O empresário Rainy Butkovsky, pai biológico de Kauã Salles Butkovsky, foi preso por desacato após audiência realizada nesta terça-feira (19), em Linhares, região Norte do Espírito Santo. Rainy e familiares estavam desde cedo no local para acompanhar a audiência de instrução que interrogou, pela primeira vez, os pastores Juliana Salles e Georgeval Alves, acusados pelos assassinatos dos irmãos Kauã e Joaquim.
Ao fim da audiência, por volta das 15h30, houve uma discussão entre Rainy e o juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude, Carlos Abad, do lado de fora do Fórum de Linhares, e foi dada a ordem de prisão. O juiz não tem relação com a audiência do caso dos irmãos mortos, e a motivação da confusão ainda não completamente esclarecida.
Rainy resistiu à detenção, o advogado dele chegou a colocá-lo dentro de um carro, e o juiz reforçou aos policiais militares presentes que foi dada a ordem de prisão. O empresário continuou resistindo à prisão e chegou a correr na região do fórum, mas acabou imobilizado por policiais e detido. Ele foi levado para a Delegacia Regional de Linhares. O empresário foi autuado por desacato e ameça, e permanece preso.
VEJA VÍDEO DA CONFUSÃO
O QUE DIZ O JUIZ SOBRE CONFUSÃO
Em entrevista à reportagem do Gazeta Online, o juiz disse que saiu do fórum para checar uma confusão que ouvia do lado de fora, e que viu Rainy e outros companheiros dele chutando um veículo de cor prata, usado pelos advogados e pela pastora Juliana, ameaçando as pessoas de morte.
"Eu estava presidindo a minha audiência no Tribunal do Júri, quando ouvi um burburinho do lado de fora. Saí para ver do que se tratava e vi uma pessoa cercada de vários companheiros, e ele (Rainy) estava chutando um carro prateado e ameaçando de morte as pessoas que o estavam vendo. Fiquei parado observando, essa pessoa (Rainy) passou por mim com olhar ameaçador, andou 20 metros, parou, virou, olhou para mim novamente e começou a dizer: 'Não é só você que tem arma não'. Eu continuei olhando para ele, não sabia nem quem ele era. Quando ele olhou para mim de novo e disse: "É você mesmo' e colocou a mão na região da genitália e balançou. Dei voz de prisão a ele", afirmou o juiz Carlos Abad.
O QUE DIZ A DEFESA DE RAINY
O advogado Síderson Vitorino diz que a prisão não tem legalidade e que o juiz levou a erros os policiais militares que faziam a segurança do fórum. "Não há nem que se fazer defesa hoje aqui porque não existiu crime". Veja na íntegra:
"Estão sendo ouvidas ainda algumas das partes envolvidas. Logo após nós vamos fazer a nossa representação contra o juiz e espero que meu cliente não fique custodiado porque não tem qualquer tipo de legalidade na voz de prisão emanada do juiz, o que levou inclusive a erro os PMs que estavam ali fazendo a segurança do local. O juiz induziu a erro os PMs, dizendo que houve desacato à autoridade. Esta foi a argumentação dele. Por isso o juiz deu voz de prisão, mas para que exista desacato, tenho que produzir um descumprimento de ordem ou um ultraje à pessoa em função do cargo. Isso quer dizer que se, em uma hipótese, eu colidir contra o carro do juiz, no trânsito, ali não existe desacato, porque ali são dois motoristas. Se eu encontro com um policial na feira e ali existe um entrevelo entre nós dois, por conta de alguma coisa do cotidiano, não existe desacato porque ali são duas pessoas iguais, pares. E não existiu também desacato hoje porque Rainy entendeu que aquele senhor que estava ali, trajando calça jeans e camiseta, era um dos seus pares, que estava ali passando pela rua. Não foi dentro do ambiente do Fórum. Ele não desacatou um juiz dentro do Fórum. Insurgiu contra ordem de uma pessoa que ele não sabia quem era e nem poderia pressupor, que estava de calça jeans e camiseta do lado de fora do Fórum. Não há nem que se fazer defesa hoje aqui porque não existiu crime, meu cliente não cometeu nenhum tipo de crime. Se ele tivesse cometido crime, aí sim poderia se falar em defesa. Mas o que nós estamos fazendo aqui na delegacia é produzir uma representação contra o magistrado".
A AUDIÊNCIA
A audiência sobre a morte dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Salles Alves, de 3 anos, que morreram queimados em abril de 2018, foi realizada nesta terça-feira (19) no Fórum Desembargador Mendes Wanderley, em Linhares.
Os pastores Georgeval Alves e Juliana Sales foram interrogados pela primeira vez. Desde o início do processo, os dois apenas acompanhavam os depoimentos.
Durante a manhã, duas das três testemunhas previstas para prestar depoimentos foram ouvidas. Uma terceira testemunha, que era voluntária, não compareceu à audiência. Na parte da tarde, Georgeval foi o primeiro a ser ouvido, seguido de Juliana.
De acordo com o advogado Síderson Vitorino, que atua como assistente de acusação, os réus se recusaram a responder as perguntas da acusação e do Ministério Público. Os pastores responderam apenas perguntas pré-definidas pelos advogados deles.
Até o momento mais de 30 testemunhas já foram ouvidas pelo juiz responsável pelo caso. Encerrado os interrogatórios, inicia-se os debates entre defesa e acusação, para que só então o juiz decida se os pastores Georgeval Alves e Juliana Sales irão ou não a Júri Popular.
A audiência terminou por volta das 15h30 desta terça-feira (19). Vídeo mostra a saída dos pastores. Assista:
MÃE DE RAINY QUESTIONA A JUSTIÇA
A mãe de Rainy, Marlúcia Butkovsky questionou a atuação do juízes e pediu novamente por justiça após a prisão do filho. Para ela, não houve motivo que justificasse a ação. Que juízes são esses que não estão a favor da sociedade? Porque desde cedo mandaram tirar nossas faixas. Nós estamos aqui pedindo justiça por duas crianças que foram mortas por um pai e um padrasto e por uma mãe omissa. Ela está solta e o meu filho está preso. Que justiça é essa?, declarou a avó do menino Kauã.
O CRIME
Georgeval é acusado pela Polícia Civil de ter estuprado, agredido e queimado vivos os irmãos Kauã e Joaquim, na madrugada do dia 21 de abril do ano passado. O crime aconteceu na casa onde a família morava, no Centro de Linhares. Na ocasião, Juliana estava em Minas Gerais, onde participava de um congresso de dança profética da igreja. Ela fez a viagem com o filho mais novo do casal e deixou os filhos mais velhos com o marido. O pastor é pai de Joaquim e padrasto de Kauã.
Apesar de não estar na casa quando as crianças foram mortas, Juliana foi indiciada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por conduta omissiva. Para a promotoria, a pastora sabia dos riscos de deixar os meninos com George. Ela chegou a ser presa em duas ocasiões, mas conseguiu um novo mandato de soltura no último dia 30. Desta vez, a Justiça determinou diversas regras e ela não pode sair de Linhares, domicílio onde aconteceu o crime.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta