O advogado do pai e da madrasta do menino Isack Miguel Felizardo dos Santos, de 2 anos, encontrado morto no dia 25 dentro da casa onde morava, em São Mateus, no Norte do Espírito Santo, disse que os clientes estão "surpresos" e formam um "casal carinhoso".
A criança deu entrada no Hospital Roberto Silvares oito vezes ao longo dos últimos meses. De acordo com a Polícia Civil, as internações podem ser consequência das agressões que a criança vinha sofrendo.
Alex Seraphim dos Santos, de 29 anos, e Yara Miguel Aguiar, de 22, foram presos na segunda-feira (30). "Eles estão desacreditados do que estão falando porque eles sempre foram, nas alegações deles, um casal amoroso, sempre foram um casal que prestou assistência aos filhos, que foram os provedores dos filhos. Então, eles estão bem surpresos", contou o advogado Rafael Rodrigues Garcia.
"A princípio vamos fazer um pedido de revogação da prisão preventiva porque a gente não concorda com a decisão. O casal sempre colaborou e não apresenta risco à sociedade", explicou o advogado.
O pai sempre acompanhava o menino no hospital nesses oito atendimentos, segundo os prontuários médicos fornecidos à polícia e que a reportagem teve acesso. Os motivos dos atendimentos foram lesões nos braços e no ombro, quebra de cotovelo e infecção no ouvido.
No dia 26 de agosto de 2021, o menino deu entrada no hospital com luxação no punho. Em 17 de janeiro deste ano, foi uma lesão no cotovelo. No dia 18 do mesmo mês, o menino voltou com inflamação na pele por causa do gesso. No dia 30 de janeiro, outra lesão no cotovelo. Dois dias depois, em 1º de fevereiro, o menino apareceu com uma lesão no ombro. Em 3 de abril, havia sinais de infecção na orelha esquerda. No 6 de abril, o menino tinha uma lesão na cabeça que, segundo o pai, foi provocado por queda.
A última vez que a criança deu entrada no hospital foi no dia 24 de abril. Ele teve uma infecção no ouvido e ficou internado por 11 dias. Segundo uma testemunha, o pai teria agredido a criança assim que ela tinha saído de uma cirurgia, dentro do hospital.
Vinte dias depois de sair do hospital, o menino acabou morrendo.
A direção do Hospital Roberto Silvares informou em nota que "em caso de constatação evidente de paciente violentado os órgãos competentes são imediatamente acionados".
"No caso do paciente Isack Miguel, diante da suspeita de possível maus-tratos, na penúltima entrada da criança na unidade hospitalar (em 3 de abril), o serviço especializado e o serviço social de referência municipal foram acionados para acompanhamento do caso - conduta prevista no processo de trabalho estabelecido junto aos municípios. A direção destaca que está à disposição dos órgãos competentes para colaborar com a investigação do caso", diz a nota divulgada pelo hospital.
O laudo cadavérico de Isack concluiu que a causa da morte do menino seria traumatismo craniano. "Quem acompanhou a necropsia disse que foram três edemas na cabeça da criança. Um do lado direito, um do lado esquerdo e um na parte posterior do crânio", detalhou o titular da DHPP de São Mateus, delegado Isaac Gagno.
Segundo ele, as internações, somadas aos laudos dos exames, indicam que o pai e a madrasta "agiam com agressão constante, que resultou na morte da criança".
"Durante as diligências, descobrimos que as agressões ocorriam diariamente e que a criança chegou a ser internada oito vezes. Fato este que foi comprovado com o resultado do exame cadavérico", contou o titular da DHPP de São Mateus, delegado Isaac Gagno.
Após os resultados dos exames, foi solicitado um mandado de prisão preventiva, que foi expedida pelo Poder Judiciário e cumprido nesta segunda. Os suspeitos tentaram se esconder na casa da mãe da madrasta, mas foram localizados e presos. O Conselho Tutelar informou que outras duas crianças que moravam com o casal estão sob os cuidados da Justiça.
De acordo com a Polícia Militar, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado pela madrasta depois que a criança não acordou. O pai do menino disse aos policiais que estava trabalhando quando foi avisado sobre a morte do filho e que a criança estava com vida quando ele saiu de casa. Já a madrasta contou que, ao tentar acordar o enteado, o menino não respondeu. Ela retirou a coberta de cima dele e o viu com lábios pálidos.
Segundo relatório do Samu, Isack estava com traumas em partes do corpo como cabeça, braço, tórax, no rosto, olhos e boca.
A família disse aos policiais que o menino era uma criança agitada e que os machucados não são de maus-tratos. O pai e a madrasta da criança prestaram depoimento na delegacia, na manhã do dia 26, mas não quiseram falar com a reportagem.
*Com informações de Rosi Bredofw, da TV Gazeta, e do g1/ES
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