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Servidor recebia 10% para desviar remédios de hospitais do ES, diz PF

Servidor recebia 10% para desviar remédios de hospitais do ES, diz PF

Investigações apontam que valor referente à pagamento de propina é de mais de R$ 3,8 milhões; mecanismo executado por grupos empresariais com participação de um servidor público foi revelado nesta quinta-feira (13)

Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 13:56

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Os grupos empresariais investigados pela Polícia Federal no âmbito da Operação Anomia, realizada nesta quinta-feira (13), desviavam medicamentos de hospitais públicos do Espírito Santo. O esquema era possível com o auxílio de um servidor público que recebia 10% de propina. Os nomes dos envolvidos e das unidades hospitalares não foram divulgados pela corporação.

De acordo com o delegado Arcelino Vieira Damasceno, a empresa fazia a venda de determinado medicamento, o entregava e o incorporava à farmácia do hospital. Logo depois, revendia o mesmo produto a outra unidade hospitalar e o retirava do estoque do primeiro hospital.

“O empresário recebia duas vezes do Estado. Vendia no primeiro momento, entregava, e a segunda venda ele retirava do hospital e levava até o segundo contrato dele. O Hospital Infantil de Vitória foi detectado nessa situação. As investigações vão continuar, porque o foco atual é exatamente o foco nos empresários que tinham vários contratos. A gente precisa ainda amadurecer um pouco mais de investigação para afirmar quais outros hospitais foram afetados.”

Usavam hospitais como estoques das empresas

Durante as apurações, foram colhidos indícios de que, com a conivência do servidor público, os empresários usavam a central de abastecimento farmacêutico do hospital como extensão de seus estoques, retirando materiais para vender novamente a outros clientes.

Conforme explicou Damasceno, algumas empresas eram contratadas para fornecer medicamentos que, muitas vezes, o hospital não precisava.

“Eram medicamentos que a empresa precisava vender e, por isso, havia a indicação deles, e o hospital fazia a aquisição desses medicamentos muitas vezes sem necessidade. Por que afirmamos que não havia necessidade? Porque esses medicamentos não eram utilizados. Eram adquiridos e ficavam em estoque por muitos anos ali até o vencimento. Encontramos também indicação de que havia pagamentos por medicamentos que não eram entregues. Eram notas fiscais muitas vezes falsas, e aí havia o pagamento. Encontramos também situações de que o estoque do hospital servia ao interesse da empresa”, destacou.

Medicamentos eram desviados de um hospital para o outro no Espírito Santo
Medicamentos eram desviados de um hospital para o outro no Espírito Santo. (Polícia Federal)

 R$ 3,8 milhões em propina

A operação resultou na implementação de  26 ordens de sequestro/bloqueio de bens e valores no montante de R$ 3.843.552,50, relacionado à propina paga no período.

"Nós investigamos hoje nesse inquérito cinco grupos empresariais que foram objeto de buscas e apreensão. Os bloqueios ocorreram na ordem de R$ 3,8 milhões, porque é o valor que a investigação apontou como pagamento de propina. Ficamos inclusive, com base em bilhetes e manuscritos encontrados na primeira fase da operação, que as empresas faziam o pagamento na ordem de 10% de tudo que recebiam. Por isso, esse valor bloqueado hoje é exatamente o valor que nós calculamos que foi o valor pago de propina", detalhou o delegado.

De acordo com Damasceno, são 15 pessoas investigadas que estão ligadas as cinco empresas alvo da operação, mas o número pode aumentar, uma vez que a investigação continua.

“Estamos investigando várias empresas. Superam aí 15 pessoas que são proprietários, sócios das empresas. Alguns a gente acredita que são laranjas e, por isso, a investigação vai evoluir, amadurecer para definir quem, de fato, era empresa, laranja e quem não é”, finalizou.

O que diz a Sesa

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que o servidor foi exonerado na Operação Manuscrito, deflagrada em 2024. Segundo a pasta, foi realizada uma auditoria interna na unidade hospitalar para tornar mais eficientes e transparentes os processos de compras da Central de Compras e estoque da Farmácia do hospital.

Além disso, as empresas envolvidas no caso estão respondendo processos administrativos junto à Secretaria de Estado de Controle e Transparência.

“A Sesa reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade que regem a gestão pública, colocando-se à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com a investigação em curso, fornecendo todas as informações e documentos necessários”, informou a pasta.

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