado.
De acordo com Damasceno, são 15 pessoas investigadas que estão ligadas as cinco empresas alvo da operação, mas o número pode aumentar, uma vez que a investigação continua.
“Estamos investigando várias empresas. Superam aí 15 pessoas que são proprietários, sócios das empresas. Alguns a gente acredita que são laranjas e, por isso, a investigação vai evoluir, amadurecer para definir quem, de fato, era empresa, laranja e quem não é”, finalizou.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que o servidor foi exonerado na Operação Manuscrito, deflagrada em 2024. Segundo a pasta, foi realizada uma auditoria interna na unidade hospitalar para tornar mais eficientes e transparentes os processos de compras da Central de Compras e estoque da Farmácia do hospital.
Além disso, as empresas envolvidas no caso estão respondendo processos administrativos junto à Secretaria de Estado de Controle e Transparência.
“A Sesa reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade que regem a gestão pública, colocando-se à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com a investigação em curso, fornecendo todas as informações e documentos necessários”, informou a pasta.
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