O homem suspeito de dar golpes em universitários que contratavam serviços para realização de festas de formaturas fez ao menos 120 vítimas no Espírito Santo, além de causar um prejuízo de mais de R$ 1 milhão. Luís Carlos Vieira Júnior, de 39 anos, foi preso neste domingo (13) enquanto participava de um campeonato de jiu-jitsu em Vitória. A Polícia Civil acredita que mais estudantes pode ter sido prejudicados por Luís.
De acordo com o delegado Douglas Vieira, da Delegacia de Defraudações (Defa), foram 11 comissões de formatura de quatro universidades diferentes lesadas por Luís Carlos. Ele apontou que o número de vítimas já chegou a mais de 120, mas que mais estudantes foram lesados, mas que ainda não representaram criminalmente contra o acusado.
"O número é maior, mas muitos optaram por representação cível. E, como o estelionato depende de representação, já passou os seis meses, então, a gente sempre recomenda à população: se tem dúvida, faça o boletim, mencione representação criminal. Isso quer dizer que está dando autorização para que nós possamos investigar", disse.
Douglas Vieira ainda fez uma recomendação para os universitários que contratarem empresas especializadas em festas de formatura: caso o contrato não seja cumprido, é importante procurar uma delegacia para que a polícia possa investigar se trata-se de um golpe.
"Se você tem uma comissão de formatura, o ideal é: faça uma conta em nome da comissão de formatura e faça os depósitos somente nessa conta. A gente aconselha que somente o presidente da comissão tenha o poder de geri-la. Não recomendamos depositar em nome de empresas. Ele pedia para depositar na conta da empresa dele, que ele usava para gastos pessoais, contas de terceiros - o nome dele estava negativado, então ele não conseguia abrir conta em banco. Não façam isso", destacou o delegado.
Douglas Vieira explicou que Luís Carlos começou a atuar no setor de festas de formatura em 2015, firmando uma parceria com uma grande empresa do ramo. De acordo com o delegado, essa empresa - que não teve o nome revelado - agiu de boa fé e até ajudou algumas das vítimas. Em 2017, porém, a parceria foi desfeita e Luís Carlos acabou comprando parte da empresa, mas não pagou o valor total da negociação.
"Ele ficaria responsável pela parte de formaturas e aí começou a finalizar contratos. Em 2017, o administrador dessa empresa ficou insatisfeito com alguma postura dele, porque ele não vinha cumprindo com as obrigações contratuais, então ele resolveu desfazer a parceria. Nesse momento, o Luís Carlos fez uma proposta de compra de parte da empresa, o que foi aceito. Ele adquiriu essa parte da empresa por R$ 200 mil e ficou de pagar parcelado, mas pagou apenas duas parcelas e não pagou mais o restante. Ele queria ficar com todos os contratos e a clientela. Foram feitos vários aditivos nesses contratos de formatura e ele passou a ter a responsabilidade", narrou o delegado.
A partir daí, Luís Carlos começou a aplicar os golpes. As investigações da Polícia Civil apontaram que ele negociava um valor que variava de R$ 6 mil até R$ 20 mil por aluno pelo pacote completo e chegava a de fato fazer algumas das festas combinadas, mas não cumpria com todas as obrigações.
Segundo Douglas Vieira, o golpe foi constatado por uma das comissões, que cobrou os convites da formatura e descobriu que, além de não pagar pela confecção dos convites, Luís Carlos também não havia feito o pagamento de decorador, cerimonial e outros encargos. Ao todo, segundo Douglas Vieira, foram registrados nove inquéritos policiais na Defa.
"O ponto de partida foi nos convites. Uma comissão não recebeu os convites e aí percebeu que ele não pagou nada. Essas comissões interagem entre elas, e aí o presidente de uma comissão conversava com o presidente da outra e aí começaram a ir na delegacia", disse.
As investigações da Polícia Civil apuraram que Luís Carlos utilizava o dinheiro arrecadado com o pagamento mensal dos estudantes para gastos pessoais - chegando a consumir uma bebida avaliada em R$ 1,8 mil - e, por isso, não conseguir honrar os compromissos acertados nos contratos. No segundo semestre de 2019, inclusive, ele fez uma viagem para a China, onde ficou entre os meses de julho e dezembro.
"Em 2019, no segundo semestre, ele viajou para a China. Foi para Macau, Hong Kong, assistiu a eventos de MMA, eventos automobilísticos, jogos de tênis. Ele mencionou para nós que foram amigos que deram passagem, moradia. Ele, depois, usou a crise da pandemia para não honrar os compromissos", contou o delegado.
Luís Carlos Vieira Júnior vai responder pelo crime de estelionato e pode receber penas de até cinco anos de prisão para cada golpe aplicado. Contra ele, segundo o delegado Douglas Vieira, há dois mandados de prisão e quatro ações penais em tramitação, sendo três em Vitória e uma em Cariacica, referentes aos golpes.
Em nota, os advogados Pedro Ramos e Iury Baioco, que fazem a defesa do acusado, afirmaram que vão provar a inocência de Luís Carlos durante o processo e que, por ora, apresentarão um pedido de liberdade, já que "o decreto prisional não preenche os requisitos autorizadores da prisão preventiva".
Os advogados de defesa de Luís Carlos Vieira Júnior enviaram uma nota sobre o caso no final da tarde desta quinta-feira (17). O texto foi atualizado.
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